O Desportivo das Aves viveu a “melhor semana da época” nos dias que antecederam uma despedida atribulada da I Liga de futebol, após um ciclo inédito de três participações seguidas, defendeu hoje o médio Rúben Oliveira.
“São públicas as dificuldades que passámos ao longo da época, mas de uma coisa estou certo: apesar de tudo, e por muito estranho que possa parecer, toda essa semana foi a melhor da época e aquela na qual senti mais união”, apontou à agência Lusa o jogador dos nortenhos, cuja SAD ameaçou faltar aos últimos dois jogos do campeonato.
O plantel orientado por Nuno Manta Santos tomou conhecimento dessa intenção da administração do chinês Wei Zhao “pelas notícias” lançadas em 17 de julho, três dias após a derrota sofrida na visita ao Santa Clara (0-3), em duelo da 32.ª jornada da I Liga, mas manteve-se firme na vontade de competir até ao derradeiro minuto da última ronda.
“Não cabe na cabeça de ninguém faltarmos a dois jogos. Por sabermos que estavam a fazer de tudo para que não fôssemos a jogo, unimo-nos e dissemos que íamos a jogo. Era a nossa obrigação. Tínhamos um clube para representar, mesmo sem nunca termos mantido conversas ou recebido explicações da parte deles”, anotou Rúben Oliveira.
Os anseios da SAD tropeçaram no empenho do clube presidido pelo recém-eleito António Freitas, que desembolsou quase 50 mil euros para desbloquear a apólice de seguro de acidentes de trabalho e outras despesas logísticas inerentes à organização da receção ao Benfica (0-4, no dia 21) e da visita ao Portimonense (0-2, no domingo).
“Se estas pessoas da direção estivessem desde o início da temporada, não digo que não caíssemos de divisão, mas faríamos muito melhor. Só tenho coisas muito boas a dizer do senhor Freitas. É um indivíduo incansável e da terra, que conhece e adora muito o Aves. Não poderia haver melhor pessoa para salvar o clube desta situação”, argumentou.
Entre os dois encontros, os avenses assistiram à rebocagem dos dois autocarros, ao arresto de outros bens e às buscas da Polícia Judiciária no estádio e nas habitações de Wei Zhao e Estrela Costa, presidente da SAD e acionista da empresa gestora do futebol profissional, respetivamente, enquanto o clube salvaguardava todo o espólio do Desportivo das Aves.
“O clube não tem culpa nenhuma daquilo que a administração fez. Tínhamos de dignificá-lo ao máximo e não deixar que o destruíssem, respeitando os 90 anos de história e a fama muito boa de gente cumpridora. As pessoas daquela vila são apaixonadas pelo Aves e não podíamos deixá-las cair em desgraça”, admitiu Rúben Oliveira, de 25 anos.
Prova disso foram os momentos de comunhão entre jogadores e adeptos nas imediações do Estádio do CD Aves logo após o desaire com o Benfica, gesto repetido cinco dias mais tarde ao redor do Portimão Estádio, onde cerca de uma centena de fãs viajou quase 1.180 quilómetros para saudar a comitiva nortenha no adeus ao escalão principal.
“Os adeptos foram incríveis ao longo de toda a época e nunca nos deixaram de apoiar. Mesmo sabendo que ninguém poderia entrar no recinto, veio imensa gente a este último jogo e estiveram sempre lá fora a apoiar e a cantar. Eles são a melhor parte do clube e não merecem isto”, valorizou o centrocampista cedido pelo Vitória de Guimarães.
A SAD acumula três meses seguidos de vencimentos em atraso, responsáveis por 10 rescisões unilaterais de atletas no decurso do campeonato, uma das “coisas muito graves” que contribuíram para o desempenho do Desportivo das Aves, 18.º e último classificado, com 17 pontos, outros tantos abaixo da zona de salvação.
“No plano individual fiz uma época regular. Infelizmente, não aconteceu o mesmo a nível coletivo. Houve muitas coisas que nunca pensei ver numa I Liga, mas a verdade é que aconteceram. O meu irmão joga na distrital e nunca me contou coisas assim”, lamentou Rúben Oliveira, que somou 26 aparições na segunda passagem pela Vila das Aves.
As dívidas agudizaram-se com a paragem competitiva motivada pela pandemia de covid-19, que “poderia ter sido benéfica” para o emblema de Santo Tirso, embora “os líderes da SAD tenham deixado de acreditar” na fuga à despromoção, consumada em 29 junho, à passagem da 29.ª ronda, com a derrota na receção ao rival Moreirense (0-1).
Comentários