Dezasseis promessas do ténis de mesa português estão a desafiar os seus limites nos Mundiais jovens, em Vila Nova de Gaia, à procura de honrar o legado dos ‘veteranos’ Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Monteiro.
Patrícia Santos e Inês Matos, no escalão sub-19, e Tiago Abiodun e Matilde Pinto, em sub-15, lideram as pretensões da seleção nacional, perante oposição cerrada de atletas de cada continente, sobretudo do asiático, nas variantes de equipas, singulares e pares.
Se os eventos de singulares e pares decorrem entre sábado e quarta-feira, Portugal já assegurou uma inédita medalha nas provas de equipas, ao derrotar na quinta-feira a República Checa, por 3-1, para aceder às meias-finais do quadro masculino de sub-15.
Bernardo Pinto, Rafael Silva e Tiago Abiodun, orientados por Ricardo Faria, lograram o terceiro pódio luso em Mundiais jovens, depois da ‘prata’ de Marcos Freitas e Tiago Apolónia (2003) e do ‘bronze’ de Marcos Freitas e André Silva (2006), ambos em pares.
“Correu muito bem o dia. Era demasiado alto pensar em medalhas, mas tínhamos o objetivo de chegar às meias-finais”, admitiu à agência Lusa Tiago Abiodun, de 13 anos, que venceu dois jogos frente à República Checa antes da partida de hoje com a Rússia.
Parco em palavras, mas firme quanto ao desejo de “continuar a jogar pela vida fora”, o campeão nacional de sub-15 foi lançado ao ténis de mesa pelo pai, o nigeriano Bode Abiodun, de 41 anos, 141.º do ‘ranking’ mundial, com quem tem evoluído no Sporting.
“É a minha única referência. Pede-me que jogue de direita e mexa os pés. No início da pandemia de covid-19, nunca parei e treinava em casa com ele, mas um ano a menos de evolução afeta o nosso trajeto e não era bom estar sem jogar”, frisou Tiago Abiodun, que venceu este ano as etapas de sub-13 do WTT Youth Contender em Vila Real e Belgrado.
A influência paternal também persuadiu Patrícia Santos, de 17 anos, que detetou como referências em Alvalade os olímpicos Bode Abiodun e João Monteiro, que, em conjunto com Tiago Apolónia, foi terceiro classificado na prova de duplas dos Mundiais de 2019.
“Dizem para nos esforçarmos ao máximo nos treinos e darmos o melhor nas competições. Os asiáticos dedicam muito tempo a isto e nós temos muito horário escolar. Ainda não sei o curso que quero, mas penso entrar brevemente na universidade. Quando isso acontecer, vou tentar continuar a jogar, mas posso ter de baixar o rendimento”, reconheceu à Lusa.
Ciente de que Portugal apenas se estreia no principal evento mundial de escalões jovens devido ao estatuto de organizador, a 727.ª colocada do ‘ranking’ já desfrutou da ocasião de disputar o Mundial absoluto de equipas em 2013, na Suécia, com apenas 13 anos.
“A expectativa é jogar o melhor que consigo e pode ser que tenha sorte”, afiançou à Lusa Patrícia Santos, que arrancou os Mundiais de Vila Nova de Gaia com um desaire frente aos Estados Unidos, por 3-0, nos oitavos de final da competição por equipas de sub-19.
Nesse jogo também esteve Inês Matos, de 17 anos, que despertou para as raquetes com o então professor de Educação Física e atual treinador no Boa Hora, conjugando “prazer com bons resultados” no decalque das pisadas” da melhor geração nacional de sempre.
“Para terem a oportunidade de evoluir na carreira, tiveram de ir jogar para o estrangeiro. Não é muito fiável tentar seguir o percurso em Portugal, mas claro que é possível. Mas, lá fora é sempre melhor para ver se obtemos os resultados que eles conseguiram”, vincou.
Medalha de bronze em outubro nos Europeus de equipas, na Roménia, em conjunto com Rita Fins e as olímpicas Fu Yu e Jieni Shao, a 769.ª colocada da hierarquia mundial assume ser “um bocado difícil” harmonizar os objetivos desportivos com as metas académicas.
“Tenho tido tenho experiência internacional. São jogos difíceis, mas é assim que vamos conseguir superar-nos e evoluir mais. Contudo, para ser sincera, ainda não sei bem se quero seguir uma carreira destas e como farei com a faculdade. Quero estudar aqui no Porto, mas estou indecisa entre Ciências Farmacêuticas e Bioquímica”, confidenciou.
A preferência pela cidade Invicta da campeã de sub-19 na prova de pares do WTT Youth Contender em Otocec deve-se à proximidade com o Centro de Alto Rendimento (CAR) de Vila Nova de Gaia, onde vive ao lado de Patrícia Santos e Matilde Pinto, de 15 anos.
“A mudança foi muito boa para o meu desenvolvimento. Gostava de ter uma carreira, sendo que um dos sonhos é um dia ser campeã da Europa. Nunca estive num Mundial nem posso dizer que tenho altas expectativas, mas vou dar o meu melhor. Apesar de podermos perder, e está tudo bem, é uma experiência boa”, referiu à agência Lusa.
A projeção de Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Monteiro nos grandes palcos dá o mote à campeã nacional de sub-15 pelo CTM Mirandela, vencedora em 2021 das etapas de sub-15 do WTT Youth Contender em Tunis, em pares, e Belgrado, em singulares.
“Formámos muitas amizades, divirto-me e já não penso na minha vida sem jogar ténis de mesa. Houve uma altura em que tive de escolher entre este desporto e a natação e só senti que o ténis de mesa ia ser melhor”, enalteceu Matilde Pinto, após ter vencido um jogo na derrota frente à Índia, por 3-1, nos ‘quartos’ do torneio de equipas de sub-15.
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