Esta terça-feira, o diário desportivo 'Record' publicou uma entrevista com Jorge Jesus, atual treinador do Al-Hilal e antigo técnico de Benfica e Sporting. Mesmo a milhares de quilómetros de distância, na Arábia Saudita, o técnico português não esquece o futebol luso e promete regressar.
"O futebol português continua com a sua forma de comunicação agressiva, do ponto de vista da defesa dos clubes pelos seus comentadores. É outro jogo que os três grandes também têm de jogar", começou por dizer Jorge Jesus, comparando depois o futebol luso com o saudita. "A forma de estar no futebol aqui vai fazer com que olhe para as coisas de forma diferente quando voltar a Portugal", referiu.
"Especialmente do ponto de vista do respeito pelos adversários em termos de comunicação. Temos a mania dos 'mind games' em Portugal. Vou deixar de fazer isso. Porque entro em conflito individual. Foi o que fiz com o Rui Vitória quando troquei o Benfica pelo Sporting. Também o fiz com o Lopetegui quando estava no Benfica. Não lhe chamava Lopetegui. Chamava-lhe 'Lotopegui', porque havia interesse em expor o treinador adversário. Era uma estratégia de comunicação", admitiu Jesus.
A presidência de Varandas
Questionado sobre o atual presidente do Sporting, Frederico Varandas, e do despedimento de José Peseiro, Jorge Jesus esclareceu que "quem contratou o José Peseiro não foi o atual presidente. O Frederico Varandas é um homem que gosta de tomar decisões e ter as suas ideias. Se tivesse sido ele a contratar Peseiro, não o tinha mandado embora assim, tinha dado mais tempo ao treinador".
O treinador português elogiou ainda o trabalho do seu sucessor no comando dos 'leões' ao dizer que "José Peseiro não estava a fazer um mau trabalho. Acho normal que um presidente não queira trabalhar com um treinador que não escolheu, mas se eu fosse o presidente, não tinha mandado o José Peseiro embora".
As competições europeias
Já sobre a presença das equipas portuguesas nas competições da UEFA e questionado sobre o que podem essas equipas fazer, Jorge Jesus considerou que vão "ficar cada vez mais longe, porque os clubes mais poderosos estão a ficar ainda mais poderosos financeiramente".
"As pessoas desvalorizam a Liga Europa, mas fazem mal. Quando chegamos aos oitavos-de-final ou quartos-de-final, apanhamos equipas de Champions. Fui duas vezes à final - uma tive de eliminar a Juventus, na outra joguei com o Chelsea na final", esclareceu Jorge Jesus.
"Em Portugal muita gente nem diz o que sabe, nem sabe o que diz. Hoje em dia, o futebol é muito fácil de ser falado, mas muito difícil de ser jogado e treinado", garantiu.
O regresso a Portugal
Jorge Jesus não esconde que quer regressar a Portugal a todo o custo. Questionado sobre a possibilidade de treinar o FC Porto caso os 'dragões' sejam campeões e Sérgio Conceição deixe o clube, Jorge Jesus esclareceu: "Gosto muito do Sérgio Conceição e sou amigo dele (...). Sempre vai dar os passos que tem de dar e eu vou continuar a dar os meus".
"Para onde? Não sei. Quando volto a Portugal? Não sei. Agora que tenho isso como objetivo da minha carreira, tenho", referiu mais uma vez, explicando ainda que não se vê a treinar um grande da Europa porque "eles não têm dinheiro para me pagar".
"Se eu for para a Europa, têm de me pagar o dobro que me pagam aqui para eu receber o mesmo. Falando abertamente - hoje ganho 8 milhões de euros limpos, se for para a Europa têm de me pagar 16 milhões. Quem paga isso?", lançou Jorge Jesus.
Confrontado com uma possível ida para clubes como Barcelona ou Real Madrid, emblemas capazes de cobrir esses valores, o treinador português esclareceu que "ao vir para a Arábia Saudita, perdi prestígio na Europa. Nem o Real Madrid, nem o Barcelona ou outra grande equipa vê, buscar o Jorge Jesus que está na Arábia Saudita."
"Ir para Portugal é o único cenário que coloco, embora tenha consciência de que vou perder 5 ou 6 milhões por ano. Mas não me importo nada com isso, porque vou para o meu país, para a minha terra e vou para ao pé dos meus amigos. Abdico de 6 milhões para regressar ao meus país", concluiu.
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