Este sábado, 26 de Março, celebra-se mais uma edição da 'Hora do Planeta'. Uma vez mais, aquele que é o mais importante evento anual da WWF (World Wide Fund for Nature) vai juntar milhões de pessoas em todo o mundo num momento de reflexão pela proteção do Planeta, pedindo a todos para apagarem a luz durante uma hora de forma a mostrarem o seu apoio à ação pela preservação da natureza.
No nosso país, o assinalar da data é da responsabilidade da Associação Natureza Portugal (ANP), enquanto representante nacional da WWF, e tendo o desporto um papel social cada vez mais preponderante nos dias que correm, não podia ficar à margem de um acontecimento com este simbolismo.
Assim, querendo incluir uma vertente desportiva ao ar livre nesta iniciativa, a ANP vai promover no sábado, pelas 17 horas, a corrida 'Move-te pela Natureza'. Trata-se de um evento composto por um percurso de cerca de 12 quilómetros, com componente competitiva, e por um trilho mais curto, de aproximadamente seis quilómetros, de participação gratuita e que pode ser percorrido a caminhar ou a correr.
O SAPO Desporto foi saber mais sobre esta prova e sobre esta tão importante data na defesa dos recursos naturais do Planeta, procurando também perceber o que outras instituições desportivas, como a Federação Portuguesa de Futebol ou a Liga Portugal, estão a fazer no âmbito da sustentabilidade ambiental.
Correr na natureza, pela natureza
"A 'Hora do Planeta' é um movimento global que une milhões de pessoas em todo o mundo para mostrarem o seu compromisso com o planeta. Nasceu em 2007, em Sidney, na Austrália, quando 2,2 milhões de pessoas e mais de 2 mil empresas apagaram as luzes por uma hora numa tomada de posição contra as alterações climáticas", explica a ANP.
Desde então, a 'Hora do Planeta' foi crescendo até se tornar num movimento de sustentabilidade global, com mais de 3,5 mil milhões de pessoas em 192 países a mostrarem anualmente, no último sábado de março, o seu apoio à causa ao desligarem simbolicamente as suas luzes por 60 minutos, criando uma lembrança visual impossível de ignorar.
"Este é um momento importante em que os cidadãos são chamados a tomar uma posição pública e a defender a natureza. É imperativo não só travar a destruição dos ecossistemas a que assistimos actualmente, mas também restaurar o que já destruímos. Precisamos de medidas eficazes para colmatar os enormes danos que o planeta já apresenta", refere Ângela Morgado, diretora executiva da ANP.
Em Portugal, a edição deste ano da 'Hora do Planeta' será dedicada ao Restauro da Natureza, em linha com uma proposta da Comissão Europeia que será em breve discutida entre os Estados-membros. É nesse contexto que surge a corrida 'Move-te pela Natureza'.
O ponto de partida e chegada da prova será o topo do Parque Eduardo VII, na Alameda Cardeal Cerejeira, em Lisboa, e o percurso integra não só uma componente urbana, de estrada, mas também outra de natureza, com passagem pelo Parque Florestal de Monsanto.
Uma corrida 100% livre de plástico e que vai deixar o trajeto ainda mais limpo
Para a realização desta prova, a ANP conta com o apoio da WeRun, empresa de organização de provas desportivas no âmbito do running que dá, também ela, especial atenção às questões ambientais na sua atividade.
À conversa com o SAPO Desporto, Célia Amado, responsável pela gestão de eventos da WeRun, explicou-nos como estas preocupações ambientais são cada vez mais uma realidade nas competições desportivas no geral e nas provas organizadas pela sua empresa.
"Procuramos apoiar sempre estas causas ambientalistas e tentamos sempre melhorar a nível do material que usamos. Há alguns anos que trabalhamos com material reutilizável na marcação de percursos, como fitas de tecido que são lavadas e depois utilizadas noutras provas; além disso, usamos sprays biodegradáveis, amigos do ambiente, apesar de serem mais caros”, começa por referir.
