Os desafios que o futebol atual coloca aos clubes portugueses foi tema de conversa de Domingos Soares de Oliveira, na Web Summit que decorre em Lisboa. O vice-presidente do Benfica marcou presença no Sports Trade para falar sobre competitividade no futebol atual e os desafios que clubes como o Manchester City e o PSG colocam aos demais. O Benfica está a tentar fazer frente aos colossos do futebol mundial com criatividade e inteligência, na procura de novos mercados e novas formas de financiamento.

"O maior desafio para clubes como o Benfica e portugueses no geral é o mercado externo. Fizemos e estamos a fazer um grande trabalho a nível da formação, o nosso scouting é muito bom, estamos em todo o mundo, temos jovens de enorme valor mas todos seguem o dinheiro. É difícil competir num mercado global. Se o Barcelona, Real Madrid, City ou PSG aparecer é difícil reter estes jovens. O que podemos fazer é reter estes jogadores mas para isso é preciso ter mais dinheiro ou criar alternativas financeiras para os reter", explicou Domingos Soares de Oliveira, num painel com David Griffin, dirigente na NBA, subordinado ao tema ´Legacy vs money: How can clubs compete?

Expandir a marca ´Benfica` ou esperar que a UEFA ´meta a mão nisto`

Para dar a volta a situação, o Benfica virou-se para o exterior e para a expansão da marca para mercados mais atrativos que possam proporcionar um aumento de receitas no futuro. Isso enquanto a UEFA não tome medidas para pôr cobro a loucura no atual mercado de futebol.

"Não há regulação. Até que a UEFA se pronuncie e tome medidas nesse aspeto, o único caminho é ter mais dinheiro para pagar salários mais altos aos jovens talentosos. O talento é raro, temos de pagar. O que temos planeado nos próximos anos é expandir a marca. Já estamos na China, EUA, Índia. É injusto competir com clubes como o PSG, Manchester City porque são clubes-Estado, é impossível. Um dos caminhos é expandir a nossa marca para continuarmos a crescer. Se tivermos mais receitas, como tivemos este ano, e falharmos em campo, ninguém ficará contente. Este é um dos desafios que enfrentamos", disse Domingos Soares de Oliveira, preocupado com o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. Enquanto os principais clubes europeus crescem a 12 por cento ao ano, os outros têm crescimento de sete por cento. Só a intervenção da UEFA poderá criar um mercado mais equilibrado.

"A diferença [entre os clubes mais ricos e os restantes] vai aumentando de ano para ano e se não encontrarmos uma solução ou a UEFA não fizer nada, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres será enorme. O presidente da UEFA está preocupado com isso porque sabe que não pode ter uma competição saudável quando temos cinco ou seis clubes a dominar. Em meses ou anos vamos ter mudanças", declarou.

Neymar colocou todos em sentido

A transferência de Neymar do Barcelona para o PSG [222 milhões de euros] foi tema de conversa. O vice-presidente do Benfica sublinha que é consequência do mercado, mas que a quantia paga deixou os colossos europeus em alerta.

"O problema com a transferência de Neymar [222 milhões de euros] é que chegamos a uma situação a que nunca tínhamos estado antes. Pagou-se muito e o salário é tão alto que é um desafio para os outros grandes clubes da Europa. E isto não vai parar, vamos ter esses salários e essas somas avultadas pagas por esses jogadores porque a visibilidade que dá ao clube que paga, compensa, é grande. Isto é o futuro, a não ser que a UEFA faça algo. Para nós será um desafio enorme, para o Barcelona, PSG ou Real Madrid, nem tanto", explicou.

Apostar na tecnologia para bater a concorrência

O Benfica tem criado estruturas tecnológicas que o colocam à frente de muitos clubes europeus, sempre na tentativa de tirar o melhor de cada atleta. Um desses projetos é o Benfica Lab mas o clube tem outras soluções tecnológicas, pensadas a médio e longo prazo. A monitorização do sono dos jogadores de futebol é um deles.

"Não há impossíveis, mas o desafio é fazer algo diferente, na forma como lidamos com os jogadores a todos os níveis. Temos muitas informações sobre os jogadores, os nossos e os outros, temos muita tecnologia aplicada a recolha dessas informações. A ideia é, com os dados que temos, conseguimos prever o que vai acontecer com determinado jogador daqui a cinco ou dez anos. Nesse aspeto trabalhamos com a Microsoft a nível europeu", disse Domingos Soares de Oliveira.

"Mas tudo se resume a talento, se o talento existe, os analistas irão ajudar a potencia-lo. Se não há talento, não há nada a fazer, independentemente dos dados que se tem. No Benfica controlamos a maneira como o jogador dorme, o que come, controlamos tudo o que se passa no seu dia a dia. Mas no campo será sempre o talento a decidir", frisou.

A Web Summit decorre entre 6 e 9 de novembro, em Lisboa.