José Mourinho foi demitido, esta terça-feira, do comando técnico do United.
O clube de Old Trafford já emitiu comunicado, onde confirma que será nomeado um técnico interino para ocupar o lugar do "Special One" até ao final da presente temporada.
De acordo com a Sky News, Michael Carrick e Kieron McKenna vão orientar os treinos nos próximos dias. O treinador interino deverá ser escolhido nas próximas 48 horas.
Eis o comunicado do clube britânico:
"O Manchester United anuncia que o técnico José Mourinho deixou o clube, uma decisão que tem efeito imediato".
O Clube gostaria de agradecer a José Mourinho pelo trabalho no Manchester United e deseja a melhor sorte ao técnico. Um treinador interino vai ser indicado até ao final da temporada, enquanto o clube inicia o processo para encontrar um novo treinador", pode ler-se.
Recorde-se que ainda no dia de ontem, a imprensa britânica avançava que a direção do United pretendia manter o técnico até final da temporada. A derrota do fim de semana frente ao Liverpool por 3-1, acabou por ser a gota de água para o técnico português.
O português 55 anos chegou aos ‘red devils’ em 2016/17, época em que alcançou os únicos títulos no clube, a Taça da Liga inglesa e a Supertaça.
Após 17 jornadas, o técnico deixou o United no sexto lugar do campeonato, com 26 pontos, menos 19 do que o líder Liverpool.
Candidatos ao lugar
Depois do despedimento do técnico português, sucedem-se os nomes dos sucessores ao cargo ocupado pelo técnico português. Zinedine Zidane, técnico que saiu do Real Madrid, com um percurso verdadeiramente imaculado é um dos nomes apontados ao emblema de Old Trafford. Mauricio Pochettino, treinador do Tottenham, também é visto como um candidato de peso para assumir o banco do gigante de Manchester.
Indemnização milionária
O despedimento de José Mourinho pode render uma cláusula absolutamente milionária ao técnico português. O técnico tinha contrato com o emblema de Old Trafford até 2019/20 e poderá receber cerca de 26,7 milhões de euros, de acordo com a imprensa britânica.
Mourinho, o 'Lonely One'
A saída do técnico português acabou por ser um desfecho previsível depois de um início de época tão conturbado, em que se destacam as confusões com jogadores, nomeadamente o confronto com Pogba e o futebol pobre praticado pelo equipa inglesa.
Foram várias as vozes que sublinhavam que o técnico era um homem só no emblema britânico.
As exibições da equipa não convenciam, e ainda no último domingo, Martim Keown, antigo jogador do Everton e do Arsenal, falou à 'Football Focus' onde frisou que Mourinho tinha deixado de ser ouvido.
"Mourinho? Os jogadores deviam deixar de o ouvir. As atuações deste Manchester United são as piores dos últimos 25 anos. Se mudam de treinador é outro problema, mas cada jogo do United é uma crise. Mourinho fez um trabalho incrível no passado, mas o 'special one' converteu-se no 'lonely one' (solitário)".
O atirar da toalha ao chão do técnico e crise de identidade do United
Após a derrota frente ao Liverpool, o técnico reconheceu que o título era algo impossível de alcançar nesta temporada.
“Se me perguntam se podemos ganhar o título, claro que não, é irreversível. Ainda podemos chegar ao quarto lugar, mas não vai ser fácil. De certeza que vamos terminar nos seis primeiros, mas o máximo que poderemos ambicionar é um dos lugares de acesso à Liga dos Campeões”, disse o técnico do United, citado pela cadeia de televisão inglesa, Sky Sports.
Com 19 pontos de distância para o primeiro classificado, Mourinho deixa mais um projeto inacabado, depois de ter entrado em 2016. No últimos seis jogos, o United tinha ganho apenas um.
Os problemas de Mourinho ao longo da temporada não se estenderam apenas aos relvados. Eram conhecidas também as divergências com o vice-presidente do clube Ed Woodward, isto depois do técnico se ter queixado inclusivamente nas conferências de imprensa de que os seus desejos no mercado de transferências não terem sido satisfeitos.
Depois dos reinado de Alex Ferguson, de mais de duas décadas, Mourinho acabou por ser o terceiro técnico a fracassar depois de Van Gaal e David Moyes, com os red devils a prolongarem a 'seca' de títulos na Premier League.
Foram 26 anos de Alex Ferguson no Manchester United, um fardo que tem sido demasiado pesado, que tem conduzido a uma crise de identidade, com demasiados altos e baixos para o gigante do futebol inglês.
Recordes negativos dão origem à saída
O United somou apenas 26 pontos depois de 17 jornadas sob o comando de José Mourinho. Foi o pior 'score' da equipa de Old Trafford desde a longínqua temporada de 1990-91.
Polémica com Pogba
Um dos momentos da temporada, que também terá contribuído para o desfecho inglório para o técnico português foi a polémica em torno de Pogba. O português, na partida frente ao Derby County, resolveu tirar o estatuto de capitão ao centrocampista francês. Mas não foi só Pogba que foi alvo de críticas, ainda na partida da semana passada frente ao Valência (derrota por 3-2), o técnico tinha criticado os suplentes, que não tinham correspondido ao voto de confiança do português. "Eu espero mais dos meus jogadores, especialmente jogadores que toda semana vocês me perguntam 'por que não jogam?' e 'porque não são titulares?'.
Entretanto o jogador francês já reagiu à saída do técnico nas redes sociais, mas acabou por apagar o post.
