Martín Anselmi foi apresentado esta manhã como novo treinador do FC Porto. O jovem técnico argentino foi a aposta da direção liderada por André Villas-Boas para retirar a equipa principal de futebol da depressão em que se encontra, com um empate e quatro derrotas neste 2025.

Na Invicta, Anselmi encontrará um Dragão ferido no seu orgulho, perdido nas suas ideias, à procura de uma identidade que o anterior técnico, Vítor Bruno, não foi capaz de incutir. No ataque a equipa tem dificuldades em marcar, e na defesa sofre golos de todas as formas, principalmente em lances de bola parada. A falta de confiança é tanta que quase todas os remates à baliza acabam no fundo das redes de Diogo Costa.

FOTOS: O primeiro dia de Martín Anselmi no FC Porto

O técnico argentino de 39 anos chega para implementar as suas ideias, na sua primeira aventura na Europa, sob o lema: "Só com talento não se resolvem jogos. Talento sem trabalho é desperdício. Talento com trabalho leva ao êxito".

Esquema tático: 3-4-3 e 3-4-1-2

Depois de sete épocas com Sérgio Conceição, a jogar em 4-4-2 e algumas vezes em 4-3-3, Vítor Bruno instituiu o 4-3-3 ou 4-2-3-1, mas a equipa nunca mostrou conforto em campo, principalmente na forma como atacava. A falta de jogadores criativos e capazes na tomada de decisão 'emperraram' o sistema, apesar de alguns resultados positivos, muito por culpa do sentido de oportunidade de Samu na frente de ataque.

As primeiras palavras de Martín Anselmi como treinador do FC Porto: "Prometo que vamos construir uma equipa que represente os portistas"
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Martín Anselmi é adepto do 3-4-3, que varia às vezes para um 3-4-1-2. No Olival há matéria para trabalhar este esquema tático, que poderá dar mais segurança defensiva à equipa. Tiago Djaló, Otávio, Zé Pedro e Nehuén Pérez são os centrais, Gabriel Braz poderá ser promovido da equipa B. O próprio Zaidu pode jogar nessa posição, algo que já fazia no Santa Clara.

Os alas têm apetência ofensiva, principalmente à direita, com Martin Fernandes e João Mário. Francisco Moura, que já foi extremo, também tem essa propensão ofensiva na esquerda. Galeno poderá ser melhor aproveitado como lateral/ala, como já foi feito com Conceição e Vítor Bruno. Uma posição que o retira da decisão num um-para-um com o lateral contrário quando é extremo, posição onde revela dificuldades na decisão com e sem bola.

Na zona central serão duas peças, e há espaço para Alan Varela e Nico González, sem esquecer Eustáquio ou Vasco Sousa.

À frente dos dois, Anselmi tanto pode jogar com extremos como Pepê, Ivan Jaime e Gonçalo Borges, como com dois criativos, neste caso Rodrigo Mora e Fábio Vieira. Na frente, há Samu e também Deniz Gul e Namaso.

Com Anselmi, Diogo Costa terá de assumir protagonismo na construção. O técnico argentino gosta que as suas equipas sejam intensas com e sem bola, onde o guarda-rede aparece como primeiro construtor ao lado dos centrais, jogando muitas vezes longe da área, para libertar mais um homem. As suas equipas têm paciência, controlam o jogo com bola na procura de um erro do adversário na pressão para depois atacar.

Se Nehuén Pérez ou até Zé Pedro tem essa capacidade para meter um passe entrelinhas, o mesmo não se poderá esperar de Otávio ou Tiago Djaló, centrais que mostram dificuldade com bola.

A defender, as suas equipas recuam e juntam-se num 5-3-2, com um dos extremos a recuar para o meio-campo. O técnico gosta de ter a sua linha defensiva alta, algo que não terá dificuldades em implantar no Dragão, já que os centrais, Tiago Djaló, Otávio e mesmo Zaidu são rápidos, em caso de bolas nas costas.

Martín Anselmi no FC Porto com ascensão meteórica e 'novela mexicana' à mistura
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Os adeptos portistas esperam que Anselmi possa usar mais jogadores da formação, algo que o técnico gosta. Lançou vários jovens no Independiente del Valle do Equador e no Cruz Azul do México. Jogadores como Rodrigo Mora, Vasco Sousa, Domingos Andrade, André Oliveira e João Teixeira poderão ser apostas no meio-campo.

Martin Anselmi estreia-se no banco na próxima quinta-feira diante do Maccabi Telavive, no último jogo da fase regular da Liga Europa. O FC Porto está obrigado a vencer para se apurar para o play-off. Resta saber se iremos ver já mudanças táticas.

Recuperar animicamente alguns jogadores

Uma das primeiras tarefas de Anselmi no Olival será recuperar animicamente alguns atletas, como são os casos de Galeno e Pepê. Os dois internacionais brasileiros estão longe da sua forma, principalmente o segundo, a braços com um processo disciplinar, após criticar, nas redes sociais, Vítor Bruno. Pepê nunca foi consistente no Dragão e a sua falta de capacidade de decisão em momentos-chave tem vindo a travar a sua evolução e o seu impacto na equipa.

Jogos recentes FC Porto

Galeno, que caiu em lágrimas após falhar duas grandes penalidades diante do Santa Clara é outro dos atletas que precisa de ser recuperado mentalmente. No início da época o jogador viu frustrada uma transferência para a Arábia Saudita onde iria ter um salário muito melhor do que aufere no Dragão. Apesar de sempre se ter mostrado disponível para ajudar, os adeptos portistas questionam até que ponto a mudança falhada para o futebol árabe não terá afetado mentalmente o extremo internacional pelo Brasil.

Alan Varela também está a ter uma época aquém do esperado, tal como João Mário e mesmo Nico González, jogadores que caíram muito de forma nos últimos encontros.

Dada a situação financeira em que o clube se encontra, é pouco provável que o FC Porto vá ao mercado fazer contratações, não sendo de descartar a aposta em jogadores emprestados.

Bolas paradas defensivas

A nível defensivo, um dos grandes desafios do técnico é corrigir a atuação da equipa nas bolas paradas. O FC Porto está a sofrer muitos golos na sequência de pontapés de canto, como se viu nas derradeiras derrotas com Nacional, Gil Vicente e empate com o Santa Clara.

A equipa já tinha sofrido de canto frente a Lázio e Manchester United, num ano onde tem mostrado muitas fragilidades, visíveis na pouca agressividade.

Diogo Costa, importante no FC Porto nos últimos anos, tem passado ao lado. Esta época já viu a equipa sofrer 32 golos em 31 jogos, o que dá uma média superior a um golo encaixado por partida.

Martin Anselmi não terá muito tempo de treino. Terá de aproveitar os jogos para implementar as suas ideias e dar uma nova cara ao Dragão. A começar já na quinta-feira.