Esta quinta-feira fez-se história no Estádio António Coimbra da Mota e no futebol português. Pela primeira vez na história das competições profissionais masculinas a nível nacional, uma mulher entrou em campo, munida de uma bandeirola, para auxiliar na arbitragem de um encontro. Essa mulher chama-se Vanessa Gomes.
O relógio marcava 20h00 e estávamos perante o tão esperado regresso da segunda divisão do futebol português ao ativo, 185 dias depois do último jogo, antes do cancelamento da prova na sequência da pandemia de coronavírus que assolou o mundo. Mas, além desse desejado retorno, estávamos ainda perante um momento inédito e marcante para o futuro do futebol português.
Depois de 13 anos como árbitra, Vanessa Gomes conquistou a proeza de se tornar a primeira mulher a arbitrar um encontro dos campeonatos profissionais masculinos portugueses (I e II Ligas). Não havia público nas bancadas do Estádio António Coimbra da Mota, mas todos os olhos estavam postos, mesmo assim, neste momento que vai ficar para a prosperidade.
Para celebrar o feito inédito, Vanessa Gomes foi homenageada. Na presença de um adepto de cada uma das equipas - Estoril Praia e Arouca -, a árbitra recebeu das mãos de Helena Pires, diretora executiva de competições da Liga, a bola oficial da prova autografada por todos os jogadores dos dois emblemas.
Mas, afinal, quem é Vanessa Gomes?
Nascida em 15 de agosto de 1987, Vanessa Alexandre Dias Gomes tem portanto, 33 anos. Fez história pela arbitragem, embora nem sempre tenha sido a vocação com que sonhou. Na verdade, a arbitragem só surgiu na sua vida quando esta tinha já 20 anos, em 2007.
Na realidade, Vanessa Gomes é formada... em psicologia. Mas, há 13 anos, decidiu que queria dedicar-se à arbitragem. Assim fez e o desporto nacional agradece. Durante várias temporada apitou jogos dos campeonatos distritais, em todos os escalões.
Filiada na Associação de Futebol de Lisboa, Vanessa Gomes decidiu tentar a carreira de árbitra assistente. Atualmente, é internacional e figura agora na categoria AAC2, que permite ser assistente na II Liga e que lhe abriu a porta para o Estádio António Coimbra da Mota.
Uma porta aberta para o futuro
Mas, Vanessa Gomes não é a única nesta caminhada por mais oportunidades para as mulheres na arbitragem nacional. Ao seu lado estão também Cátia Tavares e Olga Almeida. As duas vão seguir as pisadas de Vanessa Gomes ainda esta jornada, sendo que Olga Almeida foi escolhida para auxiliar o Cova da Piedade-Mafra e Cátia Tavares foi chamada para o Vizela-Oliveirense.
Além disso, esta temporada, na categoria C4 estão duas árbitras de campo, Catarina Campos e Sílvia Domingos, que poderão vir a arbitrar as competições masculinas do Campeonato de Portugal, terceiro escalão nacional, e da Liga Revelação, principal prova nacional sub-23.
Todas estas árbitras continuam a fazer jogos femininos. O Conselho de Arbitragem tem ainda este ano, três observadoras no quadro de observadores nacionais de futebol.
De recordar que neste ano de 2020, Portugal teve 36 árbitros internacionais, entre eles a árbitra Teresa Oliveira, que entrou para o quadro internacional. Ao todo, Portugal conta com quatro árbitras internacionais: Teresa Oliveira, Sandra Bastos, Sílvia Domingos e Catarina Campos. Vanessa Gomes também é internacional.
Além das quatro árbitras internacionais, Portugal conta com outras quatro assistências com insígnias da FIFA: Vanessa Gomes, como já foi referido, e ainda Olga Almeida, Andreia Sousa e Cátia Tavares.
O exemplo europeu
Portugal começa assim a dar os primeiros passos nesta questão e a seguir assim o exemplo dado lá fora. Recorde-se que, há pouco mais de um ano, o Liverpool conquistou a Supertaça Europeia ao bater o Chelsea por 5-4 nas grandes penalidades, num jogo histórico já que foi a primeira vez que uma final europeia de clubes foi dirigida por uma mulher. O trio de árbitras, liderada pela francesa Stephanie Frappart, tinha ainda a também francesa Manuela Nicolosi e a irlandesa Michelle O'Neal como auxiliares.
Frappart já tinha entrado na história em França quando se tornou a primeira árbitra a dirigir um jogo da ‘Ligue 1, entre o Amiens e o Estrasburgo, em abril de 2019. No entanto, Stéphanie Frappart não é a primeira árbitra a dirigir jogos de uma competição masculina da UEFA, uma vez que a suíça Nicole Petignat, entre 2004 e 2009, apitou três jogos da fase de qualificação da Taça UEFA.
Já em 2017, a alemã Bibiana Steinhaus tornou-se a primeira mulher a arbitrar um jogo de futebol de primeira divisão de um dos grandes campeonatos europeus, ao dirigir o Hertha Berlim-Werder Brmen, da terceira jornada da liga alemã.
Depois de ter arbitrado durante 10 anos na segunda divisão e ter sido nomeada para os mais importantes jogos do futebol feminino, esta funcionária de polícia foi selecionada para figurar entre os 24 árbitros da 'Bundesliga'.
Algumas árbitras exerceram enquanto auxiliares em jogos do principal escalão em França, Itália ou em Inglaterra, mas Steinhaus foi a primeira a usar o apito a este nível.
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