Sem provas, os atletas de pelotão enfrentam agora corridas virtuais, para manterem o espírito competitivo e a forma física, mas, sobretudo, para ajudar o próximo, em iniciativas que mantêm as empresas ligadas ao setor.
Com uma enorme tradição um pouco por todo o mundo, as corridas virtuais ganharam espaço na agenda dos portugueses com a eclosão da pandemia de covid-19 e o cancelamento das provas em estrada e nos trilhos.
O ‘tiro de partida’ foi dado em abril pela Xistarca, com provas de meia hora gratuitas, e prosseguiu em 19 de abril com a iniciativa ‘Kilómetros em casa’, que contou com 2.847 participantes e angariou 32.301 euros para o Hospital de São João, no Porto, e para o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa.
Em pleno estado de emergência, as opções para os atletas passavam por correr sozinhos numa esteira ou junto às casas, ou ainda nadar, remar ou pedalar, numa ação reeditada uma semana depois, com menos adesão, na ação ‘Quilómetros pelos Açores – Covid-19”, que valeu 3.720 euros para unidades hospitalares de São Miguel e Terceira.
Foi já em situação de calamidade que o Maratona Clube de Portugal, impossibilitado de organizar as tradicionais travessias das pontes em Lisboa, avançou para sete provas virtuais gratuitas, em sete fins de semana, mantendo os patrocinadores ativos na corrida e os cerca de 8.000 inscritos.
As consequências sociais da pandemia ganharam espaço, assim como a preocupação dos promotores das corridas, como comprovam a Maratona Virtual Solidária, organizada pela RunPorto, no próximo fim de semana, e a Corrida de Santo António, pela HMS, em 13 e 14 de junho.
“A HMS não vai ganhar nada com esta prova e quisemos apostar na vertente solidária sem envolver dinheiro, queremos converter os quilómetros em comida. A ideia é que os nossos patrocinadores ofereçam 10 euros para a Rede de Emergência Alimentar por cada finalista. Se conseguirmos 10.000 euros em alimentos, vai ser espetacular”, afirmou Hugo Miguel Sousa, responsável pela organização da São Silvestre de Lisboa.
A Corrida de Santo António virtual vai levar os participantes a correrem cinco ou 10 quilómetros, tendo inscrições gratuitas, enquanto a Maratona Virtual Solidária premeia com medalha qualquer distância percorrida, mediante os 10 euros de inscrição que revertem para a Cruz Vermelha Portuguesa.
“A pandemia descobriu mais pessoas para a corrida e o objetivo é estimular esta comunidade e, enquanto não pudermos ir para a estrada, mantermo-nos ativos, em contacto e solidários, dentro das nossas possibilidades”, referiu Jorge Teixeira, da RunPorto, que conta com cerca de 1.100 inscritos na prova.
Ainda sem certezas sobre a realização da Maratona do Porto, prevista para 08 de novembro e que conta com dois mil inscritos, Jorge Teixeira vai organizar a Corrida de São João também de forma virtual, até porque, confia, “quando autorizarem a realização de eventos, os números de participantes vão disparar”.
Igualmente em equação está a organização da São Silvestre de Lisboa, que poderá incluir “uma opção virtual, mas mais barata”, o que até nem seria inédito neste percurso pela capital portuguesa.
“Já tivemos participantes estrangeiros que se inscreveram, submeteram a atividade e receberam a camisola e a medalha, só não tiveram a festa”, frisou Hugo Miguel Sousa.
A solidariedade é também o mote da iniciativa ‘Alimenta esta corrida’, marcada para 06 de junho, apadrinhada por Aurora Cunha e Pedro Fernandes, e que já conta com a adesão de 36 grupos de corrida na angariação de bens essenciais e alimentares para as instituições solidárias da região de cada uma dessas estruturas.
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