"Alguém falou em impossíveis?" Foi desta forma que Otamendi classificou a vitória do Benfica frente ao Barcelona. Não se trata, sejamos claros, de um impossível, mas sim de um desfecho até provável tendo em conta o momento das duas equipas. Por um lado um Benfica de vento em popa a nível interno, com sete vitórias consecutivas na Liga e liderança para já incontestada. Já os catalães ainda não conseguiram superar o trauma que resultou da saída de Messi (a grande figura da história do clube) e trabalham para superar a maior crise financeira de sempre. Os 'blaugrana' são apenas a sétima equipa do campeonato espanhol no que diz respeito ao teto salarial para esta temporada (6.ºs na classificação geral até ao momento). Ainda assim, trata-se de um triunfo robusto contra um gigante, um gigante adormecido, mas um gigante.

O Benfica acabou por não ter dó deste Barcelona, que soma agora 0 pontos nas duas primeiras jornadas da fase de grupos da Champions - registo inédito na história do clube blaugrana, seis golos sofridos e nenhum apontado. O Benfica é segundo classificado do Grupo E, com quatro pontos, ficando agora com fortes possibilidades de poder lutar pelo apuramento para os oitavos de final.  A equipa orientada por Jorge Jesus contribui ainda para agudizar ainda mais a crise do Barcelona e em Espanha já há quem classifique esta derrota como a sentença final de Ronald Koeman enquanto técnico do Barcelona.

Início de temporada de sonho

Há noites que podem roçar a perfeição e foi o que se passou na Luz com o Benfica. Aos encarnados aconteceu o melhor que pode acontecer frente a estas grandes equipas. Marcar cedo (Jesus utilizou o mesmo onze de Guimarães) para de algum modo fazer 'tremer o gigante'. O Barcelona, desfalcado, - com as ausência de Jordi Alba e Braithwaite, apareceu com quatro peças diferentes no xadrez: Saíram Gavi, Mingueza, Nico González e Coutinho e entraram Pedri, Araújo, Sergi Roberto e Frenkie.

A partida começou de feição, com Darwin a abrir o marcador, para a alegria dos adeptos, logo aos quatro minutos. Depois de uma grande jogada individual, mas que podia porventura ter sido melhor contrariada por Eric Garcia,  disparou para a baliza, batendo Ter Stegen. Mas o Barcelona não se ressentiu do golo sofrido. Pegou no jogo, chamou para si a posse, no fundo a génese do seu futebol. Com tabelas e circulação rápida entre Pedri e Frenkie de Jong, o Benfica teve de sofrer. Nessa fase, os catalães dispuseram de várias oportunidades, algumas delas salvas pela abnegação de Lucas Veríssimo. Na hora h, os catalães também demonstraram falta de confiança na hora de finalizar. Do meio para a frente, o Benfica transpirava solidez, com Weigl e João Mário no miolo a construir, Rafa e Darwin a rasgar e esticar o jogo e Yaremchuk na frente, inteligente na forma como recuava no terreno à procura de libertar e jogar para os colegas de equipa.

No segundo tempo, o jogo ficava mais à medida das transições dos encarnados, implacáveis na forma como conseguem imprimir velocidade. O segundo até podia ter chegado relativamente cedo na partida, numa saída extemporânea de Ter Stegen que Darwin quase aproveitou ao atirar ao poste. Koeman tentou alterar o curso dos acontecimentos, lançando o prodígio Ansu Fati e ainda Nico Gonzáles e Philippe Coutinho. Contudo, logo a seguir, o Benfica marcou o segundo, aos 69´. João Mário tabelou com Yaremchuk e apareceu na cara de Ter Stegen. Depois de uma primeira defesa, a bola sobrou para Rafa que fez o 2-0. O golpe final viria a surgir 10 minutos depois, numa grande penalidade apontada por Darwin (79´). Noite histórica para o emblema encarnado, afinal não é todos os dias que se vence o Barcelona por 3-0. Foi apenas a segunda vitória contra o colosso espanhol, 60 anos depois do triunfo na Taça dos Campeões.

Momento

O golo de Darwin logo ao minuto 3´- Não há maior tónico do que entrar em campo praticamente a ganhar, ainda por cima frente ao Barcelona e numa partida da Liga dos Campeões. O golo permitiu uma gestão diferente por parte dos encarnados.

Melhores

Darwin, naturalmente. Inconstante na época passada, o uruguaio está mais forte em 21/22. Impressionante pelo poder físico com bola e na forma como estica o jogo. Autor de um bis frente ao Barcelona, o primeiro dos quais numa grande jogada individual.

Rafa

Está com tudo nesta temporada. É ele o mais desequilibrador do Benfica, aliando a técnica à velocidade e também a finalização. Marcou o segundo golo numa recarga, depois de uma primeira defesa de Ter Stegen.

Lucas Veríssimo

Lá atrás foi rei e impediu em situações de apuro que o Barcelona chegasse ao empate, com vários cortes 'in extremis'.

Pedri

Sentiu-se o perfume do médio de 18 anos. Vindo de lesão, não apresentou a melhor condição física na Luz, mas tentou desequilibrar e encontrar com critério os seus companheiros da frente. Com a sua saída, a equipa do Barça ressentiu-se.

Reações

Jorge Jesus: "Ganhei um jogo, não ganhei nenhum título"

Koeman: "Eficácia do Benfica fez a diferença"