"Estamos a tentar, cada vez mais, mudar no sentido de que tudo possa ser mais ecológico. Há aspetos que não são fáceis de contornar, mas aquilo que conseguimos vamos mudando. Sempre que possível evitamos o plástico. Temos uns bidons próprios para fazer o abastecimento dos atletas, que levam o seu próprio recipiente. E, no que toca às t-shirts, começámos a colocá-las à parte no valor da inscrição. A ideia é produzir apenas as estritamente necessárias, para evitar desperdícios. São essas pequenas coisas que vamos melhorando e que vão fazendo a diferença.", acrescenta.
Célia Amado salienta que estas são preocupações cada vez mais presentes quer nos atletas, quer também em quem promove os eventos.
"Nota-se uma atenção crescente dada por pessoas e organizadores a esta questão e nós temos o cuidado, nas propostas e orçamentos que apresentamos, de o incentivar, dizendo 'fazemos desta, desta e desta maneira, com estas preocupações'. E as pessoas aceitam, mesmo que o custo suba um pouco. Criar corridas mais ecológicas acaba por compensar", sublinha.
Essa foi uma das razões que levou a ANP a optar pela WeRun para a ajudar na realização da corrida 'Move-te pela Natureza'.
"A ANP sabe como nós trabalhamos e foi por isso que nos escolheu para organizar esta prova. As marcações do percurso vão ser todas recicláveis e tudo será recolhido logo após o evento. Além disso, vai ser um evento 100% livre de plástico. Os atletas vão levar os seus recipientes, que nós reabastecemos com bidons de água. Tentámos também dar uns dorsais feitos de semente e que, no final da prova, podem ser plantados, mas não foi possível dado o seu custo se ainda demasiado elevado", explica Célia Amado.
A responsável da WeRun deixa uma garantia: o percurso vai ficar ainda mais limpo do que estava antes da corrida. "Em todas as provas da WeRun promovemos também a atividade do 'plogging', com atletas que vão fazendo a recolha de lixo enquanto caminham. E isso também vai acontecer agora neste evento da 'Hora do Planeta'.
"Costumamos dizer que nas provas onde nós vamos, os trilhos por onde passamos não ficam mais sujos. Acabam é por ficar mais limpos", sublinha Célia Amado, da WeRun.
O percurso, esse, foi pensado de acordo com a temática da edição 2022 da 'Hora do Planeta'. "A partida e a chegada vão ser no topo do Parque Eduardo e a prova terá uma vertente urbana, antes de entrar em Monsanto, onde decorrerá depois o trail propriamente dito. A escolha do percurso foi pensada em função do tema deste ano da 'Hora do Planeta', que é mesmo a natureza, e daí fazer sentido que a rota, ao contrário do que sucedeu em anos anteriores, em que foi totalmente urbana, tenha também desta feita uma parte em trilho, dentro de Monsanto, por zonas verdes, muito bonitas", esclarece Célia Amado.
O ambiente também é uma preocupação no mundo do futebol: FPF e Liga Portugal têm planos e manuais de sustentabilidade ambiental
As preocupações ambientais no mundo do desporto vão, naturalmente, muito para além do simples assinalar de datas como a 'Hora do Planeta', tratando-se de um assunto olhado com cada vez mais atenção por clubes e federações nas mais diferentes modalidades.
O futebol, claro, não é exceção e quer a Federação Portuguesa de Futebol quer a Liga Portugal trabalham com afinco nessa área, tendo mesmo esta última um Manual de Sustentabilidade Ambiental próprio, lançado pela sua Fundação do Futebol, em parceria com a Sociedade Ponto Verde
Luís Estrela, Coordenador do Departamento de Marketing da Fundação do Futebol, explicou-nos que, ao contrário do que aconteceu noutros anos, a Liga Portugal não se associou este ano diretamente à 'Hora do Planeta' por estar a levar a cabo outra campanha de responsabilidade social, relacionada com o racismo, não querendo tirar visibilidade a uma com a outra. Sublinhou, no entanto, o trabalho desenvolvido na área ambiental e os seus objetivos.
