O sonho da Atalanta caiu para lá do tempo extra, de forma cruel e dramática. A vencer aos 90 minutos, os de Bérgamo viram o PSG dar a volta nos descontos, com golos de Marquinhos e Choupo-Moting, depois de Pasalic ter dado vantagem aos italianos na primeira parte. O PSG está nas meias-finais, num jogo dramático, dividido e com incerteza até ao apito final.
Como não amar esta Atalanta! Este sonho de Bérgamo! Esta ideia de jogo de Gian Piero Gasperini, a fazer-nos lembrar o 'conto de fadas' do Ajax da época passada. A Atalanta é mais um dos muitos exemplos de que, no futebol, ter dinheiro não é tudo. No final, as boas ideias vencerão sempre. Mesmo que o resultado lhes seja desfavorável. Porque o futebol é um espetáculo. E neste espetáculo, tendemos a gostar mais dos que contribuem para tal.
Os olhos dos 1,1 milhões de habitantes da cidade da região da Lombardia, uma das mais fustigadas pela pandemia de COVID-19, estavam postos na televisão, desde o estádio da Luz, à procura de um motivo para sorrir nestes tempos sombrios, neste novo mundo. Lá longe, davam forças a Papu Goméz, a Sportiello, a Pasalic, a Zapata, a Malinovskyi. O sonho de conquistar a prova mais importante a nível de clubes continuava real e tinha alicerces sólidos.
Sempre no seu 3-4-2-1, a equipa tinha como missão afastar o super Paris Saint-Germain, eterno campeão de França, que tinha na sua equipa um jogador que, sozinho, ganha mais que todo o plantel da Atalanta: Neymar Jr.
Com Mbappé a voltar de lesão, Thomas Tuchel optou por deixar o velocíssimo avançado no banco, entrando com Icardi, Sarabia e Neymar na frente, e meio-campo de combate formado por Ander Herrera, Gueye e Marquinhos. Era importante travar a construção de jogo dos de Bérgamo, uma equipa que concentra vários jogadores na zona central, onde Papu Gómez, Passalic, Freuler e de Room dominam, com os laterais a darem profundidade mas também a procurarem zonas interiores para ajudar na superioridade numérica.
A entrada da Atalanta na Luz é de craque. Papu Gómez 'aqueceu' as luvas de Navas logo aos três minutos, após boa combinação atacante. O guarda-redes costa-riquenho seria uma das figuras do encontro, com intervenções de qualidade, a negar o golo a Atalanta em várias ocasiões. Destaque para uma defesa a remate de Hateboer aos 11, e para uma estirada fantástica para travar o golpe de cabeça de Caldara no minuto seguinte, na sequência de um canto.
Tuchel tinha anunciado na conferência de imprensa que muita da esperança parisiense estava em Neymar. E tinha razão: o brasileiro joga que se farta, tem um reportório de atributos técnicos que o permite descomplicar as jogadas difíceis ou arranjar espaço onde parece não haver. Mas a noite não era de Ney. Teve nos pés o 1-0 logo aos três minutos, ao aparecer isolado perante Sportiello mas, estranhamente, atirou para fora. Daquelas que Ney nunca desperdiça.
Aos 19 minutos, novamente o craque canarinho, a lançar Herrera mas o espanhol preferiu passar em vez de rematar.
A organização e coragem italianas iam travando os milhões do PSG. E dariam resultado aos 27, após desatenção da defesa francesa. Zapata ganhou o ressalto, conseguiu colocar em Pasalic que rematou de primeira, de pé esquerdo, fazendo um golaço.
Pedia-se reação parisiense, que surgiu no minuto seguinte, novamente por Neymar. Passou por Pasalic mas o seu remate saiu muito perto do poste. O ataque francês tinha um selo: Neymar. Aos 35, num livre direto, tentou enganar Sportiello mas o guardião da Atalanta resolveu com facilidade.
No segundo tempo Tuchel sabia que tinha de mudar algo. O super PSG não estava a conseguir superiorizar-se a Atalanta. Esperou 15 minutos até trocar o apagado Sarabia por Mbappé e, pouco tempo depois, Herrera e Gueye por Draxler e Leandro Paredes. Por esta altura já Gasperini tinha trocado Papu Gómez por Malinovskyi, Djimsiti por Palomino e Pasalic por Muriel. Antes de sair, o albanês Djimsiti teve nos pés o 2-0 mas o seu remate saiu ao lado, após canto largo.
As mexidas melhoraram o PSG, o jogo ficou dividido e a Atalanta com mais espaço para sair em transições. Aos 74, Sportiello travou o remate de Mbappé, aos 76 negou o golo a Neymar
Tuche foi obrigado a trocar de guarda-redes, retirando o lesionado Navas para colocar Rico. Lançou ainda Choupo-Moting no lugar de Icardi para os derradeiros 10 minutos, na tentativa de conseguir algo do jogo. E viria a colher frutos das mudanças.
Com Neymar e Mbappé em campo, o perigo era a dobrar para a baliza da Atalanta. O francês entrou com fome de golo e podia ter marcado novamente aos 80 minutos mas, isolado, permitiu o corte de Palomino. Tuchel estava desesperado no banco.
Com Castagne no lugar de Gossens e Riva no posto de Zapata, a Atalanta tentava sobreviver ao assalto à sua baliza nos derradeiros minutos mas não estava fácil. Choupo-Moting teve o empate na cabeça aos 86 mas o seu desvio saiu ligeiramente por cima. Draxler tentou de longe mas saiu para fora.
De tanto forçar que o empate saiu aos 90 minutos, num desvio de Marquinhos que ainda bateu num defensor antes de entrar, após um remate falhado de Neymar. O PSG empatava e o jogo parecia encaminhar-se para o tempo extra.
Só que aos 93, Choupo-Moting aproveitou um combinação entre Neymar e Mbappé para concluir à boca da baliza e fazer a reviravolta no marcador. Gasperni nem queria acreditar.
A derradeira oportunidade de empate surgiu aos 97 minutos mas, isolado, Muriel perdeu imenso tempo e depois a bola.
O PSG consegue finalmente passar dos 'quartos' da liga milionária, depois de tantos anos a tentar. Pela primeira vez nas meias-finais desde 1994/95, o Paris Saint-Germain vai defrontar o Atlético de Madrid ou o Leipzig, que se defrontam na quinta-feira no Estádio José Alvalade.
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