A novela que envolve a presença de Novak Djokovic em solo australiano para disputar, a partir da próxima semana, o Australian Open, continua a dar que falar e pode mesmo colocar o tenista sérvio atrás das grades, tanto na Austrália como na Sérvia.
O tenista, envolvido em polémica por assumir posições antivacinação contra o SARS-CoV-2, admitiu a prestação de informação falsa no preenchimento da declaração de entrada na Austrália.
Além disso, Djokovic, que em dezembro testou positivo à covid-19, confessou igualmente ter dado uma entrevista presencial em Belgrado, ignorando o período obrigatório de 14 dias de quarentena para os infetados. Mas vamos por partes.
Suspeitas na declaração de viagem para a Austrália
No que à Austrália diz respeito, Djokovic arrisca pena de prisão se tiver mentido na declaração de viagem obrigatória que preencheu antes do voo. Nesse documento foi assinalada a resposta 'não' à pergunta: 'Viajou, ou vai viajar, nos 14 dias antes do seu voo para a Austrália?'.
Porém, Djokovic partiu para Melbourne desde Espanha a 4 de janeiro, tendo ao que se sabe passado o ano em Marbella. Uma publicação nas redes sociais, a 31 de dezembro, mostrava-o numa ação junto de crianças na Academia SotoTennis, em Cádiz, onde o tenista chegou mesmo a filmar uma mensagem.
Dado que outra publicação, uma semana antes, em vésperas do natal, dava a entender que Djokovic estava em Belgrado, onde foi fotografado ao lado de um jogador de andebol sérvio que atua no Benfica, Petar Djordjic. Tal significará que Djokovic esteve pelo menos na Sérvia e em Espanha nos 14 dias que antecederam a sua ida para terras australianas.
Djokovic revelou, na audição em tribunal, na passada segunda-feira, na qual recuperou o seu visto, que tinha autorizado o seu agente a preencher o dito formulário.
Caso a autoridade que controla as fronteiras australianas conclua que Djokovic mentiu ao declarar que não viajou 14 dias antes do voo para a Austrália, o tenista sérvio pode ser condenado até 12 meses de prisão.
A entrevista ao L'Équipe depois de resultado positivo
Mas não é só na Austrália que Djokovic está em maus lençóis. O tenista sérvio corre também o risco de ser preso no seu país-natal.
Djokovic afirma ter sido testado para a covid-19 a 16 de dezembro, cujo resultado descobriu um dia mais tarde, já depois de ter participado num evento desportivo em que entregou prémios a crianças.
No entanto, dois dias depois, a 18 de dezembro, concedeu uma entrevista a um jornalista do L'Équipe, quando já sabia que estava infetado.
"Senti-me obrigado a ir à entrevista com L'Équipe porque não queria desapontar o jornalista, mas mantive a minha distância social e a minha máscara facial, exceto durante a sessão fotográfica. Quando regressei a casa, para me isolar durante o período exigido, após reflexão, entendo que foi um erro de julgamento e aceito que deveria ter adiado o compromisso", disse o atleta num comunicado publicado na sua conta na rede social Instagram.
A Sérvia não considera que este seja apenas um "erro de julgamento" e a primeira-ministra Ana Brnabic já avisou que a atitude de Djokovic representa desrespeito pelas normas de combate à pandemia de covid-19, e que isso constitui uma “violação grave” das leis daquele país.
"Se uma pessoa está positiva, tem de se isolar. Não sei quando [Djokovic] recebeu os resultados [do teste] e quando os viu. Trata-se de uma zona cinzenta à qual só Novak pode responder", disse a responsável governamental, em entrevista à BBC, frisando estar contra a decisão do tenista de não se vacinar.
O facto de ter violado a lei ao quebrar o isolamento sabendo que estava infetado com COVID-19 coloca Djokovic em risco de prisão na Sérvia até três anos.
Recorde-se que o tenista, número um mundial, aterrou no aeroporto de Melbourne na quarta-feira da semana passada à noite para participar no Open da Austrália, que decorre de 17 a 30 de janeiro.
Após a chegada, as autoridades de imigração revogaram o visto por, alegadamente, não ter cumprido os requisitos de entrada que procuram prevenir a propagação da covid-19 no país, apesar de uma isenção médica que lhe permitia entrar no país sem vacinação.
O tenista ficou isolado até segunda-feira num hotel destinado a requerentes de asilo em condições que a sua família denunciou como "desumanas".
A defesa de Djokovic, que se opõe à imunização obrigatória contra a covid-19, alega que o sérvio recebeu uma avaliação por correio eletrónico do Departamento de Assuntos Internos australiano, na qual se indicava que este era elegível para entrar no país sem quarentena, embora o Governo de Camberra argumentasse que tal não constituía uma garantia.
O tenista foi, entretanto, libertado por um tribunal australiano, insistindo em disputar o Open da Austrália.
Após esta primeira decisão judicial favorável à sua libertação do centro de confinamento em Melbourne, Djokovic já está a treinar, mas pode vir a enfrentar nova decisão de cancelamento do visto e eventual deportação por parte do ministro australiano para a Imigração, Cidadania, Serviços de Fronteiras e Assuntos Multiculturais, Alex Hawke.
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