A 5.ª jornada da Liga das Nações arranca esta quinta-feira, mas os olhos do Mundo vão estar em Paris, para o que poderá acontecer extra-campo no França-Israel. Este será mais do que um jogo de futebol, depois dos incidentes com adeptos do Maccabi Telavive na última quinta-feira em Amesterdão, num jogo para a Liga Europa.
O jogo, classificado "de alto risco", será disputado no Stade de France, e contará com cerca de quatro mil agentes da autoridade, no recinto, nas imediações e nos transportes, assim como aproximadamente 1.600 agentes do corpo de intervenção. O objetivo do elevado dispositivo de autoridade é contar com elementos de segurança ao redor do estádio e dentro, bem como nos transportes públicos da cidade, numa ação que contará também com uma unidade de elite junto da seleção israelita.
Devido às medidas de segurança, o jogo terá uma assistência abaixo da média: apenas 20 mil bilhetes foram colocados à venda.
5600 polícias destacados
Laurent Nuñez, responsável pela polícia de Paris, assume que o número de efetivos "corresponde a um dispositivo reforçado" e "pouco habitual" para um jogo de caráter internacional, mas tendo em conta que se trata de um encontro classificado como de "alto risco", num contexto geopolítico "muito tenso", era preciso medidas extremas de segurança.
"Haverá controle duplo, com um perímetro de segurança anti-terrorista à volta do estádio", destacou Laurent Nuñez.
O dispositivo de segurança prevê o encerramento do comércio em redor do estádio a partir das 15h45 locais, 14h45 de Portugal continental. Uma medida que afetará o sector hoteleiro e da restauração, mas também lojas e escritórios de serviços perto do recinto do jogo.
A decisão de aumentar o dispositivo de segurança acontece na sequência dos confrontos nos Países Baixos na semana passada.
Na noite de 07 para 08 de novembro, após um jogo da Liga Europa entre o Ajax Amesterdão e o Maccabi Tel Aviv, os adeptos israelitas foram perseguidos e espancados nas ruas de Amesterdão. Segundo a polícia, os atacantes foram mobilizados por apelos nas redes sociais para agredirem judeus.
Os ataques, descritos como antissemitas por Israel e pelas autoridades holandesas em particular, provocaram 20 a 30 feridos, dos quais cinco hospitalizados por breves instantes, e provocaram indignação em muitas capitais ocidentais.
Mas antes do jogo que o Ajax venceu por 5-0, os adeptos do Maccabi Telavive já tinham causado distúrbios, como mostram vários vídeos que circulam nas redes sociais. Alguns adeptos do clube israelita entoaram cânticos islamofóbicos e racistas contra os árabes, subiram fachadas de prémios para derrubar bandeiras da Palestina, além de agressões a taxistas de origem árabe.
Manifestação pró-Palestina e manifestação de Movimento judaico de direita preocupam autoridades
As autoridades francesas estão preocupadas com o que poderá acontecer no dia de hoje. Um movimento judaico internacional de direita convocou uma manifestação antissemitismo para quarta e quinta-feiras, em Paris, antes do França contra Israel. O movimento judaico Betar, que dispõe de várias filiais em todo o mundo e que conta entre as suas fileiras com membros radicais, prevê juntar-se ao Movimento de Estudantes Judeus Francês (MEFJ).
"Estamos escandalizados pelo que se passou em Amesterdão e pela reação dos governos. Somos sionistas orgulhos e não vamos pedir desculpa [...]. Vamos manifestar-nos em Paris na quarta-feira e na quinta-feira no jogo de futebol que está igualmente ameaçado por 'jihadistas'", afirmou o presidente do Betar global, Yigal Brand, citado em comunicado.
A manifestação foi aprovada pela polícia parisiense e aconteceu mesmo dia (quarta-feira) em que decorreu a gala 'Israel forever', um evento de apoio a Israel organizado por diversas personalidades de extrema-direita, que deve receber este ano em Paris o ministro israelita das Finanças, Bezalel Smotrich.
Associações, sindicatos e partidos de esquerda denunciaram a organização da gala, criticando particularmente a presença de Smotrich. O chefe de polícia, Laurent Nuñez, deu entretanto o seu acordo à realização da gala. Apesar de a organização EuroPalestine ter pedido a anulação da decisão do responsável policial, o tribunal administrativo decidiu não haver razão para proibir a gala.
Outra manifestação contra o "holding franco-israelita" marcada para hoje em Saint-Denis, a menos de dois quilómetros do Stade de France é motivo de preocupação. A imprensa francesa avança que as autoridades continuam em negociações com os organizadores para que a mesma seja desviada para outro local, de forma a evitar possíveis confrontos.
Deschamps fala em "contexto pesado e opressivo", Macron vai estar no estádio
O ambiente tenso que rodeia o encontro não passa despercebido aos jogadores e às equipas técnicas. A seleção de Israel chegou escoltado por um corpo de elite da polícia israelita e instalou-se num hotel em Val-d'Oise. Todos os que andam pela zona são obrigados a identificar-se e só os clientes podem aceder ao hotel.
Para o selecionador francês, Didier Deschamps, é uma pena que este jogo sema disputado num "contexto pesado e opressivo" por estar rodeado de medidas de seguranças excecionais devido ao conflito no Médio Oriente.
"Tentámos preparar-nos com tanta normalidade quanto possível. Obviamente, dentro do grupo, ninguém pode ser insensível ao contexto, que é pesado. Isto traz consequências em termos do número de pessoas a ver o jogo e tudo o disso advém. Temos de fazer por manter isto só um jogo de futebol, apesar de tudo", disse o técnico, na conferência de imprensa de antevisão do encontro.
Já o selecionador israelita, Ran Ben Shimon, admitiu que a preparação dos jogos é afetado pelo contexto de guerra que o país vive.
"Não podemos utilizar a palavra difícil. Difícil é para as pessoas que estão a combater em Israel para trazer paz aos nossos filhos e pelo nosso futuro. Isso é difícil. Não quero usar esta situação para preparar uma justificativa porque sou um desportista. Quando não estamos a jogar, é muito difícil como seleção nacional ouvir notícias más sobre Israel. Isso afeta-nos muito. Quero estar preparado para fazer o melhor jogo possível e ajudar a suavizar um pouco o que acontece em Israel. Sei que vai ser muito difícil", garantiu.
O presidente francês, Emmanuel Macron, é um dos 20 mil espetadores que vai assistir ao jogo. Uma decisão que, segundo o gabinete presidencial, pretende "enviar uma mensagem de fraternidade e solidariedade após os atos antissemitas intoleráveis que se seguiram ao jogo em Amesterdão esta semana".
Já as autoridades israelitas apelaram aos apoiantes de Israel para evitarem deslocar-se ao jogo de quinta-feira em Paris.
"O Conselho de segurança nacional recomenda aos israelitas no estrangeiro que tomem precauções [...] sobretudo na próxima semana, e que evitem totalmente os eventos desportivos e eventos culturais em que participem israelitas, nomeadamente o próximo encontro da equipa de Israel em Paris", lê-se no comunicado do organismo que funciona na dependência do primeiro-ministro.
O ambiente devido ao conflito que no Médio Oriente foi agravado pelos acontecimentos que ocorreram na noite de 07 para 08 de novembro, em Amesterdão. De recordar que em França vive uma grande comunidade muçulmana, além de muitos franceses de origem árabe.
*Com Lusa
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