
Num verão dominado por futebol, o Mundial de Clubes 2025, disputado pela primeira vez com 32 equipas e em solo norte-americano, ficou marcado por momentos de excelência desportiva, surpresas sul-americanas, e um coro crescente de críticas à sobrecarga do calendário competitivo.
Um novo formato, a mesma ambição
Organizado pela FIFA nos Estados Unidos, o novo Mundial arrancou com ambição: um formato idêntico ao do Campeonato do Mundo de seleções, com oito grupos de quatro equipas, seguidos por eliminatórias a partir dos oitavos de final. A ideia passava por globalizar ainda mais a prova e aproximá-la da elite do futebol de seleções – em termos de audiência, impacto e receitas.
Porém, enquanto o espetáculo dentro de campo teve os seus momentos de brilho, o fora de campo revelou fraturas evidentes: treinadores exaustos, jogadores no limite e um clima extremo que levantou dúvidas sobre o futuro da competição neste molde.
Chelsea: do tropeço à consagração
O Chelsea surgiu como o grande campeão, ao bater o Paris Saint-Germain por 3-0 na final, disputada no MetLife Stadium, em Nova Jérsia. Uma exibição de domínio absoluto dos blues, com Cole Palmer em evidência — dois golos e uma assistência —, colocando um ponto final numa campanha que começou de forma hesitante.
O tropeço frente ao Flamengo na fase de grupos (3-1) parecia antever dificuldades, mas a equipa de Enzo Maresca respondeu com autoridade: triunfos sobre Palmeiras, Fluminense, Bayern Munique e, por fim, PSG — numa final em que a equipa francesa voltou a acusar a pressão dos grandes palcos internacionais.
Foi o segundo título mundial da história do Chelsea, que já havia vencido a edição de 2021, tornando-se assim no primeiro clube inglês a levantar o troféu por duas vezes.
Sul-americanos com voz e garra
Se o título acabou em Londres, a alma do torneio viveu muito por conta da paixão e qualidade do futebol sul-americano. O Flamengo protagonizou uma das grandes surpresas ao derrotar o Chelsea na fase de grupos, enquanto Palmeiras e River Plate também assinaram boas campanhas, embora sem fôlego suficiente para chegar aos quartos de final. O Botafogo chegou mesmo a vencer o finalista Paris Saint-Germain na fase de grupos da prova.
O ambiente criado por adeptos vindos do Brasil, Argentina e Uruguai também contribuiu para o clima fervilhante nos estádios, contrastando com a frieza de algumas partidas entre clubes europeus.
Clima, fadiga e um calendário sufocante
No entanto, nem tudo foram aplausos. O Mundial ficou igualmente marcado por fortes críticas ao seu enquadramento no calendário. Jurgen Klopp já o havia descrito como “a pior ideia de sempre”, e as palavras de Maresca, técnico vencedor, foram na mesma linha: “É insustentável jogar este número de partidas num verão tão quente. Tivemos jogos com temperaturas acima dos 35 graus e paragens por tempestades.”
A fase de grupos foi particularmente dura, com múltiplos adiamentos e relatos de jogadores a necessitar de assistência médica devido ao calor extremo. A questão da sobrecarga física – com atletas a chegar extenuados à pré-época dos seus clubes – lançou dúvidas sérias sobre a viabilidade do formato a longo prazo.
A promessa da FIFA e o dilema do futuro
Apesar das críticas, a FIFA já fez saber que pretende manter a competição neste modelo para 2029, abrindo portas à entrada de novos mercados e assegurando contratos milionários com patrocinadores e direitos televisivos.
Mas entre a glória desportiva e a realidade operacional, o Mundial de Clubes 2025 deixa um balanço dual: por um lado, o potencial de um torneio de referência à escala global; por outro, a urgência de repensar um modelo que, em nome do espetáculo, está a empurrar jogadores e equipas para o limite.
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