Jorge Nuno Pinto da Costa continua, no programa 'Ironias do destino', do Porto Canal, a contar na primeira pessoa algumas das histórias que marcam a sua presidência do FC Porto desde 1982.

Na mais recente edição do referido programa, o líder máximo dos azuis e brancos confessa que esteve muito perto de deixar a presidência dos dragões em 1987, após a conquista da Taça dos Campeões Europeus, em Viena, e que até o então primeiro ministro Aníbal Cavaco Silva lhe disse achar que seria uma decisão inteligente.

Pinto da Costa contou que, depois do triunfo por 2-1 sobre o Bayern de Munique na capital austríaca na final da Taça dos Clubes Europeus de 1987 sentiu que "não tinha mais para fazer" e que o chegou a referir num homenagem feita ao FC Porto na Póvoa de Varzim, na qual esteve presente Cavaco Silva, primeiro-ministro na altura. "Cheguei a anunciar que ia terminar o mandato e não ia continuar. Depois, sentei-me ao lado dele e ele disse-me que era uma decisão inteligente, porque depois de ganhar aquilo já não o ia poder repetir", contou o presidente azul e branco.

"Entendo que o clube não pode parar. Deixo a promessa solene de que, com todas as forças vivas do FC Porto, irei ajudar a encontrar uma decisão melhor para o FC Porto". Foram estas as palavras de Pinto da Costa no discurso que fez nessa referida cerimónia, recordou agora o dirigente, antes de explicar o porquê de as ter dito e de não ter depois, afinal, saído.

"Aquilo criou uma grande obrigação ao clube. Falava-se de possíveis candidatos, mas ninguém quis assumir, porque achavam que era uma responsabilidade muito grande e não era o momento próprio, depois do feito de Viena", sublinhou Pinto da Costa.

Os títulos internacionais desse ano de 1987

No mesmo programa, Pinto da Costa falou das memórias e das histórias não só do título europeu de Viena, mas também da conquista da Taça Intercontinental que se seguiu, no Japão, debaixo de muita neve, frente ao Peñarol.

"Recordo tudo ao mais pequeno pormenor, da preparação à conquista, a emoção lá vivida, a nossa chegada ao Porto já de madrugada. Foi uma vitória que entusiasmou toda a gente e pôs o mundo do futebol de boca aberta, porque o Bayern era e é uma das grandes potências do futebol europeu. Conseguimos vencer contra todas as expectativas", lembrou sobre o êxito na Taça dos Campeões europeus.

"Depois de Viena, várias coisas aconteceram, como a saída de Futre, que tinha sido fundamental, a saída de Artur Jorge e a entrada do Tomislav Ivic. Tínhamos uma expectativa muito grande e curiosidade em ver como a equipa ia reagir às alterações e a Taça Intercontinental era a prova dos nove. Chegámos lá com bom tempo e no dia do jogo estava tudo coberto de neve. A primeira ideia era a de que não haveria condições, mas eu estava com uma convicção tremenda de que íamos ganhar. Não sei se era por dia 13, um dia que gosto muito... ", começou por recordar Punto da Costa.

"Na véspera tínhamos tido um jantar muito agradável com os dirigentes do Peñarol e a primeira coisa que o presidente deles me disse foi 'presidente, não há jogo'. Não há jogo? O árbitro é que tem de decidir. 'Não, não, não há jogo, não há condições, os meus jogadores não podem jogar'. Senti que eles estavam apavorados. Então, falei com os meus jogadores, tomei-lhes pulso e senti que não estavam com medo da neve, queriam jogar. O regulamento dizia que os dois clubes tinham de estar de acordo, senão era o árbitro que decidia. Eles pressionaram muito. Perguntei a Ivic se íamos jogar e ele disse que eu decidia. Por mim está decidido porque vamos ganhar. Quando chegou a altura, o presidente do Peñarol voltou a dizer que não queria jogar. O árbitro era austríaco e tinha de decidir", continuou a contar o líder máximo dos portistas.

Houve, então, um pormenor que convenceu o árbitro. "Ele estava mesmo indeciso. Eu sabia que ele terminava a carreira no dia 31 desse mês [dezembro] e disse-lhe 'se o senhor não fizer jogo, vai acabar a carreira porque o jogo fica para março. Vai acabar a carreira sem um jogo destes.... Comece o jogo e, se não houver condições para continuar, fica na história que você apitou a Intercontinental'. Ele compreendeu. Era franzino e aguentou perfeitamente o jogo, que até teve prolongamento. No final disse-me que eu tinha razão, era o jogo mais importante da sua carreira", conta Pinto da Costa ainda no mesmo programa do Porto Canal.

Os 'dragões', recorde-se, acabaram por vencer o encontro por 2-1, graças a um golo de Rabah Madjer já na segunda parte do tempo extra.