Pascal Siakam é uma das estrelas dos Toronto Raptors, campeões da NBA. O camaronês foi eleito o Jogador que Mais Cresceu na Liga de Basquetebol mais importante do Mundo na época passada mas podia nem estar a brilhar nos imponentes pavilhões norte-americanos. Era bem provável encontra-lo de batina e bíblia na mão nos Camarões, no alto dos seus 2,06 metros, a pregar a fé cristã.
Até aos 17 anos, Siakam nunca tinha pegado numa bola de basquetebol. "Joguei futebol, era bom. Podia ter sido futebolista se quisesse", disse o jogador de 25 anos, à 'BBC'. O problema é que quando se tem mais de dois metros, é difícil ignorar-se o basquetebol. Siakam é o mais novo de seis irmãos, todos eles amantes da modalidade. Seria o mais novo da família à chegar à NBA por uma via dificilmente sonhada pelo pai,
Nascido em Douala, capital financeira dos Camarões, Siakam passou a sua infância e juventude no Seminário St. Andrews, onde entrou aos 11 anos, para estudar e mais tarde ser padre em Bafia. Durante os anos que passou no seminário, nunca sonhou com o basquetebol. Os valores que lhe foram incutidos no Seminário ajudaram-no como homem e como desportista, conta à BBC. Levantava-se às 05 da manhã e, pela frente, tinha um dia muito preenchido. O Seminário foi ideia do pai, Tchamo Siakam. Mas essa não era a vocação de Siakam.
O primeiro contacto com a bola laranja aconteceu em 2011, quando Siakam frequentou, juntamente com alguns amigos, um Campus de basquetebol, organizado pelo congolês Luc Mbah a Moute, antiga estrela da NBA. Mbah a Moute continua à procura de estrelas em África. Foi ele o responsável pelo ingresso de Joel Embiid, outro camaronês, na NBA (Philadelphia 76ers).
Um ano depois, Pascal Siakam era convidado para um programa de desenvolvimento da NBA na África do Sul. "Abriu-me os olhos para um mundo que eu desconhecia. Fiquei entusiasmado e pensei: 'se tiver a hipótese de ir para os EUA e jogar basquetebol, porque não? Ainda por cima podia ter uma formação [universitária]. Era um sonho tornado realidade", disse à BBC.
Em 2012 mudou-se para Lewisville, Texas, para terminar o ensino secundário, numa língua diferente, numa cultura que teve de abraçar. Depois recebeu uma bolsa de estudo da New Mexico State University. Em 2014, perdeu o pai, vítima de um acidente de viação. Um atraso no visto de saída dos EUA impediu-o de assistir ao funeral do pai.
"O meu pai teve de trabalhar muito para tomar conta de seis crianças. Fez tudo para garantir que os filhos tivessem tudo o que precisavam. Tinha o seu sonho [de ver um dos filhos entrar na NBA] e estou a concretizar esse sonho. Estou orgulhoso. Só queria que ele estivesse aqui para ver", lamentou.
Duas épocas depois de ingressar na Universidade New Mexico State, saía com o título de Jogador do Ano da 'Western Athletic Conference', com médias de 20,2 pontos, 11,6 ressaltos e 2,2 bloqueios em 34 jogos.
Em 2016 acabou por não ser escolhido por nenhuma equipa no Draft mas, no ano seguinte, ingressou nos Toronto Raptors como sendo a 27.ª escolha. A franquia do Canadá tinha acertado na escolha.
Com a saída de Kawhi Leonard para os Los Angeles Clippers, depois de guiar os Raptors para o título em 2019, espera-se agora que Siakam assuma esse vazio e ajude a equipa a atingir os objetivos. Renovou contrato para ganhar 117.5 milhões de euros nos próximos quatro anos.
Sete anos depois, Siakam voltou aos Camarões, este verão, quando levou o troféu de campeão da NBA ao Campus de Basquetebol Gigantes de África, para inspirar aqueles que sonham um dia seguir-lhe as pisadas.
"É fantástico estar rodeado por estes miúdos que sonham um dia estar onde estou agora, dar-lhes um pouco deste troféu, algo que eles podem tocar", atirou.
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