O FC Porto reclama a sanção de uma derrota para o Sporting na participação disciplinar hoje enviada à Liga de Clubes, na qual sugere “delito de intenção” no “clima de intimidação” à arbitragem da I Liga de futebol.
No documento dirigido à Comissão de Instrução e Inquéritos (CII) da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, a que a agência Lusa teve acesso, a SAD portista acusa o Sporting e o seu presidente, Bruno de Carvalho, de coação, relatando exaustivamente o que considera “uma estratégia de intimidação e condicionamento que deu frutos”.
O FC Porto alega que essa mesma coação tem sido exercida sobre a arbitragem em geral, e foi-o, em particular, sobre a equipa de Pedro Proença, que dirigiu o “clássico” da 23.ª jornada, exemplificando com o golo da derrota dos “dragões”, “precedido por um claro fora de jogo”.
Na participação, o capítulo da coação é onde os portistas não poupam argumentos e exemplos, aludindo ao “ambiente de hostilidade, intimidação e maledicência que os denunciados vinham tendendo desde o início da época”, e que “atingiu o seu zénite” na semana que antecedeu o encontro entre os dois emblemas.
Os portistas referem a conferência de imprensa de Bruno de Carvalho a 10 de março, na qual o presidente leonino fez contas diferentes da classificação em vigor, reclamando a liderança do campeonato, assim como um texto seu na página pessoal na rede social Facebook e a criação do Movimento Basta.
Para os portistas, tudo o que foi dito, reportado e escrito da parte do líder leonino refletiu-se numa “encenação mediático-intimidatória”, que contou com "outra cartada” a dois dias do encontro, quando, em comunicado, o Sporting anunciou procedimentos litigiosos contra os árbitros e dirigentes associativos e federativos.
Segundo a participação da SAD portista, nesse comunicado, emitido na antevéspera do “clássico”, o Sporting ameaçou os árbitros “com ações judiciais pelas suas decisões – deliberadas ou não; evitáveis ou não! – que se tenham repercutido na perda de pontos” na época anterior, assim como para a distância de sete pontos para o primeiro classificado, o Benfica, na atual.
Por isso, “através das iniciativas descritas, que culminaram com o comunicado de 14 de março, o Sporting pretendeu condicionar a arbitragem” do jogo entre “leões” e “dragões”.
Ainda a esse propósito, a queixa sublinha: “Esta ofensiva, já de si qualificável como violência moral, foi depois reforçada com uma ameaça, nunca antes vista no futebol nacional, de recorrer a ações litigiosas, visando árbitros, dirigentes da arbitragem, órgãos federativos, LPFP, etc, para que o Sporting fosse compensado por prejuízos sofridos por decisões de arbitragens em jogos passados”.
“Ao fazer esta ameaça mesmo em cima do seu jogo com o FC Porto, o Sporting quis amedrontar a equipa de arbitragem que iria dirigir essa partida, criando, através da intimidação, um constrangimento à sua liberdade de decidir de acordo com a sua consciência”, relata a participação.
A SAD portista concluiu que “a atuação dos denunciados consubstancia-se numa infração disciplinar de coação”, tipificando-a ao nível do “delito de intenção”, isto é, “não sendo necessário comprovar que os destinatários da violência se sentiram efetivamente condicionados e/ou que, fruto da violência, a arbitragem acabou por decorrer num contexto de anormalidade com influência no resultado”.
É precisamente com este último argumento, previsto no ponto 3 do artigo 66 do Regulamento Disciplinar, que FC Porto reclama a perda de três pontos pelo Sporting: "Os factos referidos (...), quando na forma de tentativa, serão punidos com sanção de derrota e, acessoriamente, com a sanção de multa de montante a fixar".
Os portistas juntam ainda à participação os casos de vandalismo e ameaças aos interesses pessoais do árbitro Manuel Mota, as declarações de Vítor Pereira, presidente do Conselho de Arbitragem, que disse "temer pela vida dos árbitros", e as de José Fontelas Gomes, da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol, que afirmou haver “um clima de terror à volta da arbitragem, com consequências para o futebol português”, e de “proporções insuportáveis”.
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