Fabio Aru tornou-se hoje história viva da Volta a França, ao ser o primeiro ciclista a tirar a amarela a Chris Froome, que ‘estourou’ nos metros finais da ascensão a Peyragudes, palco da vitória de Romain Bardet.
Num dos maiores golpes de teatro que há memória em edições recentes do Tour, o eterno camisola amarela viu a ganância do colega espanhol Mikel Landa (Sky), que o abandonou para tentar chegar à vitória na 12.ª etapa, a primeira nos Pirenéus, custar-lhe a liderança da geral, arrebatada pelo italiano da Astana.
O pecado de Landa foi o pecado da Sky, que 'dinamitou' a corrida até Peyragudes para depois entregar de bandeja a amarela a Fabio Aru, que ‘sprintou’ lá no alto para ser terceiro na tirada, a dois segundos de um impressionante Romain Bardet (AG2R-La Mondiale), que conquistou a sua terceira vitória em etapas no Tour.
“Vestir a camisola amarela na Volta a França é, verdadeiramente, uma das coisas mais belas que me poderia ter acontecido na vida, nunca imaginei”, 'disparou', felicíssimo, o 20.º ciclista da história a vestir a camisola de líder das três grandes Voltas.
O feito do campeão italiano, de 27 anos, é ainda mais significativo, tendo em conta que, pela primeira vez no seu percurso na prova, Froome, agora segundo a seis segundos, perdeu a amarela depois de a ter vestido – e já lá iam 51 dias com o ‘maillot jaune’ no corpo.
A primeira etapa pirenaica prometia e não defraudou: os 214,5 quilómetros desde Pau incluíam seis montanhas pontuáveis, com os derradeiros 35 quilómetros a encadear o duríssimo Port de Balès, de categoria especial (11,7 quilómetros com uma pendente média de 7,7%), o Peyresourde (9,7 km a 7,8%) e o inclinado Peyragudes (2,4 km a 8,4%), cujo topo coincidia com a meta.
Entre os primeiros animadores da jornada, um grupo de 12 fugitivos que escapou ao pelotão nos primeiros 20 quilómetros, estava o camisola verde Marcel Kittel (Quick Step-Floors), o seu concorrente Michael Matthews (Sunweb) e os consagrados Stephen Cummings (Dimension Data), Diego Ulissi (UAE Team Emirates) e Thomas De Gendt (Lotto-Soudal).
O Col de Menté desmembrou a fuga e o Port de Balès condenou-a – só Cummings ficou na frente -, tal como fez com Jakob Fuglsang (Astana). O dinamarquês, que na véspera fraturou dois ossos do pulso esquerdo, mas decidiu alinhar hoje para defender o seu quinto lugar na geral, perdeu 27.42 minutos na meta, um pouco mais do que o português Tiago Machado (Katusha Alpecin), que desceu para a 60.ª posição da geral, a 1:11.21 horas de Aru.
Alberto Contador (Trek-Segafredo) foi o primeiro a abrir as hostilidades, pouco antes de Froome e Aru saírem em frente numa curva, mas só na subida ao Peyresourde começou o verdadeiro jogo de eliminação, com Nairo Quintana (Movistar) a por em causa o seu registo imaculado no Tour.
O colombiano, segundo em 2013 e 2015 e terceiro em 2016, poderá ter perdido a réstia de esperança de estar no pódio em Paris, ao descolar do grupo a dez quilómetros da meta, quase na mesma altura em que Cummings claudicou, para ceder 2.04 minutos para o vencedor (é oitavo da geral a 04.01 de Aru).
O restrito grupo de candidatos, já sem Alberto Contador, manteve-se unido, numa apatia generalizada, até aos últimos 500 metros da etapa. Aí, Aru arrancou, Bardet saltou-lhe na roda, Rigoberto Urán (Cannondale-Drapac) ‘idem’ e Froome ficou simplesmente parado.
Com o seu característico pedalar, o líder da Sky ia tentando salvar a liderança, enquanto Landa, que nem olhou para trás, tentava reagir a tempo de alcançar o trio da frente. Resultado? O britânico ficou sem a amarela e o espanhol, que no final foi filmado a discutir com o seu diretor desportivo, sem a etapa, ganha merecidamente pelo francês da AG2R-La Mondiale, em 5:49.38 horas.
“É difícil ganhar uma etapa no Tour e é o terceiro ano consecutivo que consigo fazê-lo. É uma alegria imensa”, disse o vice-campeão de 2016, que deixou Urán e Aru, respetivamente segundo e terceiro, a dois segundos.
Com o triunfo de hoje, o francês diminuiu a diferença para os rivais, estando a 25 segundos do novo camisola amarela, que, na sexta-feira, na 13.ª etapa, uma ligação pirenaica de apenas 101 quilómetros entre Saint-Girons e Foix, com três contagens de primeira categoria, poderá contar com ataques de um Froome de orgulho ferido.
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