Data de Nascimento: 11/09/1945
Nacionalidade: Alemanha
Presenças em Mundiais: 5 (1966, 1970 e 1974 como jogador, 1986 e 1990 como treinador)
Jogos em Mundiais: 18
Golos em Mundiais: 5
Títulos em Mundiais: 2 (1974 como jogador, 1990 como treinador)
O jogador que, dizem, ‘inventou’ a posição em que jogava. Ou, pelo menos, reinventou-a. Franz Beckenbauer foi, para muitos, o primeiro verdadeiro líbero da história do futebol. E, provavelmente, o melhor de todos. Um defesa com características diferentes de todos os outros, com uma qualidade técnica notável, capaz e construir jogo como poucos, levar a bola para a frente no pé e até marcar golos. Terminou a carreira com 111!
Um autêntico líder em campo, ganhou para sempre a alcunha de ‘Keise’ (Imperador) e em campo, depois de mostrar uma resiliência única quatro anos antes, capitaneou a então República Federal da Alemanha rumo ao título mundial em 1974. Depois, como treinador, guiou os germânicos à final do Mundial de 1986 e ao título no Mundial 1990.
É, juntamente com Mario Zagallo e Didier Deschamps, um dos três únicos a ter-se sagrado campeão do mundo quer como jogador, quer como treinador e, por isso e por todo o legado que deixou no futebol, é um dos maiores ‘Cromos’ da História dos Mundiais.
O caminho para uma alcunha que lhe assentou na perfeição
Franz Anton Albert Beckenbauer nasceu em Munique, pouco tempo depois do fim da II Guerra Mundial. Desde cedo mostrou paixão pelo futebol e em criança costumava passar horas a chutar uma bola contra um muro da casa onde morava. Começou a jogar no modesto 1906 Munique com 9 anos.
Em jovem, Beckenbauer também jogava ténis e foi aí que se tornou amigo de Sepp Maier, guarda-redes ao lado de quem tantos troféus iria ganhar no futebol ao longo dos anos. Cresceu perto do estádio do Munique 1860, clube do qual era adepto em jovem, mas seria no vizinho (e futuro gigante) Bayern que iria singrar, depois de aí ingressar com 14 anos de idade. Reza a lenda que um desentendimento com um jogador do Munique 1860 quando ainda atuava no 1906 Munique o levou a perder o amor por aquele que era o seu clube de eleição na infância.
Estreou-se pela principal do Bayern em 1964 e foi um dos alicerces da caminhada do clube rumo à hegemonia na então recém-criada Bundesliga. Chegou cedo à seleção principal da República Federal da Alemanha e também aí não tardou a ter papel preponderante, acabando por somar troféus e mais de uma centena de internacionalizações.
Beckenbauer começou por jogar como médio, mas ao pouco foi recuando no terreno, até se tornar num defesa. Mas não num defesa qualquer. Num líbero. Se foi ele ou não quem 'inventou' essa posição, não há certezas. Mas que foi ele que a aperfeiçoou como nenhum outro, disso ninguém duvida. A sua inspiração foi o italiano Giacinto Facchetti, um lateral-esquerdo de origem que, tal como o 'Keiser' (a alcunha que Beckenbauer viria a ganhar com o evoluir da sua carreira), tinha grande qualidade quer na marcação, quer a sair a jogar a partir da defesa.
Conquistou o primeiro título de campeão da Bundesliga com a camisola do Bayern em 1968/69. Era o início de uma era de ouro quer para o clube, quer para Beckenbauer. Ao todo, ao serviço do Bayern, que representou por 14 temporadas, conquistou, entre outro troféus, cinco títulos de campeão, quatro Taças da RFA e três Taças dos Campeões consecutivas (1973/74, 1974/75 e 1975/76). E, pelo meio, brilhou - e muito - pela seleção da Alemanha em três Campeonatos do Mundo.
Uma imagem lendária de sacrifício...quatro anos antes da glória
A estreia de Beckenbauer ao serviço da então República Federal da Alemanha deu-se na qualificação para o Campeonato do Mundo de 1966, quando tinha 20 anos, ainda a jogar como médio. Foi com naturalidade que o seu nome surgiu nos convocados para a fase final desse Mundial'66. Em, apesar de ter apenas 21 anos, foi titular e uma das figuras da equipa.
Apesar de atuar como médio mais recuado, marcou logo dois golos no primeiro jogo, contra a Suíça. Ficou 'em branco' no empate com a Argentina e na vitória com a Espanha que se seguiram, resultados que permitiram aos germânicos passarem aos quartos-de-final. Aí, contra o Uruguai, a RFA não deu hipóteses, goleou por 4-0 e Beckenbauer marcou um dos golos. Marcou mais um (o seu quarto no Mundial) - ao lendário Lev Yashin - nas meias-finais, onde a RFA bateu a URSS.