"É um trabalho contínuo. Não é específico para uma data ou um dia. O que pretendemos é que sejam as próprias sociedades desportivas e os próprios clubes a assinalar essa e outras datas. Com esse propósito, criámos então um manual de sustentabilidade ambiental, precisamente para os clubes trabalharem essa vertente em ambiente estádio e nas suas infraestruturas", ressalva.
"Pretendemos que sejam os clubes a promover essas iniciativas, até porque são eles que mais diretamente influenciam as suas comunidade", reforça Luís Estrela, da Fundação do Futebol
Esse Manual de Sustentabilidade Ambiental para o Futebol Profissional pressupõe um conjunto de boas práticas a adotar pelos clubes no âmbito da política dos 3 R’s: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. O documento procura promover a consciencialização das Sociedades Desportivas para a importância da temática ambiental nas diferentes vertentes e incentivar a implementação de medidas ecológicas nos estádios.
A ideia é promover uma participação ativa das Sociedades Desportivas na redução da pegada ecológica do futebol e diminuir o impacto ambiental dos eventos a ele ligados, incentivando os clubes a desempenharem um papel ativo na implementação de boas práticas ambientais e a servirem ao mesmo tempo como exemplo para o resto da sociedade.
Tal como a Liga Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol também não se irá este ano associar diretamente à 'Hora do Planeta', como já fez no passado, por estar neste momento com enfoque numa campanha antidiscriminação. Tal não significa, porém, que não seja muita a importância dada às questões ambientais, como nos explicou Francisca Araújo, coordenadora da área de Responsabilidade Social da FPF.
"A diminuição do nosso impacto no meio ambiente é de vital importância para a FPF. A sustentabilidade ambiental é um dos pilares do nosso plano estratégico de responsabilidade social, sendo uma das maiores problemáticas do nosso tempo. Estamos neste momento a desenvolver um plano e vários estudos sobre o impacto da nossa atividade no meio ambiente para contabilização das nossas emissões de carbono e daí implementar políticas que nos permitam minimizar este impacto em todas as áreas." nota Francisca Araújo.
Alguns passos foram já dados na Cidade do Futebol, com a utilização de painéis solares para produção de águas quentes sanitárias, mas não só. "A curto prazo, o tratamento dos relvados de futebol e restantes espaços verdes passará a ser assegurado exclusivamente por aparelhos elétricos. A iluminação e a climatização dos edifícios são controladas por um software específico, que permite rentabilizar os gastos energéticos e a Cidade do Futebol irá sofrer um crescimento em breve, o que vai impactar também as novas medidas que iremos adotar", adianta a coordenadora da área de Responsabilidade Social da FPF.
Mas a Federação Portuguesa de Futebol não se fica por aí. Também o combate ao desperdício alimentar é uma preocupação e, através de uma parceria com a REFOOD, todos os desperdícios alimentares das refeições realizadas na Cidade do Futebol são recolhidos pelos voluntários do projeto para entrega a famílias necessitadas. Além disso, foram implementados contentores para a reciclagem de resíduos em todas as divisões e departamentos da Cidade do Futebol.
A par destas medidas introduzidas na sua sede, a FPF procura também promover práticas semelhantes nas associações e clubes de futebol de todo o país, ao mesmo tempo que aposta na consciencialização. Recentemente, mais de meia centena de estudantes e jovens desportistas nacionais tiveram oportunidade de visitar a Cidade do Futebol para ficarem a conhecer as ações de sustentabilidade ambiental praticadas pela Federação. Foi uma ação realizada a propósito da Semana Europeia do Desporto, em parceria com o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), que decorreu no âmbito do programa 'Goals', um projeto europeu de sustentabilidade no futebol que visa ajudar organizações ligadas ao desporto-rei, como a FFP, a melhorarem procedimentos ambientais.
