A presidente da Associação de Andebol de Lisboa, Ana Maria Cabral, é uma das dirigentes desportivas mais antigas do país, num ‘mundo’ para o qual entrou após a revolução de 1974, devido à atividade dos filhos.

“Eu estava em Moçambique quando houve o 25 de abril, e voltei para Portugal. Como tinha três filhos, pu-los logo a praticar desporto, e foram todos para o andebol. Eu fui dirigente durante muitos anos no Paço de Arcos e depois, passado alguns anos, vieram falar comigo para ir para a Associação de Andebol de Lisboa. Concorri, ganhei e estou lá há muito tempo”, contou à Lusa Ana Maria Cabral, que completa 78 anos em março.

Líder da associação distrital desde 2000, a dirigente explicou que já se encontrava nos quadros da instituição antes da eleição como presidente, no setor da arbitragem e da gestão de provas, e afirmou que, passadas várias décadas, ainda mantém o ‘bichinho’.

“Embora os meus filhos já tenham deixado o andebol, eu tenho sempre um ‘bichinho’. Gosto imenso de desporto e gosto imenso de andebol, muito mesmo. É o que me faz ainda cá estar. Já tive até netos a jogar andebol”, realçou a madeirense, que praticou natação e nunca jogou andebol, apesar da paixão que sempre nutriu pela modalidade.

Ser mulher num mundo predominantemente masculino, sobretudo nos primeiros anos como dirigente, nunca a fizeram sentir uma pressão extra, e espera que a percentagem de mulheres líderes de associações distritais ou regionais possa aumentar brevemente.

“Não vou mentir, em certas situações no início, houve dificuldades, mas, felizmente, as pessoas conheceram-me. Sou uma pessoa extremamente dinâmica e coloco as coisas para se resolver logo os problemas. Perceberam que não vale a pena. Nunca tive essa pressão”, frisou, acrescentando: “Não será fácil, mas penso que, pelo que tenho visto em todo o sítio, será possível haver mais mulheres em breve. Vamos contar que sim”.

Com cerca de 25 anos de presidência e uma ‘vida’ no dirigismo desportivo, Ana Maria Cabral lembrou o trabalho realizado no Clube Desportivo de Paço de Arcos, unindo o andebol e o hóquei em patins, que lhe deu “bagagem” para poder liderar a associação.

“O ‘desporto-rei’ no clube era o hóquei em patins. Quando cheguei, comecei a ver que havia poucas equipas femininas. Dinamizei essa parte e fiz com que não houvesse uma separação entre o andebol e hóquei. Quando o andebol jogava, o hóquei ia assistir aos jogos, e vice-versa. Consegui unir as duas modalidades e a equipa sénior feminina de andebol chegou a ir a competições internacionais. Foi ‘ouro sobre azul’, umas épocas de sonho. Deu-me uma bagagem que me ajudou imenso aqui na associação”, lembrou.

O género feminino está representado em 16,5% dos cargos de liderança dos órgãos sociais das 90 associações distritais e regionais das cinco modalidades com mais atletas federados em Portugal, com 76 mulheres num universo de 460 dirigentes como rostos principais.

O ‘retrato’ surge na sequência de uma análise efetuada pela Agência Lusa junto das associações de futebol, natação, andebol, voleibol e basquetebol – as cinco com maior número de atletas federados de acordo com o estudo "Desporto em Números 2023", desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estatística – e conta os responsáveis máximos de cada um dos órgãos sociais daquelas entidades até ao passado dia 25 de fevereiro.

À data da conclusão do levantamento, nove mulheres lideravam as 87 direções (três estavam a ser geridas por uma comissão administrativa e todas por homens), 13 mulheres presidiam aos conselhos fiscais e nove eram as máximas representantes das assembleias gerais. Além disso, havia 45 mulheres a liderarem conselhos de arbitragem, conselhos de disciplina, conselhos de justiça e conselhos técnicos.