E chegou a final, contra a anfitriã Inglaterra. Aquela para a decisão da qual acabaria por contribuir um golo (para muitos fantasma) em que a dúvida persistirá para sempre sobre se a bola entrou ou não no remate do inglês Hurst cruzou ou não na totalidade a linha de golo. A Beckenbauer coube, sobretudo, a missão de travar o astro maior da Inglaterra, Bobby Charlton. Bobby Charlton, de facto, não marcou, mas a Inglaterra acabou por vencer por 4-2 após prolongamento.
Beckenbauer via, assim, o título fugir, mas voltaria em 1970, então já como capitão de equipa, embora ainda com apenas 25 anos. Só que ainda não seria dessa que ergueria o troféu, apesar de dar tudo para o conseguir. No México, a República Federal da Alemanha abriu com três vitórias (sobre Marrocos, Bulgária e Peru) e seguiu para os quartos-de-final, para uma desforra contra a Inglaterra. Os ingleses até estiveram a ganhar por 2-0, mas Beckenbauer deu início à reviravolta com o seu único golo nesse Mundial e os alemães acabaram por vencer por 3-2.
Nas meias-finais - naquele que é apelidado como 'O Jogo do Século' - a adversária foi a Itália e o 'Kaiser' iria dar origem a uma das imagens mais míticas da história dos Mundiais, ao jogar uma boa parte do encontro com uma luxação na clavícula direita. Os germânicos já tinham esgotado as duas substituições permitidas na altura e guardadas para a eternidade ficaram as fotos de Beckenbauer a atuar o resto do encontro com o ombro imobilizado.
O esforço, porém, acabaria em vão, com a Itália a vencer por 4-3 e a passar à final, num jogo verdadeiramente épico. Mas Beckenbauer ascendia em definitivo ao estatuto de lenda e quatro anos depois o título de campeão do mundo seria mesmo seu.
A RFA chegou ao Mundial'74 como campeão da Europa em título, e na primeira fase desse Campeonato do Mundo os alemães garantiram desde logo o apuramento para a fase seguinte ao baterem Chile e Austrália antes de uma derrota inesperada e histórica (mas inócua) contra a rival Alemanha Oriental. Beckenbauer viria a alinhar os 90 minutos em todos os sete jogos da RFA nesse Mundial e na segunda fase os germânicos bateram Jugoslávia e Suécia, antes de baterem também, com alguma dificuldade, a Polónia para garantirem uma vaga na final. O 'Kaiser' não marcou, mas era o grande líder da equipa em campo.
A final foi contra a Holanda, onde pontificava outra lenda - Johan Cruyff - e que era vista como favorita, face à qualidade do futebol que vinha apresentando. Um favoritismo vincado por um golo dos holandeses logo no minuto inicial. Mas, com Beckenbauer a empurrar os alemães para a frente, estes viraram o marcador e sagraram-se pela segunda vez campeões do mundo.
Beckenbauer não voltaria aos Campeonato do Mundo como jogador, mas regressaria, anos mais tarde, como selecionador da sua RFA. Em 1986 a caminhada foi até à final, perdida para a Argentina de Diego Maradona. Mas quatro anos depois, no Mundial'90, em Itália, já após a reunificação do país, o 'Kaiser' levaria mesmo a Alemanha ao título com uma vitória na final - em jeito de desforra - sobre a Argentina, ainda com Maradona em campo.
E depois dos Mundiais? Mais sucessos também como treinador e dirigente
Beckenbauer pendurou as chuteiras em 1983. Depois de deixar o Bayern, em 1976, rumou – como grande parte das maiores estrelas do futebol da altura - aos Estados Unidos. Aí alinhou pelo New York Cosmos, onde chegou a ser colega de Pelé, que o apelidou de melhor defesa da história.
Ainda regressou à Alemanha Ocidental, para vestir a camisola do Hamburgo, e depois de terminar a carreira de jogador iniciou a de treinador, estreando-se como selecionador da RFA em 1984, levando-a ainda, para além da final perdida do Mundial’86 e da final ganha do Mundial’90, às meias-finais do EURO’88. Após o Itália’90 treinou pela primeira vez um clube: o Marselha, que guiou ao título de campeão francês. Depois, treinou também o seu Bayern em 1993/94 (conquistou a Bundesliga) e em 1995/96 (conquistou a Taça UEFA).
Assumiu também a presidência do Bayern durante quase 15 anos, num período em que o gigante clube bávaro confirmou a sua hegemonia no futebol alemão.
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