O desporto constitui uma das “principais ferramentas” para consumar a “plena integração” das comunidades imigrantes em Portugal, defendeu na quinta-feira a secretária de Estado para a Integração e as Migrações.
“O desporto é uma medida estratégica para ter uma sociedade mais rica, equilibrada e coesa e um instrumento essencial para capacitar os líderes do amanhã. Realço nesse caminho o empenho e profissionalismo do movimento desportivo, muitas vezes de forma gratuita”, enalteceu Cláudia Pereira, numa sessão virtual do Panathlon Clube de Lisboa.
O Governo lançou nesta legislatura uma inédita Secretaria de Estado para a Integração e as Migrações, sob a tutela da ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, face à presença de quase 600.000 imigrantes, dos quais 133.000 em idade jovem.
“Muitas vezes, os campos de basquetebol e futebol são o único espaço onde pessoas de diferentes nacionalidades se encontram. Dou um exemplo: em Lisboa, o Campo Mártires da Pátria é o único espaço onde se reúnem chineses, alemães, bangladeshianos, cabo-verdianos e portugueses. É um dos mecanismos mais eficazes de integração”, ilustrou.
Além do estímulo às autarquias para construírem equipamentos destinados “a quem não consegue pagar as mensalidades de prática de desporto”, Cláudia Pereira lembra o contributo do Alto Comissariado para as Migrações (ACM) em três iniciativas inclusivas.
“O programa Escolhas existe há 20 anos e funciona em bairros com elevado nível de desemprego, delinquência e abandono ou insucesso escolar. Por outro lado, desde 2003 que o país tem desenvolvido uma integração de proximidade através de 114 locais de apoio aos imigrantes, além dos centros nacionais em Lisboa, Porto e Faro”, constatou.
Se estes projetos já revelam “o exemplo emblemático do desporto como mecanismo de integração”, o ACM também protocolou com a Fundação Benfica a prática de futebol por parte de 43 crianças e jovens provenientes de campos de refugiados na Grécia.
“Dos 500 refugiados previstos, já acolhemos 178. Estas práticas quotidianas de educação não formal, como o desporto, são vitais e ajudam as crianças a ter competências sociais. Em países onde há guerra, muitas vezes é impossível ir à escola ou ter práticas desportivas”, enquadrou a secretária de Estado para a Integração e as Migrações.
Nessa lógica, Cláudia Pereira qualificou como “história de sucesso” o sonho olímpico do refugiado afegão Farid Walizadeh, pugilista que renasceu em Portugal desde o acolhimento em 28 de dezembro de 2012, após uma vida de inúmeros obstáculos.
“Com a vida suspensa, o boxe surgiu como fator de mudança do seu rumo. O desporto passou a ser uma forma de esquecer o trauma e combater o stress. Deu-lhe coragem e poder psicológico e físico para sonhar e tentar de novo. É um exemplo para todos na integração das populações com maior vulnerabilidade na nossa sociedade”, apontou.
Na visão do vogal do Conselho Diretivo do Alto Comissariado para as Migrações, exemplos como a ascensão estoica de Farid Walizadeh mostram como o desporto pode ser um “veículo fundamental” para aprimorar a integração social das comunidades.
“Interiorizam princípios que o desporto nos dá naturalmente, como a resiliência e o respeito pelo outro, a humildade ou o espírito de sacrifício. Apelo que consigamos fazer este trabalho concertado junto da sociedade civil e de outras entidades. Os barcos têm de chegar a bom porto e não podem ficar no meio do Mediterrâneo”, vincou José Reis.
Salientando o “trabalho de proximidade” do ACM, instituto público que intervém na execução das políticas públicas em matéria de migrações, o dirigente acredita que Portugal pode retirar vantagens de coesão social ao receber cidadãos estrangeiros.
“Dados de 2019 comprovam um saldo positivo de quase 884 milhões de euros de contribuições face ao investimento estatal de 111 milhões na proteção social dos imigrantes. Além disso, dada a sua taxa de natalidade, também é facto que os imigrantes contribuem de forma significativa para o equilíbrio da nossa demografia”, explicou.
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