Um contexto religioso e cultural diferente faz com que 90% das futebolistas no campeonato feminino da Árabia Saudita optem por jogar com o corpo coberto, algo que o treinador Luís Andrade entende não interferir com o desempenho.
O treinador português, de 50 anos, vive uma realidade diferente na Arábia Saudita, onde chegou há dois meses para treinar o Al-Qadisiyah, mas já se habitou aos costumes, com muitas das suas jogadoras, devido à religião, jogarem com um hijab [a cobrir o cabelo, orelhas e pescoço] e outras a taparem igualmente as pernas e os braços.
“Nem todas, mas basicamente 90% jogam com as pernas tapadas, com os braços tapados. Algumas não jogam com lenço no cabelo. Algumas jogam, outras não jogam, mas isto depende também da própria religião das atletas”, sublinhou à agência Lusa.
Um cenário que não interfere no trabalho desenvolvido, que diz continuar a ser idêntico.
“Estamos aqui e temos de aceitar essas regras, essa ideia de a jogadora árabe ter de jogar toda tapada. Não vejo qual o problema, podemos desempenhar um bom trabalho com os atletas. Mas pronto, temos de respeitar sempre”, acrescentou.
Mesmo a presença de público nos estádios torna-se um fenómeno normal, contrariando outros tempos, a partir do momento em que essa abertura se tornou possível em 2018, no mesmo ano em que as mulheres também puderam começar a conduzir.
“Não vejo distinção nenhuma em relação à mulher em ver os jogos”, revelou o treinador, explicando que existem muitas pessoas nas bancadas e que os jogos são transmitidos, permitindo que sejam vistos pela televisão.
Para Luís Andrade, este é um projeto de grande satisfação pessoal, num país de mudanças, com grande curiosidade em adquirir conhecimento.
"No passado era difícil para a mulher poder jogar futebol. Todos nós sabemos, e até ir ver jogos, quanto mais jogar futebol. Esta mudança de comportamento fez com que a mulher tivesse a curiosidade de experimentar jogar futebol. Eu posso dizer que muitas atletas que já participaram nestes quatro jogos nunca tinham jogado. E o mais engraçado, porque faz parte do trabalho, é a evolução delas de jogo para jogo. Faz com que a gente trabalhe mais, se esforce mais, para que elas aprendam e consigam fazer aquilo que nós pretendemos. E é um trabalho aliciante, é um trabalho que eu estou a adorar fazer", concluiu.
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