A incorporação da Ucrânia na candidatura conjunta de Portugal e Espanha à organização do Mundial2030 foi “uma decisão lógica e natural”, admitiu hoje o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes.
“Para alguns, esta decisão pode parecer surpreendente e inesperada. Para nós, foi uma decisão lógica e natural. A devastação, a fuga de milhões de ucranianos, a incerteza em relação ao futuro pesou na nossa vontade de integrar a Ucrânia nesta candidatura, que mereceu desde a primeira hora incondicional apoio do presidente da UEFA [Aleksander Ceferin], a quem desde já quero agradecer”, expressou o dirigente, numa conferência de imprensa decorrida hoje na sede do regulador do futebol europeu, em Nyon, na Suíça.
Fernando Gomes falava ao lado dos líderes da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF) e da Associação Ucraniana de Futebol (UAF), Luis Rubiales e Andrii Pavelko, respetivamente, ‘selando’ a inclusão daquele país do leste europeu na proposta ibérica.
“Tem um especial significado fazer este anúncio na casa do futebol europeu. O futebol é muito mais que futebol. E não seria necessário invocar outra razão para justificar o que aqui nos traz hoje. Futebol é superação, compromisso, resiliência, inspiração”, lembrou.
Em pleno conflito militar com a Rússia, a Ucrânia vem redimensionar a única candidatura europeia para a organização da principal competição mundial de seleções em 2030, cujo protocolo de colaboração entre FPF e RFEF já tinha sido assinado em outubro de 2020.
“Certamente, haverá muitas pessoas que vão pensar que o mais fácil para Portugal e Espanha seria seguir com esta candidatura tal como estava, indiferentes ao que se passa na Ucrânia. Permitam-me discordar. Acho que seria isso o mais difícil e incompreensível. A Ucrânia não pode desaparecer das nossas memórias depois de a guerra acabar. Quando esse dia chegar, tenho a certeza de que continuará a precisar de ajuda e nós queremos e estaremos presentes”, frisou Fernando Gomes, notando o auxílio dado pelo futebol luso.
A proposta foi apresentada em junho de 2021 e recebeu o apoio da UEFA, enfrentando a concorrência, pelo menos, de um projeto sul-americano (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai), um africano (Marrocos) e um intercontinental (Arábia Saudita, Egito e Grécia).
“Fizemos muito, mas temos de continuar a fazer. A consciência da realidade do que se continua a viver na Ucrânia a isso nos obriga. Ajudar os ucranianos significa integrá-los em projetos desta dimensão e dar-lhes esperança em relação ao futuro. Apesar das poucas certezas, há algo que sabemos: o futebol tem uma força mobilizadora única que não pode ser desperdiçada. É nisso que apostamos”, afiançou o líder máximo da FPF.
A comissão coordenadora do Mundial2030, liderada por António Laranjo, vai passar a incluir representantes da delegação ucraniana, chefiada pelo presidente da UAF, Andrii Pavelko, cuja adesão vai ter os seus termos “discutidos e definidos no devido tempo”.
“Tenho orgulho em pertencer há muitos anos à família do futebol e estou seguro de que ela apoiará esta iniciativa. Que este seja, por isso, o início do caminho que nos leve a um Mundial que reafirme os valores da pessoa humana, da liberdade e da igualdade entre nações grandes e pequenas. Que seja o Mundial que reafirme os valores de tolerância e paz que estão estampados na Carta das Nações Unidas”, terminou Fernando Gomes.
O Qatar acolherá a 22.ª edição do campeonato do mundo este ano, de 20 de novembro a 18 de dezembro, seguindo-se uma inédita coorganização entre três países (Canadá, Estados Unidos e México), em 2026, e a celebração do centenário da prova, em 2030.
A escolha dos países organizadores do Mundial2030 está prevista para o 74.º congresso da FIFA, em 2024, após Portugal ter recebido o Euro2004 e a Espanha o Euro1964 e o Mundial1982, ao passo que a Ucrânia albergou o Euro2012, em conjunto com a Polónia.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia já causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com a ONU, que encara esta crise de refugiados como a pior em plena Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, a invasão daquela nação tem sido condenada pela generalidade da comunidade internacional, que responde com envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra no leste europeu 5.996 civis mortos e 8.848 feridos, vincando que estes números estão muito aquém dos reais.
O principal campeonato de futebol está a decorrer desde agosto dentro das fronteiras ucranianas, mas com partidas à porta fechada e na proximidade de abrigos contra os bombardeamentos, enquanto a seleção nacional joga como visitada na ‘vizinha’ Polónia.
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