Bas Dost prestou esta quarta-feira depoimento na 29.ª sessão do julgamento da invasão à Academia do Sporting, em Alcochete. Um depoimento que já tinha estado agendado para sessões anteriores, mas que fora adiado por motivos de doença. Um depoimento há muito esperado e que se revestia de extrema importância para o processo.
O avançado holandês começou por descrever os eventos do dia 15 de maio de 2018. "Os jogadores estavam a entrar no balneário, estávamos preparados para o treino e, não compreendi porquê, o Vasco Fernandes mandou-nos para o balneário. Eu não voltei, fiquei no corredor; a porta abriu-se e entrou um homem com máscara", lembrou Dost.
O ponta-de-lança, que representa agora o Eintracht Frankfurt, conta que depois de ser agredido chegou mesmo a perder os sentidos. "Estava sozinho e fiquei com medo, até que um se voltou para mim. Não vi o que tinha na mão, mas atingiu-me na cabeça; caí para o chão e o indivíduo que me agrediu deu-me pontapés, dizendo a outro que fizesse o mesmo. Fiquei inconsciente no chão uns cinco minutos", referiu. Questionado sobre onde foi agredido, o holandês aponta "o torso, pernas e cara".
Bost relatou que foi o secretário técnico João Rolin a vir em seu auxílio. "O João Rolin veio para me ajudar e deu pontapés a quem que me agredia. Levantou-me e afastou-me do corredor. Tinha muito sangue na cabeça e ele levou-me para outro sítio. Disse-me que tinha de voltar para ajudar os outros. Nesse momento até fui egoísta e disse que não me deixasse", reconhece. "Foi tudo muito rápido, 5 minutos. Quando os meus colegas entraram perguntei se já tinham ido embora e disseram-me que sim", lembrou o holandês.
Questionado sobre se algum dos arguidos o tentou ajudar, Bas Dost referiu não, mencionando que estavam todos mascarados. Sobre o facto de ter pensado falar com eles, após pergunta da juíza, Dost respondeu. "Sou holandês e lá é possível resolver os problemas a falar" e sentia a responsabilidade de falar pelo facto de ser jogador.
Sobre se temeu pela sua vida, Bas Dost não deixou margem para dúvidas.
"Sim claro, foi um dia horrível, passados meses comecei a falar com pessoas mas tinha medo. Tive segurança pessoal, para minha família não houve problemas, mas para mim foi diferente, nem ao supermercado queria ir sozinho", admitiu. Bas Dost também revelou que não reconheceria quaisquer agressores. "Estavam vestidos de negro, talvez algum outro jogador os reconhecesse."
Em relação ao impacto que teve o ataque na sua vida e depois de questionado por um dos advogados, admitiu não gosta de recordar o que aconteceu e revelou ter feito terapia para tentar atenuar o trauma.
"Não tenho tanto medo como no primeiro mês, não posso dizer que tenho medo. Falei com terapeutas especialidades em trauma. "Tive apoio e disseram-me que saísse do país; fui de férias, foi horrível pois não sabia o futuro. A minha mulher estava grávida e queria ter o bebé em Lisboa. Fui com o meu agente para a Áustria e tive terapia. Nesse período pensei em muita coisa. As pessoas aconselharam-me a não ser medicado, só valia a pena se não dormisse e isso não aconteceu. (...) Nem ao supermercado queria ir sozinho", atirou.
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