Por estes dias vivem-se momentos de turbulência no Bessa, uma vez que o Boavista está a atravessar uma fase delicada, onde os problemas parecem surgir em catadupa. Tudo começou com a impossibilidade de inscrever reforços, passou para as graves acusações feitas ao presidente e agora o aviso da realização de um auditoria forense assustam os adeptos axadrezados.
Impedimento de inscrição de reforços
Mas vamos por partes. O problema começou ainda antes do início da temporada, quando as panteras se viram impedidas pela FIFA de inscrever os reforços Ibrahim Alhassan e Bruninho devido a dívidas pendentes, que o próprio presidente da SAD, Fary Faye, admitiu existirem.
"Apesar de todo o esforço colocado em prática por este Conselho de Administração (CA) nos últimos três meses, assumimos que este processo não estará concluído a tempo do início do campeonato. A sua resolução envolve múltiplos procedimentos e negociações intricadas, pelo que foi impossível de ultrapassar isso no curto tempo de vida deste CA", explicou através de um comunicado oficial.
Esta situação foi criada ainda sob o 'reinado' de Vítor Murta na liderança da SAD boavisteira que, como explicou o novo presidente, deixou um legado muito complicado para quem o substituiu.
"É inegável que a credibilidade do Boavista foi, nos anos mais recentes, profundamente afetada por comportamentos e práticas totalmente contrárias aos valores que defendo e que em muito prejudicaram e continuam a prejudicar uma instituição com 121 anos. Não há outra forma de o dizer: encontrámos uma SAD destruída financeiramente e altamente ferida na sua credibilidade para o exterior. Agora, é hora de reconstruir e de recuperar a credibilidade - e esse é um dos pontos de honra deste CA", revelou ainda Fary.
As vendas de Pedro Malheiro e Chidozie ainda ajudaram a amortecer o impacto destas sanções, mas foram insuficientes para que as panteras pudessem inscrever reforços e reforçar o plantel convenientemente.
Acusações a Vítor Murta
Como se isto já não fosse um problema grave o suficiente para a estabilidade do clube, a situação ganhou outro contornos quando o presidente do clube, Vítor Murta, foi acusado de assédio sexual por uma funcionária do emblema portuense. Por isto, acabou condenado a meio ano de castigo e 2.448 euros, na sequência de um processo disciplinar instaurado a 3 de outubro de 2023.
Para o Conselho de Disciplina da FPF não houve dúvidas quanto às acusações e Murta teria mesmo de ser punido.
"Durante o período de tempo em que a ofendida trabalhou na Boavista SAD, concretamente entre setembro de 2019 e meados de novembro de 2022, o arguido adotou, designadamente por meio de expressões e alusões grosseiras, comportamentos inconvenientes e que importunavam a ofendida, à data dos factos ainda bastante jovem", lê-se no comunicado do Conselho de Disciplina.
O dirigente já recorreu da decisão, que considera ter sido "demasiado rápida", apesar de a própria SAD condenar veementemente os atos referidos. Entretanto, o processo passou para o Ministério Público.
Auditoria forense
E como não há duas sem três, surge agora outra notícia que poderá abalar o universo axadrezado. A SAD do Boavista vai avançar com uma auditoria à gestão realizada por Vítor Murta, o que pode revelar outros problemas que ainda não são públicos.
O líder da Comissão Administrativa, o espanhol Carmelo Fraile, acusa Murta de gestão danosa e defendendo que "as consequências diretas da má gestão do anterior presidente continuam a provocar enormes dificuldades ao normal funcionamento da SAD".
"Importa referir que a gestão anterior estava centrada única e exclusivamente na figura do antigo presidente, sendo que a minha saída do anterior conselho de administração [no qual era administrador não-executivo] foi uma consequência direta da falta de transparência e da concentração de poder numa única pessoa, algo que, como se percebe, causou danos significativos a esta sociedade", explicou o dirigente.
Por sua vez, Vítor Murta afirma concordar com a auditoria à SAD para "acabar com os mitos" e acusa Carmelo Fraile de saber tudo o que se passava no clube e ter tomado algumas das decisões que deixaram o emblema do Bessa nesta situação.
"Entendo e concordo que é fundamental que seja feita uma auditoria às contas do Boavista para que, de uma vez por todas, se acabem com os mitos. Os atuais administradores devem fazer tudo para proteger os interesses da Boavista SAD. Esta será a terceira ou quarta auditoria que é feita e, com toda a certeza, mais uma não fará mal nenhum. Podem aproveitar esta auditoria para explicar aos sócios onde se encontram os cinco milhões de euros que o [acionista maioritário] Gérard Lopez enviou neste defeso e porque é que não pegaram nesse dinheiro e levantaram os impedimentos ou pagaram o acordo a que se obrigaram junto da Administração Tributária", atirou Murta.
O antigo presidente da SAD defende-se ainda explicando que potenciou vários atletas da formação para serem mais-valias num futuro próximo e avisa que o processo de que foi alvo não passa de uma "manobra de diversão".
"O processo teve início numa denúncia anónima e tem um duplo objetivo: por um lado, distrair os sócios para que estes não percebam a incompetência de quem está neste momento à frente da SAD; por outro, mancharem o meu nome de forma a afastarem-me da presidência do clube e assim dominarem também esta instituição", concluiu.
Resumidamente, o Boavista atravessa uma fase muito complicada, uma vez que além das questões financeiras, que por agora não têm resposta, está no meio de uma luta de poder que não se sabe como acabará para o clube. Além da proibição da inscrição de jogadores, o que afeta desportivamente, está também em vigor um passar de responsabilidades pela terrível situação financeira, que afeta em todos os níveis e que torna o futuro incerto.
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