A notícia já era, de certa forma, esperada. Mas não deixa nenhum amante de desporto indiferente: Rafael Nadal anunciou esta quinta-feira que, aos 38 anos, vai colocar um ponto final na sua ilustre carreira.
"A realidade é que os dois últimos anos foram difíceis. Não fui capaz de jogar sem limitações. É uma decisão que foi difícil e que levei algum tempo a tomar, mas nesta vida tudo tem um princípio e um fim. Penso que é o momento certo para colocar ponto final no que foi uma carreira longa e com muitos mais sucessos do que podia imaginar", explicou o lendário tenista espanhol no vídeo de despedida.
Nadal vai despedir-se a representar o seu país, nas finais da Taça Davis 2024, que este ano vão ter lugar em Málaga, entre 19 e 24 de novembro, com Espanha a começar por medir forças com os Países Baixos. Em cena estarão também Itália, Alemanha, Estados Unidos, Austrália, Canadá e Argentina. Uma competição que Rafa ajudou a Espanha a conquistar em quatro ocasiões.
Vai ser o ponto final de uma carreira repleta de recordes, marcos e conquistas, marcada por um inigualável espírito combativo e por rivalidades que ficam para sempre na História do Desporto.
Dez momentos marcantes da carreira de Nadal
Recordes, marcos, troféus e mais troféus
As primeiras vitórias
Nadal nasceu a 3 de junho de 1986 em Manacor, na ilha de Maiorca. Sobrinho de Miguel Ángel Nadal, antigo defesa central do Barcelona na década de 1990, Rafa tinha outro tio ligado ao desporto: Toni Nadal, treinador de ténis. E foi ele que levou Rafa para a modalidade. Era o início de uma carreira brilhante (mesmo que inicialmente Rafa confessasse gostar mais de jogar futebol do que ténis).
Desde muito cedo Rafael Nadal começou a ser apontado como um futuro campeão. Aos 8 anos ganhou um torneio regional sub-12. Depois de somar inúmeras outras conquistas no circuito jovem, Nadal lançou-se no circuito profissional com apenas 14 anos, em 2001. A primeira vitória num encontro do quadro principal de um torneio ATP com 15 anos, antes de alcançar, já em 2003, em Monte Carlo, a sua primeira vitória sobre um jogador do Top 10 (o também espanhol Albert Costa). Um triunfo que lhe valeu a entrada do Top 100 do ranking mundial.
Foi também em 2003 que se estreou em torneios do Grand Slam, o primeiro dos 92 títulos ATP que viria a ganhar.
A primeira final de um torneio do circuito ATP chegou em 2004, em Aukland (derrota ante Dominik Hrbaty), num ano repleto de momentos marcantes para Nadal: o primeiro embate de muitos com Roger Federer (com triunfo do espanhol em dois sets, no Masters de Miami), uma fratura do tornozelo esquerdo no Estoril Open que adiou por mais um ano a sua estreia em Roland Garros, a conquista do primeiro dos 92 títulos ATP que viria a erguer (a 15 de agosto, na Polónia) e a primeira conquista da Taça Davis ao serviço da Espanha.
Rei da Terra Batida
O primeiro de 34 títulos em Torneios da Masters Series de singulares veio em 2005, ano da sua afirmação definitiva: já depois de atingir a quarta ronda do Open da Austrália e a final do Masters de Miami (derrota em 5 sets frente a Federer), Nadal conquistou o Masters de Monte Carlo (torneio de terra batida que viria a conquistar por 11 ocasiões). Estava dado o mote para o domínio que viria a ter no circuito mundial em terra batida. É que, poucos meses depois, Nadal conquistava Rolond Garros pela primeira vez, com apenas 19 anos de idade, na sua primeira participação no torneio.
O desígnio de 'Rei da Terra Batida' foi confirmado com nova conquista de Roland Garros em 2006, então com uma vitória sobre Federer na final. A rivalidade entre os dois continuava a crescer e poucas semanas depois os dois voltariam a medir forças na final de Wimbledon (a primeira aí disputada por Rafa), dessa feita com triunfo do suíço.
