Os técnicos dos principais emblemas da Premier League uniram a sua voz na luta contra o racismo. Na semana em que vários jogadores da Seleção inglesa sofreram insultos racistas no Montenegro, durante um jogo de qualificação para o Euro2020, Pep Guardiola, Jurgen Klopp, Maurizio Sarri e Maurizio Pochetino falaram do tema do momento, pedindo regras claras e mostrando-se disponíveis para abandonar os jogos em casos de racismo.
Na antevisão do jogo do Manchester City com o Fulham em Londres, Pep Guardiola mostrou-se disponível para pedir à sua equipa para abandonar o relvado, em casos de abusos racistas.
"Podemos fazer isso, sim [abandonar o relvado quando houver racismo]. Não estou sozinho no clube, teria de decidir juntamente com os dirigentes, o meu capitão e os meus jogadores, mas se todos nós concordarmos, podemos fazê-lo, porque não? Quando o clube, os jogadores ou a organização decidirem fazê-lo, pela minha vontade vamos segui-lo", garantiu o técnico catalão, antes de expressar o seu apoio a Raheem Sterling, um dos jogadores da seleção inglesam que denunciou abusos sofridos frente ao Montenegro.
"A situação muda quando se faz alguma coisa, caso contrário é impossível, fica tudo igual. É por isso que é bom quando pessoas como ele [Sterling] se expressam, é bom para o nosso futuro e para a nossa sociedade", disse Guardiola, lembrando que o futebol é uma 'arma' poderosa lutar contra o racismo.
"O futebol é uma arma forte para defender os princípios da humanidade, há muito tempo as pessoas diziam que não se pode misturar política e futebol, mas isso não é verdade. Os políticos estão em toda a parte, os direitos humanos estão em toda a parte. Há muito tempo, o Valência, de Guus Hiddink, não jogou porque havia uma bandeira nazista atrás da baliza", recordou Guardiola, explicando depois que este é um problema da sociedade, não só do futebol.
"O problema não é sobre o futebol em si, é a sociedade, o que está a acontecer na sociedade, a extrema direita está a avançar e a mensagem que eles estão a mandar para ganhar votos, eleições, não nos deixa seguros. Não é um problema do futebol, é a própria sociedade. Eu acho que na Europa, não no futebol, está a piorar", sublinhou.
Em Liverpool foi Jurgen Klopp a mostrar o seu apoio a Raheem Sterling, tal como já tinha feito em outras ocasiões. O treinador do Livepool sublinhou, na antevisão do jogo com o Tottenham, que também está disponível para mandar a sua equipa abandonar o relvado em casos de cânticos racistas.
"Estou tão desapontado por saber que neste momento, no nosso planeta, ainda é possível uma coisa dessas, de pessoas que são capazes de usar a sua voz pelas piores razões. Vi o jogo de Inglaterra mas sem som, por isso fiquei surpreendido quando vi Hendo [Jordan Henderson] a receber um cartão amarelo, quando Danny Rose também viu amarelo e quando vi Raheem [Sterling] a festejar em frente dos adeptos do Montenegro. Perguntei 'Mas o que se passa aqui'? Depois tudo fez sentido", recordou Klopp, pedindo que não se ignore o problema do racismo no futebol.
"Não podemos ignorar isto. Temos de apontar o dedo, discutir isto, sublinhar que as pessoas não podem fazer isto. Para alguns pode ser divertido mas não tem piada nenhuma. Nenhuma. Para mim é difícil entender o que sentem Raheem, Rose, ou outros jogadores que já passaram por isto [ataques racistas] porque nunca estive numa situação como esta. O que tiver de fazer, farei", atirou.
Para Jurgen Klopp, é preciso medidas mais drásticas.
"Temos de parar os jogos. Entendo que Gareth [Southgate] não o tenha feito [frente a Montenegro], que tenha dito que se resolveria fora do relvado, etc, mas temos de deixar claro que não é tolerável [os cânticos racistas]. Houve alguns incidentes esta semana e nas últimas, não apenas racismo, que não são agradáveis. Temos de deixar claro que não é agradável. Temos de acabar com isto", declarou.
O discurso de Maurizio Pochetino foi no mesmo sentido. O treinador do Tottenham lembrou-se das milhares de pessoas em todo o mundo que não são jogadores de futebol mas que sofrem com a discriminação por causa da cor da pele.
"[Danny Rose] está bem, queremos sempre apoiar os nossos jogadores, não só eles mas também o Sterling e as outras pessoas que sofrem com os abusos. Temos de falar disto, que não são apenas os jogadores a serem discriminados, mas também as pessoas que sofrem abusos todos os dias, que não podemos ver mas que acontece todos os dias. Por isso quero mostrar a minha solidariedade ao Danny [Rose] e ao [Raheem] Sterling, mas também a todos os que sofrem abusosm racistas. Temos de lutar contra isto, temos de lutar para que se acabe com os cânticos racistas", pediu o técnico do Tottenham, na antevisão do jogo com o Liverpool.
Ainda em Londres, outro emblema também mostrou a sua revolta com o tema do racismo. Maurizio Sarri falou de Hudson-Odoi, jogador do Chelsea que foi alvo de comentários e cânticos racistas no jogo ante o Dínamo de Kiev, para a Liga Europa.
"Não gosto de falar com ele [Hudson-Odoi] do problema, porque, infelizmente, não posso resolvê-lo. Em cada país, creio que há algumas pessoas estúpidas. [O racismo] é um grande problema e penso que devemos fazer algo diferente. Provavelmente, será certo parar o jogo por dez minutos na primeira situação. Precisamos de uma regra. Para a Premier League, mas também para todos os campeonatos e para todo o futebol", disse Sarri, citado pela BBC, na antevisão do jogo com Cardiff City.
Esta semana, a UEFA comunicou a instauração de um inquérito disciplinar a Montenegro, por comportamento racista dos adeptos durante o jogo de qualificação para o Euro2020 de futebol, frente à Inglaterra, que se impôs por 5-1, em Podgorica. O avançado inglês Raheem Sterling, autor do quinto golo da seleção inglesa, acusou os adeptos montenegrinos de terem entoado cânticos racistas contra o colega de equipa Danny Rose, na sequência de um desentendimento entre Aleksandar Boljevic, Jordan Henderson e Rose, que levou o árbitro a admoestar com o cartão amarelo todos os jogadores envolvidos.
Na mesma semana, o Comité de Controlo, Ética e Disciplina do organismo que rege o futebol europeu, decidiu castigar a Lazio, o Shakhtar e o Slavia de Praga com o fecho parcial dos seus estádios, devido a comportamento racista dos seus adeptos.
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