
Depois do título europeu, o objetivo é ser campeã mundial, é esta a meta da judoca Patrícia Sampaio (-78 kg), que, a poucos dias de competir nos Mundiais de Budapeste, traça a maior ambição em entrevista à agência Lusa.
“Tento ir sem expectativas, mas, obviamente, muito bem definidos e dos objetivos que defini para este ano foram ser campeã da Europa [foi ouro em Podgorica] e campeã do mundo. Portanto, tentando ir sem expectativas, esse é o objetivo que quero cumprir ao final do dia e para o qual sei que tenho trabalhado”, disse a judoca à Lusa.
Sampaio é, atualmente, o nome mais forte do judo nacional, após um ano em que conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris2024, repetiu o ouro no Grand Slam da capital francesa, foi bronze em Tbilissi e Tóquio, e, já em abril, campeã europeia.
Nos Mundiais agendados para a capital húngara, de 13 a 20 de abril, a judoca entra como primeira favorita na sua categoria de peso — face aos pontos que amealhou no circuito -, à frente da campeã olímpica, a italiana Alice Bellandi, terceira favorita.
A judoca portuguesa tem noção da qualidade que estará em Budapeste, mas tem, igualmente, a convicção que é preciso ganhar a qualquer das adversárias, para poder chegar ao que deseja, ser campeã.
“Não receio ninguém. Até porque uma pessoa que pretende ser campeã do mundo tem a plena noção que precisa de ganhar a qualquer pessoa que defronte, não é? Seja a número 158 do ranking, seja a número um”, considerou.
Nem o histórico frente à transalpina, de oito combates e oito derrotas, as últimas nas meias-finais dos Jogos Olímpicos e nos oitavos de final dos Mundiais2024 em Abu Dhabi, atemorizam a atleta lusa.
“Mesmo nos Jogos Olímpicos, em que vinha de bastantes derrotas com ela e, apesar de ter perdido, entrei no combate como se como se estivéssemos 0-0, como se nunca nos tivéssemos defrontado e acredito que caso nos encontremos aqui vai ser a mesma coisa. O segredo para lhe ganhar pelos vistos ainda não sei, porque ainda não lhe ganhei, mas pode ser que seja desta, caso nos encontremos, muita coisa pode acontecer, vamos estar em lados opostos: sou a número um, ela é a número três e pelo que eu estive a ver agora, tudo correndo bem, só nos encontramos na final”, comentou Patrícia Sampaio.
A judoca reiterou que Bellandi não é uma oponente de quem tenha receio, mas sabe que tem de ser “cautelosa”, que tem de “estar bem preparada” e que tudo “tem de estar perfeito”, enquanto do outro lado, também a italiana sabe o que vai encontrar.
Em Podgorica, nos Europeus, Patrícia Sampaio teve uma competição perfeita, na qual venceu quatro combates com a pontuação máxima (ippon), três dos quais com projeções às adversárias, num espelho do seu tipo de judo.
“O meu estilo de luta sempre foi atacar bastante, simplesmente à medida que vou melhorando, esses ataques vão sendo cada vez mais assertivos, no momento certo, mais fortes. Tenho evoluído bastante a minha estratégia, então já não ataco desnecessariamente. Quando ataco é mais provável que seja vantagem e acho que também tenho melhorado, por exemplo, o sistema de pegas e daí, quando consigo uma pega favorável e de que gosto, é mais provável que faça um bom ataque ou que marque logo uma vantagem. Mas acho que isso vem também do meu estilo de luta, que foi sempre a atacar bastante. Nunca foi um estilo muito defensivo, foi sempre mais atacante”, explicou.
Com maior experiência, Sampaio prefere o trabalho ‘vertical’ e não tenta arrastar o combate para o tatami, o designado ‘ne waza’ [luta no chão], embora seja também um recurso que, por vezes, é necessário na evolução do combate.
Em Budapeste, a judoca poderá competir sob bandeira portuguesa, à semelhança dos outros seis portugueses inscritos, face ao levantamento da suspensão da Federação Portuguesa de Judo pela Federação Internacional, devido a uma dívida de 800.000 euros.
Sampaio reconhece que existiu incerteza quando tudo aconteceu. O que provocou maiores dificuldades na gestão das coisas, “por questões logísticas e burocráticas”, nomeadamente no que diz respeito a novos dorsais e quimonos — caso fosse necessário -, mas apenas isso, porque combater é sempre igual.
“Se puder usar uma analogia, somos uns leões. Quando vão lutar um com o outro não perguntam de onde é que são, nem como é que se chamam. Entram numa jaula e vão lutar. Acredito que nos vão mandar para dentro da jaula e vamos lutar, independentemente da nossa identificação, e vamos querer ganhar no dia. Obviamente é diferente. Gosto de ouvir o hino quando ganho, gosto de ter a bandeira de Portugal no peito, mas eu não vou deixar de ser portuguesa por não ter tudo isso, vou continuar a representar o meu clube, a minha família, Portugal e toda a gente que represento sempre que piso um tapete”, garantiu a judoca.
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