Em 2007, Nadal repetiu a vitória em Ronald Garros (3.ª consecutiva), voltando a bater Federer, mas perdeu novamente com o arqui-rival na final de Wimbledon. Rafa teria de esperar mais um ano - 2008 - para conquistar o Grand Slam londrino. Antes conquistou Roland Garros pelo quarto ano consecutivo (nova vitória sobre Federer) e pelo meio começava a nascer também a rivalidade com Novak Djokovic. Foi igualmente em 2008 que chegou pela primeira vez a n.º1 do Ranking, antes de conquistar o Ouro Olímpico em Pequim.
A primeira de duas vitórias no Open da Austrália chegou em janeiro de 2009, ano em que, a contas com problemas físicos, sofreu a sua primeira derrota de sempre em Roland Garros (frente a Robin Soderling).
Grand Slam de carreira, quebra e comeback até ao ocaso final
Ficava a faltar o Open dos Estados Unidos para concluir o Grand Slam de carreira. Algo que lograria em 2010, ainda antes de Federer o conseguir. 2010 seriam mesmo mais um ano de sonho para Nadal, com nova conquista de Roland Garros e Wimbledon antes do triunfo no US Open, com um triunfo sobre Djokovic. Perdeu depois, contudo, com Federer no final do ano nas ATP finals, talvez o único grande torneio que acabou por nunca ganhar.
Os triunfos e os duelos épicos com Djokovic e Federer (uns ganhos, outros perdidos) prosseguiram nos anos que seguintes, com mais quatro triunfos seguidos em Roland Garros entre 2011 e 2014 (com nova vitória no US Open pelo meio).
Os anos de 2015 e 2016 foram menos conseguidos, com os problemas físicos a começarem a surgir. Apesar de ter conquistado mais um Ouro Olímpico, no Rio, desta feita em pares, somou apenas cinco títulos ATP nesses dois anos, nenhum dos quais em torneios do Grand Slam. Chegou a pensar-se que Nadal estaria já no ocaso da sua carreira. Mas quem conhece Nadal sabe que ele não desiste. E como que renasceu.
Ressurgiu, pois, em 2017, voltando às vitórias em torneios do Grand Slam (10ª vitória em Roland Garros e 3.ª no US Open) e retomando a liderança do ranking ATP. E, nesta espécie de comeback antes do ocaso definitivo, mais marcos na carreira: Outra série de quatro vitória em Roland Garros, entre 2017 e 2020 e mais uma vitória no Open dos Estados Unidos (4.ª e última, igualando o recorde Federer com 20 Grand Slams na carreira).
Em 2021 voltaria a não conquistar qualquer 'major', mas uma vez mais quem o deu como 'acabado' teve de engolir as palavras: em 2022 Rafael Nadal viria a conquistar pela segunda vez na carreira o Open da Austrália (onde pelo meio tinha perdido quatro finais, algumas delas verdadeiramente épicas), fixando um novo máximo de 21 torneios do Grand Slam, antes de chegar aos 22, ao vencer Roland Garros pela 14.ª vez. Apropriadamente, o seu último Grand Slam seria esse, conquistado onde tantas vezes foi feliz.
As lesões e o avançar da idade começaram, contudo, enfim, a ser um peso demasiado grande para Rafa. Viu o rival e amigo Federer pendurar as raquetes num momento memorável e aos poucos, foi-se adivinhando o anúncio feito esta quinta-feira, 10 de outubro de 2024: o ponto final de uma carreira repleta de sucessos.
Alguns dos principais feitos, recordes e marcos de Nadal
- Primeiro jogador a conquistar 21 títulos do Grand Slam (termina a carreira com 22, menos dois do que Novak Djokovic e mais dois do que Roger Federer
- Jogador que mais vezes ganhou um só torneio do Grand Slam (14 triunfos em Roland Garros. Novak Djokovic surge a seguir, com 10 triunfos no Open da Austrália)
- Jogador mais jovem de sempre a lograr o Grand Slam de carreira (tinha 24 anos)
- Segundo jogador - e o mais jovem de sempre - a lograr o Golden Slam, juntando a medalha de ouro olímpica aos 4 torneios do Grand Slam (depois de Andre Agassi e antes de Djokovic)
- Maior série de vitórias na mesma superfície (81 em terra batida entre 2005 e 2007)
- 92 títulos de singulares em torneios ATP (5.º melhor de sempre, atrás de Jimmy Connors, Federer, Djokovic e Ivan Lendl), 22 títulos do Grand Slam (2.º melhor de sempre, atrás de Djokovic), 36 títulos da Masters Series (2.º de sempre, atrás de Djokovic)
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