Entrar numa rotunda pode ser uma tarefa complicada para quem ignore as regras de trânsito, e a festa da ‘onda encarnada’, que atravessou várias artérias de Portugal para confluir no coração da capital, terminou mesmo de forma abrupta, e violenta, com uma carga policial sobre adeptos do Benfica que celebravam com a equipa a conquista do segundo campeonato consecutivo de Jorge Jesus.
Não há justificação para a forma violenta como terminaram os festejos do Benfica após a conquista do bicampeonato nacional. O clima de tensão começou em Guimarães nas imediações do Estádio D. Afonso Henriques, com a polícia a revelar algum nervosismo na contenção dos adeptos do Benfica, e culminou com uma ‘chuva’ de garrafas e pedras sobre a PSP quando ainda tocava o hino do clube da Luz no Marquês de Pombal.
As imagens transmitidas por um canal de televisão em que se vê um polícia a agredir um pai e um avô à frente de uma criança sem que houvesse qualquer sinal aparente de violência por parte dos mesmos, deixou o país estupefacto e os adeptos do Benfica revoltados. No entanto, o rastilho de pólvora começou na cidade berço uma semana antes do jogo decisivo, quando um dirigente do Vitória de Guimarães aconselhou os adeptos ‘encarnados’ a não procurarem locais na cidade para as celebrações após a conquista do 34º título de campeão nacional.
Faltavam poucos minutos para a uma da manhã quando a comitiva do Benfica chegou à rotunda do Marquês de Pombal para celebrar com milhares de adeptos a conquista do 34º título de campeão nacional. Presidente e equipa técnica subiram a um palanque montado previamente para a festa do bicampeonato, e os cachecóis encarnados voltaram a ser erguidos depois de várias horas de muita festa quando o inexplicável aconteceu ainda com o hino do Benfica a ser entoado por milhares de pessoas.
Da festa do título ao caos total nas ruas da cidade foi um instante, e passava já pouco da uma e meia da madrugada quando a PSP começou a dispersar a ‘onda encarnada’ de regresso às artérias da capital, esvaziando o coração de Lisboa de uma euforia que não completou sequer uma volta à rotunda do Marquês de Pombal.
Violência gera violência, e quem segue a lei de talião acaba cego. Só não vê quem não quer ver. Das bolas de golfe aos incêndios nas bancadas dos estádios, o futebol português anda nervoso, sendo, talvez, um reflexo do país que um dia apelidaram de assentar nos pilares: Fado, Futebol e Fátima.
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