A decisão da cadeia Decathlon em comercializar um véu islâmico para atletas muçulmanas está a causar enorme polémica em França. A classe política francesa está contra esta decisão da empresa gaulesa, por entender que viola os valores do país.
A marca francesa já está a comercializar o produto na sua loja em Marrocos há duas semanas e agora decidiu que também irá vende-lo nas restantes lojas do grupo a partir de março, tanto em França como no estrangeiro, se assim for solicitado.
Diz a marca que este é um produto para as mulheres que desejam fazer corrida "mantendo o pescoço e os cabelos escondidos".
"Foi testado várias vezes por vinte mulheres que costumam usar o 'hijab' e foi validado pelo seu conforto. A Decathlon desenhou-a para todas as mulheres que a queiram usar, não importa a sua origem. A comercialização dependerá de cada loja, em função também dos pedidos", assegurou a empresa, em declarações à agência EFE.
A Decathlon diz-se empenhada em manter a sua filosofia de "tornar o desporto acessível", suportados pela vontade de "tolerância absoluta e inclusão total", pelo que está tranquila com toda a polémica e "muito segura" da sua decisão.
"Este hijab vai permitir que todas as mulheres possam correr de forma livre, em todas as cidades do mundo, independentemente do seu nível atlético, fitness, morfologia, orçamento, religião ou cultura", diz a empresa, explicando que avançou para este produto depois de vários pedidos por parte de atletas marroquinas.
Quase todos os quadrantes políticos franceses estão contra a comercialização deste 'hijab' no país. Aurore Bergé, porta-voz do partido governamental 'La Republique En Marche!' (LREM), foi uma das que criticou o véu para desportistas islâmicas.
"O desporto emancipa, não impõe. Como mulher e como cidadã não posso voltar a confiar numa marca que viola os nossos valores", escreveu no twitter.
A Ministra da Saúde, Agnès Buzyn, disse, em declarações à televisão RTL que é contra este véu.
"Preferia que não houvesse uma marca francesa a promover o véu [islâmico]. Ele é permitido. Sabemos bem que a laicidade em França permite o seu uso. Mas, pessoalmente, não gosto que favoreçam a diferenciação entre os homens e as mulheres", explicou.
Marine Le Pen, presidente da 'Frente Nacional francesa', partido de extrema-direita, disse que este véu islâmico da Decathlon é a consequência de um "desenvolvimento exponencial das reivindicações e da dimensão identitária de uma religião" que pretende impor um conjunto de regras e normas à sociedade francesa.
Esta polémica não é propriamente nova em França. Os políticos franceses já se tinham mostrado contra o 'burkini' (um fato de banho para mulheres islâmicas e que cobre o corpo todo) em 2016, quando surgiu pela primeira vez nas praias francesas. A Justiça francesa interveio e decretou que o 'burkini' só seria proibido em casos de ameaça à ordem pública.
De recordar que a norte-americana Nike e a japonesa Uniqlo já comercializam um véu islâmico idêntico ao da Decathlon.
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