Quem espera, sempre alcança. Este ditado popular podia aplicar-se a Dan Burn, defesa inglês que, aos 32 anos, viu a sua carreira atingir o ponto mais alto ao ser convocado para a Seleção inglesa, na mesma semana em que ajudou o seu Newcastle a vencer um grande título, 70 anos depois.

Poucas horas antes de ter sido um dos protagonistas da final Taça da Liga Inglesa, ao marcar o primeiro dos dois golos da vitória do Newcastle sobre o Liverpool por 2-1, Dan já tinha recebido a notícia que há muito esperava: foi convocado pela primeira vez para representar a Seleção de Inglaterra.

Motivado por estar incluído na lista do selecionador Thomas Tuchel, o gigante defesa fez-se valer dos seus 2,1 metros no último domingo para, aos 45 minutos, elevar-se nas alturas para colocar os 'magpies' a vencer os 'reds' em Wembley.

Seria assim um dos filhos da terra, nascido em Blyth, a 30 minutos do centro de Newcastle, a iniciar o fim de 70 anos sem grandes títulos no futebol para os 'Geordies'. Curiosamente, o gigante defesa era o único jogador nascido localmente entre os titulares de Liverpool e Newcastle.

De guarda-redes a central, numa carreira que esteve para 'morrer'

O amor e a paixão pelo Newcastle sempre estiveram presentes na vida de Dan Burn, mesmo que os 'magpies' tenham rejeitado o jogador. Aconteceu quando tinha 11 anos quando era... guarda-redes. O Newcastle dispensou-o, pouco antes do Natal, por achar que não tinha qualidade suficiente para entrar na academia dos ' The Toon'.

A sua estatura foi algo que sempre se destacou, mesmo quando era mais jovem. Numa entrevista ao 'The Athletic' em 2022, confessou que foi para a baliza porque era "uma porcaria e muito alto".

Assim, até aos 14 anos foi na baliza que o agora gigante de 32 anos expressou o seu futebol. E foi nessa altura que sofreu um acidente que viria a mudar a sua vida. Ao tentar escalar uma vedação, ficou com o dedo anelar preso. Perdeu quase todo o dedo.

Uma possível carreira no futebol estava assim seriamente comprometida. E Dan Burn começou a duvidar se teria capacidade para chegar à elite.

Dan Burn marca pelo Newcastle ao PSG
Dan Burn marca pelo Newcastle ao PSG

"Por norma, os miúdos que são escolhidos para jogar nos juvenis são recrutados aos 15, 16 anos. Ninguém me quis contratar", confessou.

Continuar os estudos era uma prioridade, mas era importante fazer algo mais. O futebol era uma incógnita. Assim, aos 16 anos começou a trabalhar num supermercado, a arrumar carrinhos de compra, enquanto mantinha o sonho do futebol.

"Na altura, se me tivessem dito que chegaria à Premier League, teria rido" disse, ao 'The Athletic em 2022.

Da quarta divisão à seleção de Inglaterra

Aos 17 anos foi jogar para os juniores do Darlington, equipa que militava na League Two (4.º escalão).  Em 2009/10 estreou-se na formação principal, onde esteve duas épocas, antes de o Darlington descer de divisão. Era uma equipa modesta, onde cada um safava-se como podia: os jogadores lavavam o próprio equipamento, tratavam da própria comida.

Em 2011 saiu de casa pela primeira vez rumo a Londres, quando foi contratado pelo Fulham para jogar na equipa de reservas. No ano seguinte foi promovido à equipa de sub-21 dos 'cottagers', antes de ser emprestado ao Yeovil Town, onde fez a primeira grande época da carreira: três golos em 41 jogos.

Jogaria ainda no Birmingham City e Wigan Athletic, antes de finalmente triunfar no Brighton, onde esteve entre 2018 e 2022.

Foi peça importante nos 'seaguls', com Graham Potter, até que em 2022, surgiu a oportunidade de voltar à casa. O Newcastle pagou 15 milhões de euros ao Brighton para resgatar um dos filhos da terra.

E fê-lo em boa hora: com Dan Burn no plantel, os 'magpies' voltaram a jogar a Liga dos Campeões e venceram um grande torneio, 70 aos depois.

Apesar de já ter conquistado por duas vezes o Championship, segundo escalão, neste século, em 2009/10 e 2016/17, o Newcastle, que já tinha perdido duas finais da Taça da Liga, não conquistava um grande troféu inglês desde 1954/55, quando ergueu a sua sexta Taça de Inglaterra.

Pelo meio, em 1968/69, os ‘magpies’, quatro vezes campeões ingleses (1904/05, 1906/07, 1908/09, 1926/27) conquistaram ainda a Taça das Cidades com Feira, precursora da Taça UEFA.

E Dan Burn poderá tornar-se no mais velho de sempre a estrear-se pela seleção inglesa, batendo o recorde que pertence a Kevin Davies. Agora é com Thomas Tuchel.