Há jogos que mudam a carreira de um jogador, e no caso de Abdel Sattar Sabry o confronto entre PAOK e Benfica na 2ª eliminatória da Taça UEFA de 1999 foi um deles. O Benfica vinha de uma vitória em Salónica por 2-1 (com golos de Nuno Gomes e Ronaldo), mas em Lisboa a formação helénica retribuiu o resultado e obrigou a eliminatória a ser decidida nas grandes penalidades depois de Sabry fazer o 2-1 em pleno Estádio da Luz com um livre direto cobrado exemplarmente.

Nas grandes penalidades, Robert Enke brilhou entre os postes e o Benfica acabou por seguir em frente na prova. As qualidades de Sabry ficaram na retina dos responsáveis do Benfica e meses depois o internacional egípcio era apresentado como reforço, juntamente com o central Machairidis.

Vale e Azevedo acompanhado José Capristano na apresentação dos reforços do clube Uribe, Sabry e Machairidis
Vale e Azevedo acompanhado José Capristano na apresentação dos reforços do clube Uribe, Sabry e Machairidis Vale e Azevedo acompanhado José Capristano na apresentação dos reforços do clube Uribe, Sabry e Machairidis. créditos: STR

Sob comando do alemão Jupp Heynckes, Sabry deu os primeiros passos num emblema de renome europeu e logo na sua primeira época mostrou bons indicadores com 13 golos, dois deles importantes frente ao F.C. Porto e ao Sporting.

Alenitchev disputa uma bola com Sabry e Maniche num jogo entre S.L. Benfica e F.C. Porto de 2001
Alenitchev disputa uma bola com Sabry e Maniche num jogo entre S.L. Benfica e F.C. Porto de 2001 Alenitchev disputa uma bola com Sabry e Maniche num jogo entre S.L. Benfica e F.C. Porto de 2001 créditos: EPA PHOTO LUSA/ANDRE KOSTERS

No entanto, o técnico alemão acabaria por sair e para o seu lugar o então presidente João Vale e Azevedo apostou num jovem treinador chamado José Mourinho para atacar a época 2000/2001. O antigo treinador adjunto de Bobby Robson e de Louis van Gaal no Barcelona chegou à Luz para abraçar o seu primeiro desafio enquanto treinador principal e começou por dar logo nas vistas pela forma como comunicava nas conferências de imprensa.

No final de 2000, Sabry deu uma entrevista a um jornal desportivo em que criticou os métodos de José Mourinho e queixou-se de várias aspectos da personalidade do então jovem técnico português. Mourinho não gostou, e numa conferência de imprensa colocou em causa o profissionalismo de Sabry lembrando ao egípcio que o grau de exigência no Benfica não era o mesmo do PAOK de Salónica.

"Não é fácil para um treinador gostar de um jogador que tem uma média absurda de foras de jogo. Que não sabe quando a bola está em posse do adversário e que no lado contrário ele tem de fechar o espaço interior e não ficar aberto. Que não sabe o que é relação posicional e ocupação equilibrada do espaço. Que fora de casa quando lhe mostram os dentes foge. Que contra o Hamstad, Belenenses e Boavista esteve três vezes na cara do guarda-redes e não fez o golo. Que ao intervalo, quando eu sou um bocadinho mais agressivo vai fazer queixas ao secretário técnico a dizer que eu sou muito agressivo e que tem medo de mim. Não é fácil para um treinador gostar de um jogador destes, de facto", disse José Mourinho numa conferência de imprensa.

José Mourinho com Carlos Mozer no banco de suplentes do Benfica
José Mourinho com Carlos Mozer no banco de suplentes do Benfica José Mourinho com Carlos Mozer no banco de suplentes do Benfica créditos: JOAO ABREU MIRANDA/LUSA

"Depois diz [na entrevista] que nunca falou comigo e que o relacionamento não é o mais correcto. Eu tenho um livrinho onde aponto todas as reuniões individualizadas que tenho com os jogadores, os locais, as datas, os motivos, os comentários, as reações dos jogadores, os feedbacks, tenho tudo apontado. E poderia estar aqui a especificar-vos essas reuniões, mas com o Sabry, que diz que nunca falei com ele, tive sete reuniões individualizadas. Não foi nem uma, nem duas. Foram sete. E das sete, três foram nos últimos quatro dias. Diz ele que nunca falou comigo…Ele não gosta é das coisas que eu lhe digo. Mas bem, passando. Depois diz que "15 ou 20 minutos é pouco para mim". Pois o único jogo em que ele só jogou 20 minutos foi em Paços de Ferreira onde por sinal demorou oito minutos a preparar as botas e as caneleiras. Eu só quero deixar uma mensagem ao Sabry e outra aos sócios. E ao Sabry deixo porque se ele deixou mensagens para mim via comunicação social eu sinto-me perfeitamente à vontade para deixar mensagens ao Sabry via comunicação social. E a mensagem é, também na sequência de algo que ele diz na entrevista, eu digo-lhe isto é o Sport Lisboa e Benfica não é o PAOK de Salónica", sentenciou José Mourinho sobre o assunto.

José Mourinho acabaria por sair do S.L. Benfica ao fim de três meses na sequência da vitória de Manuel Vilarinho nas eleições presidenciais de outubro. No final da época 2001/2002, Sabry acabaria também por sair do Benfica para o Marítimo depois de marcar apenas 4 golos em 29 jogos. O internacional egípcio ainda passou pelo Estrela da Amadora, mas nunca mais conseguiu impor o seu futebol em Portugal.