Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Patrícia Mamona, Vanessa Fernandes e Telma Monteiro são, até ao momento, as mulheres portuguesas que conseguiram o magnífico feito de conquistar uma medalha olímpica. Contudo, para tais extraordinárias atletas terem alcançado tais resultados, outras não menos notáveis tiveram de abrir caminho para que o olimpismo feminino em Portugal fosse uma realidade.
Foram precisamente estas pioneiras que foram homenageadas esta sexta-feira na sede do Comité Olímpico de Portugal, em Lisboa, no âmbito das celebrações do Dia Internacional da Mulher.
Após um momento musical protagonizado pela soprano Patrícia Modesto, acompanhada por um quarteto de cordas, a cerimónia arrancou com as intervenções de Maria do Sameiro Araújo, vice-presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), e de Cristina Almeida, responsável pelo Departamento de Estudos e Projetos, enaltecendo, não só a coragem e ousadia deste grupo de pioneiras, mas também reforçando a necessidade de continuar a trabalhar em prol de todas as mulheres que também sonham em chegar aos Jogos.
Nesse âmbito, Cristina Almeida revelou que os próximos Jogos Olímpicos em Paris, serão os primeiros da história onde haverá paridade entre atletas masculinos e femininos.
"De 2 porcento de mulheres nos Jogos de Paris em 1900, passamos a 50 porcento nos Jogos de Paris 2024. Levou-nos 124 anos para aqui chegar!", afirmou a dirigente.
Impossibilitada de estar presente, Diana Gomes, Presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, deixou uma mensagem de gratidão a todas as atletas homenageadas que quebraram barreiras sociais e culturais para conseguirem alcançar os seus sonhos.
“O Dia Internacional da Mulher é assinalado por ainda ser necessário fazê-lo. Muito caminho já se percorreu, e
sem cada uma das mulheres que será homenageada, o desporto feminino em Portugal não seria como hoje o conhecemos. Todos temos, sim, todos, homens e mulheres, de estar gratos pela coragem de quem ignorou o que se escrevia, o que se prescrevia, o que se diagnosticava. Quase 50 anos passaram desde a oficialização deste dia pelas Nações Unidas. Já quase duas gerações percorreram este tempo, mas todos nós ainda vivemos e
convivemos com desigualdade de oportunidades", disse Diana Gomes
Seguiu-se depois a apresentação das 26 atletas homenageadas pelo COP. Aquelas que não puderam estar presentes, acabaram por deixar mensagens de agradecimento através de vídeos gravados.
"A minha modalidade foi o ciclismo de estrada, uma modalidade considerada sobretudo masculina, ainda mais num país machista como Portugal. Contudo, tal poderá ter sido aquilo que me deu mais vontade de continuar. Cheguei aos Jogos de Atlanta em 96; foi o auge da minha carreira, cumpri o meu objetivo de vida, são emoções que nos marcam para toda a vida. Lembro-me de estar na meta para a partida e eu tremia por todo lado, mas quando chamaram o meu nome, e esse momento, mais do que a prova em si, foi algo de indescritível, comecei a chorar", disse Ana Barros sobre a sua experiência nos Jogos de Atlanta.
Joana Pratas, que representou Portugal também nos Jogos de 1996, mas em vela, realçou que apenas conseguiu lá chegar graças ao apoio da família, enquanto que em 2000 e 2004 já pode contar com contribuição por parte do Estado.
"Nos meus primeiros jogos fui com 17 anos, era a mais jovem velejadora nesses Jogos Olímpicos. Foi a concretização de um sonho, foi difícil lá chegar. Nas outras duas Olímpiadas onde estive já tive mais apoio do Estado, no primeiro tive "paitrocínio"; se não fossem os meus pais e a minha família eu seguramente não tinha ido a Atlanta", referiu.
Já Albertina Machado, que esteve nas Olimpíadas de 1988, 92 e 96, realça as principais diferenças entre a conjuntura social e desportiva da altura, em comparação com a situação atual.
"Os tempos agora são muito diferentes em comparação à altura em que eu competia. Quando eu corria mandavam-me ir para casa, porque uma menina correr na aldeia há 40 anos atrás não era normal, hoje a minha filha é apoiada. Eu treinava numa pista de cinza, e tinha de ir à Maia para correr em tartan, hoje todas as cidades têm pista de atletismo", afirmou a atleta.
Apesar disso, Albertina Machado aponta um aspeto em que as atletas do seu tempo tinham vantagem em relação às jovens de hoje.
"Acho que a nossa grande vantagem é que tínhamos mais tempo para treinar. Não estudávamos, por isso dedicávamos mais tempo ao atletismo. Os nossos pais deixavam-nos porque corríamos nas provas de estrada e essas provas davam dinheiro e como esse dinheiro fazíamos o nosso pé de meia para nos dedicarmos exclusivamente ao atletismo. Essas provas na altura davam "milhões", hoje dão "tostões". Hoje em dia colocam-se os estudos em primeiro lugar, à frente do desporto. Há aqueles que conseguem conciliar as duas coisas, mas outros ficam pelo caminho. Não é por acaso que muitos desistem quando chegam ao Ensino Superior, pois não têm o espírito de sacrifício e organização", sublinhou a antiga corredora.
Eis as 26 atletas olímpicas pioneiras
Helsínquia 1952
Dália Cunha (Ginástica), já falecida
Maria Laura Amorim (Ginástica)
Natália Cunha e Silva (Ginástica), já falecida
Roma 1960
Maria José Nápoles (Esgrima)
Regina Veloso (Natação)
Los Angeles 1984
Albertina Machado (Atletismo)
Aurora Cunha (Atletismo)
Conceição Ferreira (Atletismo)
Isabel Joglar (Tiro)
Rita Borralho (Atletismo)
Rosa Mota (Atletismo)
Seul 1988
Ana de Sousa (Tiro com arco)
Teresa Gaspar (Judo)
Atlanta 1996
Ana Barros (Ciclismo)
Catarina Fagundes (Vela)
Florence Fernandes (Canoagem)
Joana Pratas (Vela)
Nagano 1998
Mafalda Queiroz Pereira (Esqui)
Sydney 2000
Cristina Pereira (Voleibol de praia), já falecida
Maria José Schuller (Voleibol de praia)
Atenas 2004
Vanessa Fernandes (Triatlo)
Pequim 2008
Ana Moura (Badminton)
Londres 2012
Lei Mendes (Ténis de mesa)
Luciana Diniz (Equestre)
Tóquio 2020
Teresa Bonvalot (Surf)
Yolanda Hopkins Sequeira (Surf)
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