A dualidade da equipa de Jorge Jesus no embate frente ao Tondela faz lembrar a obra 'o estranho caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde' de Robert Louis Stevenson. A história de duas personalidades díspares, ora do amável médico, ora do terrível Mr. Hyde. Houve uma transfiguração entre o Benfica que iniciou o jogo ou o que retomou a segunda metade do encontro. O que mudou entre a primeira e a segunda parte na abordagem ao jogo da equipa do Benfica no embate frente ao Tondela? A posse de bola foi constante ao longo do jogo, com os encarnados a acabarem o jogo com uns impressionantes 76%, a inspiração e acutilância não. O Tondela fez apenas três remates à baliza em todo o jogo, mas no mais certeiro fez mesmo golo logo aos 22´, por intermédio de Salvador Agra.

Veja o resumo da partida

Na ressaca da euforia vivida após o triunfo na eliminatória frente ao PSV e a consequente qualificação para a liga milionária, o Benfica iniciou o jogo sem chama. Adormecido, quiçá, sobranceiro. Seguro de que mais cedo ou mais tarde a vantagem apareceria. Para o embate da quarta jornada, Jesus mudou sete jogadores no onze e recuperou o 4-4-2: André Almeida, Vertonghen, Pizzi, Meitë, Everton, Darwin e Gonçalo Ramos. Gilberto, Otamendi, Morato, Weigl, Taarabt, Rafa Silva e Yaremchuk saíram do onze. A equipa ressentiu-se: Das mudanças ou do cansaço? Um poucos desses dois fatores.

Mas esperava-se mais dos encarnados no arranque, afinal era a liderança isolada que estava em jogo. Mérito para a equipa de Pako Ayestarán, na forma como impediu a fluidez do jogo encarnado, tapou o jogo exterior e interior, secando homens como João Mário na primeira parte. Um duplo pivot no miolo servia de tampão, com o Benfica com muita dificuldade em criar lances de perigos. Um sistema mutante, que oscilava entre 4-4-2 e o 5-3-2. Na primeira parte, os tondelenses estiveram sempre confortáveis em posse, com trocas de bola e constantes movimentações, aproveitando as ações de João Pedro e a velocidade de Salvador Agra. Pizzi foi inexistente, Cebolinha esteve demasiado amarrado. Só praticamente Darwin tentou remar contra a maré nos primeiros 45 minutos.

Ao minuto 22´, os forasteiros chegaram ao golo. A bola chegou a Salvador Agra, que aproveitando o espaço concedido, rematou cruzado batendo Vlachodimos. Com mais jogo, mas com pouco esclarecimento, os encarnados criaram frisson na primeira parte, já quase em cima do descanso, com um remate de João Mário.

A desinspiração na primeira parte, na de forma de Meité, André Almeida e Pizzi, ficou no balneário. Entraram Weigl, Rafa e Gilberto na segunda. O arranque foi estonteante, com a equipa a insinuar-se perante o adversário. O Tondela perdeu esclarecimento e começou a entregar muito rapidamente a bola ao Benfica e não teve discernimento para entender as mudanças, ou pelo menos saber lidar com elas. Gilberto deu o mote, com o brasileiro a ficar logo perto do golo a abrir o segundo tempo, num cabeceamento após recarga. Niasse ainda tentou manter o Tondela no jogo. Adiou o golo enquanto pôde, parando os remates de João Mário e Grimaldo.

Mas a pressão encarnada acentuou-se e o empate chegou mesmo ao minuto 71´. A clarividência de João Mário encontrou Rafa (contando ainda com a ajuda de Weigl) que atirou a contar.

O Benfica tinha 20 minutos mais os descontos para tentar chegar ao golo do triunfo. O Tondela resistia, mas João Mário, com olhos de lince, voltou a tomar a decisão certa. Eduardo Quaresma tentou o corte, esta sobrou para Gilberto fazer o 2-1 aos 87´. Três pontos garantidos e olá à liderança isolada.

Momento

Minuto 87´ - O Tondela estava próximo de completar a sua missão, que seria somar pontos no estádio da Luz. Com o público a empurrar a equipa, Gilberto, com uma finalização com a ponta da bota, acabou por fazer o golo da vitória encarnada e ofereceu a liderança isolada à equipa do Benfica.

Melhores

João Mário

Continua a ser o grande pêndulo do Benfica. Primeira parte de menor produção, segunda parte ao seu nível e com a leitura habitual. Esteve nos dois golos dos encarnados.

Salvador Agra 

Concedeu dinâmica e velocidade, sobretudo na primeira parte. Fez o golo da Tondela, numa excelente finalização e continua a demonstrar os seus créditos.

Eduardo Quaresma

O central emprestado pelo Sporting comandou a defesa dos tondelenses e esteve irrepreensível na abordagem aos lances e na antecipação. No 2-1 acabou por fazer um corte que levou a bola para os pés de Gilberto.

Rafa

Bem podia ter o cognome de Rafa, o agitador. Há poucos jogadores que conseguem lidar com a sua velocidade e improviso. Deu aquilo que o Benfica precisava na primeira parte. Intensidade e risco. Fez o empate numa excelente finalização.

Gilberto

Jesus apelidou-o de "Patinho Feio" na forma como ainda não caiu no goto dos adeptos. Mas saltou do banco e deu algo de novo ao ataque do Benfica. Ofereceu os três pontos à sua equipa com uma excelente finalização.

Reações

"Creio que há mérito do Benfica". Pako Ayestarán elogiou qualidade do adversário, Salvador Agra destacou atitude da equipa

Jesus elogia Gilberto, o "patinho feio para os adeptos". Lateral sofreu após fazer o 2-1: "Quase sufoquei nos festejos"