"Está muito sólido. Tenho descido até às bases e notamos essa força desde as aldeias até ao nível nacional. Não é apenas o Comité Central que está muito sólido, mas são todas as estruturas", disse Mari Alkatiri em entrevista à Lusa.

Alkatiri explica que "pela primeira vez na vida", durante a pré-campanha e a campanha, desceu até às aldeias e ainda mais "até às knuas" -- as estruturas bases tradicionais da organização do país.

Uma oportunidade "para perceber melhor o porquê de o povo estar ainda a sofrer, com uma taxa de subnutrição e de pobreza tão elevada, depois de termos gastos 16 mil milhões de dólares nos últimos anos, sem contar os apoios internacionais".

Um processo que permitiu avaliar melhor as necessidades no terreno e, ao mesmo tempo, fortalecer a própria estrutura do partido, com unidades nas aldeias e células nas knuas (tribos).

"Temos que identificar líderes naturais no seio do povo. Isso é muito importante porque eles e elas é que vivem com a comunidade, que melhor a conhecem", refere.

"Mobilização sem organização é só festa. A mobilização com organização é a realidade e isto é a diferença entre o que fazemos agora e o que os outros fazem, especialmente o CNRT", considerou.

Apesar de a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) se apresentar sozinha -- como o tem feito, aliás, desde as primeiras eleições para Assembleia Constituinte -, o partido assinou um acordo de plataforma política com os seus atuais parceiros no Governo, o Partido Libertação Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

PLP e KHUNTO estão no Governo por terem feito parte de uma coligação pré-eleitoral Aliança de Mudança para o Progresso, AMP) com o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) que venceu as antecipadas de 2018 com maioria absoluta.

A saída do CNRT do Governo levou à entrada da Fretilin que o viabilizou e permitiu que terminasse o mandato.

"Se a posição da plataforma que temos hoje se mantiver depois das eleições, quer queiram quer não, governamos em termos percentuais. Isso não vai acontecer, haverá quem suba, quem desça e quem se mantenha. Mas a Fretilin vai subir e compensará qualquer um deles, no caso de descerem", disse.

Mais do que isso, porém, Alkatiri refere que a plataforma foi uma base que existe desde 2020, mas que ao longo da governação contou com o apoio de outros partidos, o que "mostra que há sensibilidade e uma real vontade de cooperar" na governação.

"Se houver mais partidos, menos votados, mas com representação no parlamento, temos que os saber incluir. E iria mais longe ainda, para dizer que o ideal seria um entendimento com o CNRT para se poderem corrigir algumas medidas tomadas até agora, incoerentes e inconsistentes", disse.

Questionado sobre que avaliação faz do trabalho da plataforma na governação, Alkatiri recorda que a plataforma liderou o país em momentos "muito difíceis", como a pandemia da covid-19 e desastres naturais.

"Não é fácil gerir um governo de três partidos, de tantos membros, numa situação dessas. Mas no essencial, para servir o povo, serviu-se bem e mesmo na pandemia. Timor-Leste foi dos países menos afetados em termos de óbitos e isso significa que houve um esforço para servir" a população, afirmou.

Sobre se assumirá o cargo de primeiro-ministro, se a plataforma tiver maioria para governar, Alkatiri recordou as mudanças nos estatutos da Fretilin, eliminando a determinação de que o secretário-geral tem de ser o indigitado para chefe do Governo.

"Agora, depois das eleições a Comissão Política Nacional (CPN) é que vai decidir e indigitar o primeiro-ministro. Naturalmente que será uma pessoa da Fretilin", disse.

Alkatiri recordou que no cenário do atual Governo, a Fretilin apenas viabilizou o executivo, liderado por Taur Matan Ruak (PLP) e que não podia "entrar na casa dos outros e ir ocupar o quarto principal", sendo que uma troca de líderes representaria um novo Governo.

"Como disse o próprio presidente do PLP, eu fiz tudo para haver equilíbrio, não quis intervir no processo de governação em si. Sempre que havia consultas à minha pessoa, dei opiniões e debati opções", disse.

Alkatiri rejeita que a decisão de viabilizar o atual Governo tenha tido um custo interno para o partido, nomeadamente dos que "pensavam que iria dar força a outro grupo de oposição interna para tomar o poder" no partido.

Alkatiri explica que se está num momento "de virar de página", com mudanças nas estruturas do partido e até nas listas dos deputados, com a permanência de alguns como "memória institucional".

O secretário-geral da Fretilin comentou igualmente alterações na lista de candidatos a deputados, em particular a 'descida' de 16 para um lugar não elegível de Natalino Guterres, uma das vozes mais reconhecidas da comunidade LGBTQI+ em Timor-Leste.

"Ele próprio achou que não devia estar tão destacado. Foi o pesar um pouco as sensibilidades todas e nada a ver com a pessoa em si. É uma questão ainda que não tem consenso a nível nacional", afirmou.

"Pessoalmente não me preocupo com isso. Defendo sempre tudo o que seja para reconhecer direitos às minorias. Porque eu também vim de minoria para ser maioria", considerou.

 

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