O reservatório gigante de águas poluídas que está a ser construído em Paris não garantirá a inexistência de casos de contaminação do rio Sena, ‘palco’ de algumas modalidades nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, assumiu hoje um vereador parisiense.
“Costumo dizer que em Paris estamos a construir duas catedrais, a de Notre-Dame [consumida por um incêndio em 2019] e esta, que é subterrânea”, começou por dizer aos jornalistas Antoine Guillou, vereador responsável pela limpeza do espaço público, redução de resíduos, reciclagem e saneamento da autarquia parisiense, durante uma visita à infraestrutura que está a ser construída junto da estação de comboios de Austerlitz, no centro da capital francesa.
O gigantesco coletor ‘recolherá’ as águas sujas que transbordam dos esgotos quando chove torrencialmente em Paris, de modo a que estas não contaminem o Sena, onde decorrerão as provas da natação em águas abertas e os setores de natação de triatlo e paratriatlo em Paris2024.
Com uma capacidade de armazenamento de 46.000 metros cúbicos, equivalente a 12 piscinas olímpicas, esta infraestrutura de 30 metros de profundidade devolverá, posteriormente, a água sem ser tratada ao sistema de esgotos, para que passe pela estação de tratamento de águas residuais.
Guillou admitiu, no entanto, que este novo coletor não poderá evitar “a 100%” os casos de contaminação do rio que atravessa a capital francesa, como aquele que aconteceu em agosto do ano passado.
A má qualidade da água do Sena levou então ao cancelamento, pela terceira vez, de um evento-teste para Paris2024. Um mês mais tarde, foi revelado que a válvula da central de Tolbiac foi danificada por eventos meteorológicos e providenciou descargas, o que poluiu de tal forma o rio que levou à anulação desses eventos.
“Temos que fazer com que a rede de saneamento seja mais resiliente à chuva”, reconheceu o vereador parisiense, que recordou ainda que o objetivo é tornar o Sena ‘nadável’ até 2025.
É proibido nadar no Sena desde 1923, mas a autarca da capital francesa, Anne Hidalgo, espera poder permiti-lo de novo a partir de 2025.
A quatro meses e meio dos Jogos Olímpicos, agendados entre 26 de julho e 11 de agosto, são vários os atletas que têm manifestado apreensão sobre a qualidade da água do Sena durante o evento, nomeadamente a vigente campeã olímpica de águas livres, a brasileira Ana Marcela Cunha, que exortou a organização a ter um ‘plano B’.
“Sabemos o que representa a Ponte Alexandre III, a Torre Eiffel, mas o mais importante é a saúde dos atletas”, defendeu.
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