A lista de compras de José Mourinho
Foi uma das queixas de José Mourinho no defeso, que de que os rivais City, Liverpool e Chelsea tinha à disposição muito mais recursos para ir ao mercado. Contudo, Mourinho gastou 466 milhões de euros em gastos, nas três temporadas que esteve em Old Trafford.
Paul Pogba aparece à cabeça, já que os red devils investiram 105 milhões de euros no internacional francês.
Paul Pogba Juventus - 105 milhões de euros
Mkhitaryan - Borussia Dortmund 42
Eric Bailly - Villarreal 38
Romelu - Lukaku Everton 84,7
Nemanja - Matic Chelsea 44,7
Victor Lindelöf - Benfica 35
Aléxis Sánchez - Arsenal 34
Fred Shakhtar - Donetsk 59
Diogo Dalot - FC Porto 22
Lee Grant - Stoke City 1,7
Títulos conquistados no United
144 jogos no United
84 vitórias
32 empates
28 derrotas
Títulos conquistados (Liga Europa, Taça da Liga e Supertaça)
O técnico deixa a equipa nos oitavos de final da Liga dos Campeões, onde o United vai medir forças com o PSG.
José Mourinho abriu a portas ao treinadores portugueses
Se os treinadores portugueses hoje em dia alta cotação muito o devem ao português. Foi o técnico o primeiro a desbravar caminho para os timoneiros lusos além fronteiras. A conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões em 2003 e 2004 pelo FC Porto pasmou o mundo do futebol, que passou a admirar e a seguir o português.
O campeonato português passou assim a ser demasiado pequeno para o talento de um técnico, que estava destinado a alto voos. Começou por vencer duas Premier Leagues ao serviço do Chelsea, 50 anos depois do último título dos blues. Mudou-se para o Inter onde levou os italianos à conquista da Liga dos Campeões. Quebrou o reinado do Barcelona, onde ao serviço do Real Madrid conseguir vencer a La Liga. Voltou novamente ao segundo amor, o Chelsea, onde logrou vencer mais um campeonato. Por fim, tinha tudo para dar continuidade ao legado de Ferguson, devolvendo a glória ao clube de Old Trafford. Venceu títulos é certo, mas não conseguiu devolver o orgulho, ao clube que era o maior de Inglaterra.
O futebol para lá do resultado
Algo que Mourinho não tem percebido nos últimos tempos é que o futebol é muito mais do que o resultado. E nem sempre quem mais ganha é quem mais apaixona os amantes de futebol espalhados pelo mundo inteiro. Mourinho deixou de ser visto como um inovador, ao contrário de técnicos como Mauricio Sarri, Pep Guardiola e Quique Setien, donos dos bancos que nos apaixonaram em 2018.
Valorização da posse de bola, jogar de forma apoiada, ter a equipa montada para dar sempre mais que uma linha de passe ao portador da bola, dar prioridade à construção pelo corredor central, movimentações constantes dos jogadores, variações táticas constantes ao longo do jogo: Tudo isto representa o futebol positivo que parece ser a tendência no futebol em 2018, mas que é uma antítese do atual Mourinho.
Numa recente entrevista ao l´Equpe, Paulo Fonseca, visto como um dos mais promissores técnicos portugueses, reconheceu que sentia mais próxima da filosofia de Guardiola do que da do técnico português.
Um treinador de polémicas
O treinador português teve, ao longo dos anos, percurso marcado por episódios polémicos. Ainda no último Manchester United - Juventus (2-1) e conseguida a reviravolta nos últimos cinco minutos, o treinador provocou os adeptos rivais, com a mão na orelha, voltando a estar no centro das atenções.
Já no jogo em Old Trafford, o técnico esticou os três dedos, em direção aos rivais bianconeri, com três dedos na mão, em alusão aos três títulos conquistados no Inter (campeonato, taça, e Champions).
Regresso conturbado a Stamford Bridge
No dia 20 de outubro, com o regresso a uma das suas antigas casas, Stamford Bridge e depois dos apupos dos adeptos dos blues , o técnico esticou os três dedos, lembrando os três títulos de campeão conquistados ao serviço do Chelsea.
O sprint de Mourinho em Camp Nou
É talvez um dos gestos mais conhecidos do português. A corrida desenfreada que o técnico deu aquando da passagem do Inter à final da Liga dos Campeões, em 2009/10 - num jogo em que o técnico - colocou um autêntico autocarro na baliza. No final do encontro, o técnico deu uma corrida a celebrar o momento épico.
Pouco futebol e uma pausa que pode ser benéfica
Há muito que o tempo perdeu a aura que o levou a conquistar títulos nacionais e europeus, no FC Porto, Chelsea, Inter, Real Madrid e United. Com o foco no resultadismo, pragramtismo e num futebol defensivo, com pouca posse, ao invés de um modelo atacante e espectacular, o técnico deixou de encantar e terá obrigatoriamente de se reinventar. Os adeptos do United cansaram-se da filosofia do português, com um futebol sem qualidade - que não respeitava o ADN dos red devils. Quem não se lembra do futebol praticado pela equipa de Alex Ferguson? Quem sabe se uma pausa na carreira não poderá ser benéfica para o treinador português? Resta agora perceber quais serão os próximos passos do treinador português. Mas uma coisa é certa: Mourinho trata-se de um treinador absolutamente incontornável. Há muitos que não apreciam o estilo, mas todos têm que reconhecer que o português já deixou uma marca indelével no futebol mundial.
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