A presidente da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO), Diana Gomes, revelou-se hoje “extremamente preocupada” com o “grito de revolta” de Telma Monteiro, em rutura com a federação, apelando aos judocas em situação idêntica que “confiem na tutela”.
“É mais do que um desabafo, sem dúvida. É um grito de revolta. Estou preocupada, preocupadíssima com os resultados e a preparação destes atletas. Trata-se de carreiras olímpicas. Deixa-me extremamente preocupada”, assumiu a dirigente, em declarações à Lusa.
A olímpica Telma Monteiro informou hoje que a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) despediu a selecionadora Ana Hormigo, a um dia de a equipa viajar para competir no Grand Slam de Abu Dhabi, de apuramento para os Jogos Olímpicos, voltando a criticar a gestão do presidente Jorge Fernandes, informando que este terá dito que ou os sete lutadores se retratam esta semana da carta aberta que escreveram no verão contra a sua atuação ou serão levados a tribunal.
“É muito duro de ver, principalmente tendo sido atleta e também ter vivido questões semelhantes. Acima de tudo é conseguir utilizar o que nos pode deitar abaixo para nos tornar mais fortes. E então no judo… há-de ser um exercício de tática, mas também de impulso. Têm de usar estas motivações em seu proveito próprio”, aconselhou.
Diana Gomes sugere aos judocas que “utilizem, para proveito próprio, a raiva que vão sentido com estes problemas”.
“É a única forma de conduzir tudo que está a acontecer. A nível pessoal, das suas carreiras, a nível mental, a carga que estão a receber é altíssima. Têm mesmo de virar o jogo a seu favor”, desafiou.
Telma Monteiro, a judoca portuguesa mais medalhada de sempre, revelou ainda que no sábado, na reunião de planeamento, os treinadores foram informados de que ela própria, tal como outros atletas, já não têm verba do projeto olímpico, gerido pela federação, para realizar o planeamento definido.
“O que podem fazer? Têm de confiar na tutela. Consegui saber que já estão a averiguar a situação. O que tinha sido acordado, se o consenso a que chegaram está a ser cumprido. Sei que estão atentos, extremamente preocupados também. E sei que já estão em movimento. Temos todos de confiar que daí sairá um resultado para os atletas nesta situação extrema”, sublinhou a presidente da CAO.
A dirigente recorda que o investimento do projeto olímpico “existe porque há atletas e é feito na sua preparação, não nas federações em si”, pelo que entende que a situação tem de ser “realmente averiguada”, algo que, conta, “o IPDJ (Instituto Portugês do Desporto e da Juventude) já está a fazer”.
No verão, sete judocas – Telma Monteiro, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes, Bárbara Timo, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes - escreveram uma carta, na qual acusavam o presidente da FPJ de opressão, discriminação e ameaças, lamentando o “clima insustentável e tóxico” que estavam a viver.
Poucos dias depois, a selecionadora nacional Ana Hormigo solidarizou-se com os judocas, afirmando que os mesmos “estão exaustos” e que “não querem estar sujeitos a um sistema que nem se digna a ouvi-los”.
“Os atletas têm uma oportunidade única nas suas vidas de fazer as suas carreiras, representar o seu país e mostrar a sua melhor performance, enquanto nas federações os presidentes e direções vão sendo substituídas e lá continuam”, desabafou.
Diana Gomes disse ainda que tem conhecimento de que há mais atletas “descontentes” com a gestão de Jorge Fernandes, além dos sete que assinaram a carta aberta.
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