Impedida de competir devido a um nível elevado de testosterona, a sul-africana Caster Semenya voltou hoje a defender o seu caso perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), na esperança de “abrir caminho” a outras atletas com hiperandrogenismo.
A decisão do Tribunal, prevista para dentro de alguns meses, será “muito importante”, declarou Caster Semenya após a audiência. A atleta espera “abrir o caminho para as mulheres jovens”, para que não sejam “desumanizadas e discriminadas”.
“Este é um dia importante na minha jornada como ser humano e atleta. Já demorou muito para chegar”, disse Caster Semenya, de 33 anos, em comunicado enviado pelos seus advogados antes da audiência na Grande Câmara do TEDH, em Estrasburgo.
“Em 2009, subi ao degrau mais alto do pódio no Campeonato do Mundo de Berlim, logo após um exame sexual e sabendo que o mundo estava julgando o meu corpo e questionando o meu género. Durante 15 anos, perseverei com dignidade a opressão”, continuou, dizendo que estava “confiante” antes da audiência.
Bicampeã olímpica (2012, 2016) e por três vezes mundial (2009, 2011 e 2017) nos 800 metros, Caster Semenya produz naturalmente muitas hormonas masculinas (andrógenos), que podem aumentar a massa muscular e melhorar o desempenho.
Revelada ao grande público no Mundial Berlim2009, em que conquistou a medalha de ouro nos 800 metros, a sua aparência física e voz profunda geraram debates e especulações.
A atleta foi suspensa das competições por 11 meses e obrigada a realizar exames médicos, cujos resultados permaneceram em segredo, antes de finalmente poder voltar a competir em julho de 2010.
Mas em 2018, a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, atual World Athletics) exigiu que atletas com hiperandrogenismo baixassem os seus níveis de testosterona por meio de tratamento hormonal para poder participar de competições internacionais na categoria feminina, mas Semenya recusou.
Este regulamento é validado pelo Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), em 2019, e confirmado pelo Tribunal Federal de Lausana, que destaca, em 2020, “a justiça das competições” como um “princípio fundamental do desporto”, com base em que um nível de testosterona comparável ao dos homens dá às atletas femininas “uma vantagem intransponível”.
Os apelos da atleta sul-africana contra estas duas instituições foram rejeitados, mas Semenya ganhou o seu caso perante o TEDH, em julho de 2023.
O tribunal, que garante o cumprimento da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, concluiu que Semenya foi vítima de discriminação e de violação da sua vida privada.
No entanto, as autoridades suíças, apoiadas pela World Athletics, remeteram o assunto para a Grande Câmara do TEDH, uma espécie de órgão de recurso, salientando o facto de a sentença de primeira instância do TEDH ter sido proferida apenas por uma estreita maioria de quatro juízes contra três.
Comentários