Um FC Porto que perde em casa com o Besiktas por 3-1, quando, sejamos sinceros, nada o fazia prever, que vence sem qualquer margem para dúvidas o campeão francês (3-0), em pleno Estádio Louis II, e que esta terça-feira concede a primeira vitória europeia de sempre ao RB Leipzig, por números que podiam ser bem mais dilatados, devia ser um caso de estudo. Aliás, quase todos os 90 minutos do duelo na Red Bull Arena mereciam um capítulo à parte. Porque os 'dragões' foram tudo aquilo a que Sérgio Conceição nunca nos habituou neste início de temporada (bem pelo contrário): amorfos, 'macios', mas, acima de tudo, desinspirados.
A intensidade, essa, estava bem patente do lado dos germânicos, equipa que ainda há oito anos militava na quinta divisão alemã, que no último fim de semana levou de vencida o Dortmund no Signal Iduna Park, e que esta noite esteve quase sempre por cima do jogo. Mesmo quando baixou de rendimento, já na segunda parte, mais depressa o 'placard' assinalava um 4-2 do que um 3-3. Mas já lá vamos.
Muitas surpresas, pouca inspiração
Três semanas depois de ter lançado Sérgio Oliveira, na altura sem qualquer minuto de competição, contra o Mónaco - aposta ganha, diga-se de passagem - Sérgio Conceição resolveu atirar o recém-estreante José Sá 'aos lobos'. O internacional sub-21 português tinha sido titular frente ao Lusitano de Évora, para a Taça, mas nada indicava que pudesse tirar o lugar a Iker Casillas contra o Leipzig. Juntando a isto a troca de Ricardo Pereira por Miguel Layún, também ela com o seu quê de surpreendente, o FC Porto ainda nem sequer havia tocado na bola e já fazia manchetes.
A aposta em José Sá acabaria por não ser a mais feliz. Volvidos oito minutos de jogo, Bruma rematou de fora da área, o guardião português não agarrou, nem à primeira, nem à segunda, e Orban apareceu para fazer o 1-0. Um arranque comprometedor, mas que esteve longe de ser o pior dos males da equipa portista. Os alemães dominavam o meio-campo e era notória a dificuldade dos 'azuis e brancos' em sair para o ataque. Brahimi, uma das maiores esperanças para este encontro, era uma sombra de si mesmo, perdido em fintas e faltas desnecessárias.
Valeu a ação dos centrais portistas, imperiais na forma como evitaram um resultado mais dilatado e como abriram caminho até ao 3-2, contra a corrente de jogo e através de dois lances de bola parada. O empate, aos 18 minutos, um remate à meia volta de Aboubakar - já é o quarto melhor marcador de sempre dos 'dragões' na Champions - , após canto de Layún e ação decisiva de Felipe e Marcano na área, parecia relançar o FC Porto na partida, o que não se verificou.
O Leipzig continuava irrequieto no seu 4x4x2, fruto das investidas de Forsberg e Augustin, precisamente os autores do 2-1 e 3-1 em apenas três minutos, a aproveitar da melhor forma a passividade portista. Marcano acabaria por emendar o erro cometido no lance do terceiro golo alemão e reduzir para os ‘azuis e brancos’ já perto do intervalo, após canto de Alex Telles e desvio de cabeça de Herrera ao segundo poste.
Esperava-se um FC Porto mais agressivo na segunda parte, um resquício da equipa que lidera, merecidamente, o campeonato português, mas a história deste encontro não viria a sofrer mais alterações. Mesmo baixando consideravelmente a intensidade, o RB Leipzig só precisou de segurar o meio-campo, apostando nas transições ofensivas – Augustin voltou a estar perto do golo, assim como Bruma. Do lado dos ‘dragões’, Marega não acertava um remate e nem as entradas de Óliver, Corona e Hernâni surtiram qualquer efeito.
No final, vitória histórica para a ‘equipa mais odiada na Alemanha’ (e agora, possivelmente, no universo portista), que com este resultado salta para o segundo lugar do Grupo G, com quatro pontos, atrás do Besiktas, que esta terça-feira derrotou o Mónaco, por 2-1, e já tem nove pontos. O FC Porto está em terceiro, com três pontos, e tem no próximo jogo com o RB Leipzig, daqui a duas semanas, no Dragão, uma oportunidade para se redimir.
O momento
3-2, por Marcano: O golo do central portista, ao minuto 44, num lance de bola parada, deu novo fôlego à equipa de Sérgio Conceição tendo em vista o segundo tempo. Os 'azuis e brancos' não conseguiram dar a volta ao resultado, é certo, mas os germânicos pareciam de tal modo lançados para um resultado mais volumoso, que o tento do espanhol acabou por colocar alguma água na fervura.
A figura
Emil Forsberg: Era o principal jogador do RB Leipzig a ter em conta por parte do FC Porto. A exibição realizada na última noite só veio dar razão às inúmeras chamadas de atenção. O extremo sueco foi uma verdadeira dor de cabeça para o meio-campo e defesa portistas, chegando mesmo a fazer o gosto ao pé, aos 37 minutos. Tem criatividade para dar e vender.
Têm a palavra os treinadores:
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto
"O Leipzig é uma equipa poderosa fisicamente, muito intensa e agressiva. Cometemos alguns erros defensivos que não são normais, que nos deram dissabores na primeira parte. Apesar de cada vez que chegávamos à frente era com algum perigo. Voltando àquilo que é a preparação do jogo, faltou-nos consistência defensiva para depois partir para uma exibição mais confortável para então ganhar o jogo."
Ralph Hasenhuttl, treinador do RB Leipzig
"Estou encantado com a nossa exibição. Colocámos em campo tudo aquilo a que nos comprometemos fazer. Jogadas rápidas, criar oportunidades e colocar o FC Porto sempre em constante pressão. Poderíamos e deveríamos ter marcado mais golos. Foi uma vitória histórica."
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