O fecho do mercado de transferências tem sido um dos ´cavalos de batalha` dos técnicos dos principais clubes portugueses. O alargado prazo da janela de verão, que vai desde o início de junho até aos finais de agosto (ou inícios de setembro, nalguns países) não dá sossego a quem quer formar um grupo de trabalho para atacar as competições.
Mas esta não é uma preocupação exclusivamente lusitana. Lá por fora, vários treinadores se têm manifestado contra o facto de o mercado de transferências estar aberto com as provas a decorrer, algo que limita a preparação das equipas. Os treinadores não sabem com o que contar para o resto da época, sem falar no facto de os jogadores não estarem totalmente focados, uma vez que não tem muitas certezas sobre o seu futuro.
O tema ganhou destaque esta época e foi levado à discussão pelos clubes no Fórum de Treinadores de Elite da UEFA em agosto, no Mónaco, no mesmo dia em que se realizou o sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões. Os portugueses levaram o tema a discussão, como deu conta Rui Vitória.
"Os treinadores são parte muito ativa nesta questão porque, de repente, ficamos a trabalhar com menos jogadores. Montamos uma equipa durante dois meses e, do dia para a noite, podem sair jogadores e as coisas podem mudar. Temos noção de que era importante o mercado fechar mais cedo, já o andamos a dizer há muito tempo e foi transmitido hoje. O mercado devia fechar antes do início das competições genéricas, mas tem de ser a UEFA a definir essas coisas, porque não faz sentido uma liga terminar mais cedo do que na outra. A data devia ser antecipada. Não faz muito sentido tudo poder ser alterado de repente", disse o técnico ´encarnado`, no dia 30 de agosto, em declarações reproduzidas pelo MaisFutebol.
Esta ideia já tinha sido defendida por Sérgio Conceição. O treinador do FC Porto foi um dos quatro técnicos a marcar presença no Fórum de Treinadores de Elite da UEFA onde, tal como Rui Vitória, defendeu um mercado de transferências mais curto e a fechar antes do início das competições profissionais. Esta sexta-feira, voltou a falar do assunto.
"Manifestei o meu desagrado por o mercado estar aberto quando os campeonatos estão a decorrer. Van Gaal teve uma intervenção em que focava precisamente que, se todos reconhecemos que é negativo o mercado estar aberto até tão tarde, por que é que isto continua? Não sei. Não sou a UEFA. Mas suponho que seja por haver diversos interesses pelo meio", comentou o técnico do FC Porto esta sexta-feira, na antevisão do jogo com o Desportivo de Chaves.
A pressão dos técnicos no seio da UEFA já deu frutos. A Liga Inglesa foi a primeira a dar um passo em frente e decidiu que a partir da próxima época, o mercado de transferências irá fechar às 17h da quinta-feira que antecede a primeira jornada da Premier League. Mas esta decisão, contudo, só se aplicará à contratação de jogadores. Os atletas que se encontrem em Inglaterra poderão continuar a ser vendidos para países cujo mercado continue aberto.
De todos os clubes, o Manchester United foi um dos que votou contra a medida. Mourinho, um dos técnicos da Premier League a queixar-se do encerramento tardio do mercado, explicou porquê.
"Há um elemento de desvantagem quando o mercado fechar para nós e continuar aberto para outros países. Eles podem vir às equipas inglesas contratar jogadores e podem deixar-nos sem possibilidade de respondermos rapidamente. Isso é um elemento de fraqueza. Espero que isto chegue à situação perfeita, que é fechar mais cedo para todos os campeonatos e não só para a Premier League", respondeu o técnico, em conferência de imprensa de antevisão ao jogo com o Stoke City.
Esta tomada de posição dos clubes da Premier League foi saudada por Rui Vitória na quinta-feira, quando fez a antevisão do jogo com o Portimonense.
"Fico contente por ver que algo que foi discutido entre treinadores já esteja agora a sair como decisão. Ainda assim, parece-me que também não vale de nada fazer decisões avulso, ser só a Liga inglesa a fazê-lo. É que problemas teremos sempre, mesmo sendo em julho. É importante ser uma decisão em conjunto", começou por dizer.
"Para os treinadores e as equipas será mais estável se assim for. É que isto não influencia só quem é alvo, mas influencia também um conjunto de jogadores. É algo que temos de gerir, pois às vezes um jogador depende de outro e não se consegue trabalhar como gostaríamos. É importante ser uma decisão conjunta", atirou Rui Vitória, que aproveitou para deixar conselhos para o mercado de inverno.
"Já agora, defendo que em janeiro não precisamos de um mês... Pode ser mais curto e limitado. Chegar ali, resolver, fechar e está feito!", explicou.
Também Conceição mostrou-se agradado com a decisão da Premier League.
“É uma excelente medida. Ainda agora estive no Fórum da UEFA com grandes treinadores e foi unânime a nossa posição. Não havia um que dissesse o contrário. O mercado fechar mais cedo é uma vantagem para toda a gente porque não corremos o risco de estar a treinar um mês com um jogador, que pode ter influência em toda a dinâmica da equipa, e perdê-lo. Aliás, ficar sem dois ou três jogadores nos últimos dias não é bom para ninguém”, comentou.
Mas não são só os ´grandes` em Portugal que sofrem com o fecho tardio do mercado. Os ´pequenos` também ficam limitados, como explicou Vasco Seabra, técnico do Paços Ferreira.
"Todos os treinadores desejam que o fecho do ‘mercado’ aconteça mais cedo. Como disse ontem [quinta-feira] um colega, preferíamos que o mercado pudesse fechar antes do primeiro jogo oficial, e, mesmo o mercado de janeiro deveria de ser mais curto, não é preciso um mês, talvez 15 dias sejam suficientes", explicou.
A decisão da Liga Inglesa começa a fazer escola. A Liga Francesa (LFP) admitiu, esta sexta-feira, que está "a favor" de proibir transferências após o início do campeonato, à semelhança do que vai acontecer na Premier League a partir da próxima época. "Esta questão estará na agenda de um futuro Conselho de Administração, que se realizará ainda antes do final do ano", revelou o organismo em declarações à Agence Frence-Presse.
Também a Liga Espanhola já está a pensar no mesmo, mas ainda não tomou qualquer decisão.
"A Premier League pediu-nos a opinião sobre o tema e a verdade é que há vozes a favor e contra. Não creio que seja algo prioritário, mas é preciso pensar no assunto porque se a Premier League tomou essa decisão, é porque é algo a discutir", comentou Javier Tebas, presidente da Liga Espanhola de Futebol.
A ´bola` está agora no lado da UEFA, que poderá avançar com um prazo que seja igual para todos os países.
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