Para Anders Lind, atleta dinamarquês de ténis de mesa, participar nos Jogos Olímpicos de Paris é já, por si só, um triunfo sobre a adversidade. O mesatenista partiu duas vértebras num grave acidente de carro, e correu o risco de nunca mais poder andar.

Três anos depois do acidente, com 25 anos, Lind está nos oitavos de final do torneio olímpico e sonha com uma medalha, algo que representaria uma batalha extraordinária contra todas as probabilidades.

Quando os médicos fizeram a radiografia à sua coluna após o acidente, disseram a Anders que havia uma grande probabilidade deste nunca mais andar normalmente.

"Disseram-me que talvez tivesse sofrido danos nos nervos e que, com os ossos partidos, havia entre 70 a 80% de probabilidade de ficar paralisado", afirmou emocionado o dinamarquês após a sua última vitória esta quarta-feira diante do polaco Milosz Redzimski.

Mesmo havendo a hipótese remota de voltar a andar, todos os especialistas que consultou afirmaram que seria impossível voltar a competir ao mais alto nível, algo que deixou o nórdico completamente devastado.

"Chorei durante uma semana inteira. O ténis de mesa era a minha vida… Não quero trabalhar num escritório, tenho demasiada energia, preciso de estar ativo", disse.

Mas com a ajuda de um colete e de um andarilho, Lind começou seu longo caminho para a recuperação. Primeiro, andou 20 metros, depois 40, e depois 50, tudo isto enquanto se sentia como um velho, cambaleando para poder avançar.

O progresso foi mais rápido do que os médicos poderiam imaginar, e três meses depois, Anders Lind voltou a pegar na sua adorada raquete de ténis de mesa.

"Aí então eu soube, Ok, vou voltar. Não sei quão bom vou ser, mas vou voltar", acrescentou Lind.

Apesar de ter uma barra de metal nas costas, Lind afirmou que atualmente não sofre de grandes efeitos físicos do acidente, isto embora não se consiga dobrar tão bem como antes.

"Penso que a minha carreira como dançarino de limbo acabou", brincou.

Mentalmente, a experiência quase fatal deu-lhe uma perspetiva diferente.

"Se tiver um mau jogo, posso olhar para trás e dizer: ‘Não foi tão mau como na altura’", afirmou.

O seu contratempo também lhe deu uma determinação feroz, fator determinante para a vitória diante de Milosz Redzimski. A comandar o jogo por 3-2, Lind parecia ter o encontro ganho, mas o polaco lutou e forçou um 'set' decisivo.

No 'set' decisivo, dois erros de Redzimski deixaram Lind com uma vantagem de 10-6. No ponto decisivo, e após uma jogada brilhante, o dinamarquês caiu no chão com emoção antes de saudar a multidão que aplaudia.

"Significa muito. Não consigo descrever. As emoções invadem-me de uma forma que não consigo explicar. Estou tão feliz e tão orgulhoso”, disse Lind à AFP.

Após tudo aquilo por que passou, uma medalha seria de facto sensacional, algo que se tornou mais provável graças à eliminação de Wang Chuqin, número um do mundo.

"Após a eliminação do cabeça de série, estou a sonhar com uma medalha. Ainda é uma possibilidade remota e muito improvável, mas há uma oportunidade, e se ela surgir, eu vou aproveitar"