Lá fora, a equipa de Ciclismo da Movistar vai ajudar a ‘dar a volta à Terra’
Pelo mundo fora, a 'Hora do Planeta' é assinalada anualmente por diferentes modalidades, clubes e instituições desportivas. A UEFA, por exemplo, desde 2009 que se associa à iniciativa, mobilizando futebolistas de forma a que estes aproveitem a sua visibilidade para mostrarem o seu apoio à causa.
Outro exemplo da consideração dada pela UEFA ao ambiente verificou-se no Campeonato da Europa, onde o organismo máximo do futebol europeu não poupou esforços para reduzir ao máximo o impacto ambiental do evento, fazendo com que este produzisse algo de positivo a esse nível, o que foi conseguido através da prioridade dada à utilização de transportes públicos, à gestão dos consumos de energia e à procura de fontes sustentáveis locais. Mais recentemente, a UEFA avançou também com a campanha de sensibilização pública 'Cleaner Air, Better Game'.
"A má qualidade do ar ameaça a saúde da sociedade e do desporto a longo prazo. Ao atingir um público tão vasto, o futebol pode desempenhar um papel importante na sensibilização para o perigo real e presente da poluição atmosférica, tanto dentro como fora do campo", explicou o presidente da UEFA, Aleksander Čeferin.
Entre as muitas iniciativas que por esse mundo fora ligam desporto e sustentabilidade ambiental, uma – alusiva concretamente à 'Hora do Planeta 2022' e promovida pela WWF em Espanha, à qual se associou a Movistar Cycling Team - merece destaque pela originalidade.
A WWF Espanha desafiou desportistas - profissionais e amadores - a fazerem "quilómetros pelo planeta", somando as distâncias percorridas na sua atividade desportiva com o objetivo de atingir o total simbólico (entretanto já amplamente superado) de 40 mil quilómetros, equivalente a uma volta ao Planeta Terra. A ideia passa por não só fomentar a atividade desportiva, mas também utilizar os valores e visibilidade desta para mostrar que, com o esforço de toda a sociedade, "o contrarrelógio contra a emergência climática e a destruição da natureza pode ser vencido".
A Movistar, uma das mais conceituadas equipas de ciclismo do mundo, juntou-se à campanha e comprometeu-se a adicionar a essas contas um total de 10 mil quilómetros feitos pelos seus ciclistas, colocando assim nomes como Alejandro Valverde, Eric Mas, Annemiek van Vleuten ou Emma Norsgaard a pedalarem pelo bem do planeta.
Esta atenção dada pela Movistar Cycling Team às questões ambientais não é de agora. Em 2020, lançou um plano que envolve a medição da sua pegada carbónica de forma a conseguir compensá-la e neutralizá-la, seguindo elevados padrões de qualidade na luta contra o aquecimento global.
A iniciativa, apoiada pela Union Cycliste Internationale (UCI), incluiu um Manual de Boas Práticas em Sustentabilidade e recebeu já o Selo do Ministério da Transição Ecológica de Espanha. Desde que foi implementado, o plano permitiu já à equipa de ciclismo da Movistar diminuir consideravelmente a sua produção de gases de efeito estufa e, assim, reduzir a sua pegada de carbono - estimada em 175.000kg de CO2 por ano em 2020.
São, assim, muitos os exemplos de como, seja como meio de consciencialização, seja com ações com efeito prático na redução da pegada ambiental inerente à atividade desportiva a nível competitivo e profissional, o mundo do desporto dá cada vez mais importância à sustentabilidade ambiental. Uma importância que vai muito para além do simples assinalar de uma data como a 'Hora do Planeta' e que, como se constata, pretende ser uma aposta cada vez mais constante entre clubes, federações e organizadores de eventos desportivos.
Comentários