O Deportivo Guadalajara vive um momento conturbado no grupo XVIII da terceira divisão do futebol espanhol. O clube atravessa uma grave crise económica e não paga salários desde outubro. Alguns jogadores estão a viver situações dramáticas e querem rescindir, mas o clube não deixa. É o caso do maliano Moussa Sidibé, jogador que expôs o seu caso, na tentativa de obter ajuda.
Num longo comunicado, Sidibé acusa o clube de não pagar nem o salário (que não recebe desde outubro de 2017) nem os prémios de jogo. O jogador solicitou a rescisão de contrato, mas o Guadalajara não o deixa sair. O clube recomendou-o a pedir ajuda aos amigos para comer, enquanto não receber.
Eis o comunicado de Sidibé
"Pela presente, quero denunciar publicamente a situação insustentável que estou a viver no Deportivo Guadalaraja. Sou de origem maliana, mas vivo em Espanha desde os meus nove anos (atualmente tenho 22). Os meus pais vivem em Espanha há muitos anos. Trabalham com honra e honestidade na agricultura para ajudar a família e poder dar um futuro melhor aos filhos. Tenho dois irmãos pequenos.
Por estar a jogar longe de casa, os meus pais tiveram de contratar uma senhora para poder levar-lhes e ir buscar os filhos à escola, já que saem de casa às cinco da manhã para irem trabalhar.
Ante a irregularidade com os salários em atraso no Guadalajara (o último mês que recebi foi o de outubro de 2017 e nunca me pagaram os prémios de jogo desde o início da temporada), pedi a rescisão de contrato tanto ao presidente como ao treinador, depois de lhes explicar a minha situação familiar, já que os meus pais não conseguem enviar-me dinheiro todos meses. Estou a viver uma situação crítica.
Depois de me ouvirem, ambos me disseram que não me dariam a rescisão e que tenho de continuar a treinar e jogar porque tenho contrato com o clube. Expliquei-lhes que não tenho dinheiro para comer e disseram-me para pedir ajuda aos meus amigos. Nem sequer se preocupam em dar-me o mínimo dos mínimos, as minhas necessidades básicas. Sou um apaixonado pelo futebol e gostaria de continuar a jogar. Estou disposto a perdoar a dívida e esquecer de uma vez este pesadelo. Tenho clubes interessados nos meus serviços, capazes de me darem estabilidade económica para continuar a disfrutar deste desporto e para deixar de ser um fardo para os meus pais.
Peço ajuda face a uma situação que me pode custar a vida, porque a minha cabeça não para de dar voltas, dia e noite. Sinto-me um escravo. Não me deixam abandonar um clube que não cumpre a sua parte do contrato. Talvez se morrer à fome possa ser livre... Onde está a liberdade? Peço publicamente ao Guadalajara a minha liberdade, assim como a intervenção da Real Federação Espanhola de Futebol e a Associação de Futebolistas Espanhóis. Além de não me pagarem o meu salário, querem impedir-me de jogar futebol. Pois que assim seja, mas ao menos deixem-me ir para casa com orgulho, para tomar conta dos meus irmãos. Assim os meus pais terão menos um gasto e poderei ser feliz junto dos que me amam".
Moussa Sidibé é extremo esquerdo e foi internacional sub-21 pelo Mali. Jogou ainda no CD Ebro, Benferri CF e Ibiza UD.
O Guadalajara está à beira da falência devido a uma dívida a Carlos Pérez Salvachúa, ex-treinador do clube, e Jorge Martín, ex-capitão do emblema de Castilla La Mancha.
Comentários