Em dezembro de 1974, Portugal festejava ainda os primeiros meses de liberdade, após o golpe militar do 25 de abril que derrubou a ditadura e no país vizinho, uma gripe devastava o País Basco. Mas nem por isso deixou de haver futebol. O surto foi ignorado pelas autoridades e isso foi fatal.
Em pleno inverno e quase na viragem do ano, a gripe estava a fazer mais vítimas que o normal em Bilbao. E no dia 29 de dezembro, o Athletic Bilbao recebeu no San Mamés o Real Madrid, clube que liderava a Liga Espanhola com quatro pontos de vantagem sobre o Espanyol ao cabo de 13 jornadas. Os bascos lutavam para fugir aos lugares de descida.
Escreve o jornal 'El Pais', citando a imprensa da época, que quase 45 mil pessoas encheram a Catedral, a maior parte deles de pé, acantonadas na zona mais barata do estádio. A equipa da casa viria a vencer por 1-0.
Dois dias depois do jogo, o jornal 'La Gaceta del Norte' dava conta da morte de 420 pessoas nas duas últimas semanas em Bilbao por causa da gripe, a uma média de 30 por dia. "Nem os mais velhos se recordam de algo assim. Na agência funerária da Casa da Misericordia não tem tido mãos a medir. [...] Nem na gripe de 1952-53 tiveram tanto trabalho. Naqueles tempos, a doença provocou 18 mortes por dia mas, nestas semanas os números dispararam para 30 falecimentos por dia", escreveu o jornal, na altura.
Com as autoridades políticas em silêncio e sem medidas preventivas das autoridades sanitárias, o gerente da funerária mostrava-se muito preocupado com a situação. Questionado pelo jornalista da 'Gaceta del Norte' sobre os motivos para tantos mortos, respondeu:
"Parece que um número elevado de vítimas tem origem na gripe, que afeta sobretudo os mais velhos", atirou.
Na altura, relata o 'El Pais, por toda a Espanha havia relatos de muitos mortes devido a gripe. Mas a vida continuava como normal.
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