
Limitar o número de treinadores que um clube pode contratar numa temporada é uma das propostas de André Reis, candidato à liderança da Associação Nacional de Treinadores de Futebol (ANTF).
Em entrevista exclusiva ao SAPO Desporto, o candidato da Lista B às eleições do organismo, que se realizam no dia 31 de maio, diz que a ideia passa por obrigar os clubes a refletirem mais na altura de escolher uma equipa técnica para os seus projetos desportivos, acabando assim com a 'dança de cadeiras' que em nada prestigia a classe.
Clubes com limitação de treinadores contratados numa época
"Ao introduzirmos esta medida vamos colocar o ónus da contratação acertada no clube. Isto é, os clubes têm de começar a refletir sobre aquilo que querem verdadeiramente para o seu futebol. E se o que querem é um projeto desportivo consolidado e fundamentado, têm de contratar um treinador cujo perfil seja adequado ao projeto desportivo que querem representar", começou por explicar.
O homem que pretende dirigir os destinos da classe após 31 de maio quer "obrigar os clubes a ponderar melhor as suas contratações e os próprios despedimentos". A ideia traz consigo um conjunto de "medidas que protejam os treinadores" quando estes são despedidos, como a "regularizando a situação financeira com o treinador logo à partida".
"Não queremos limitar o exercício da profissão por parte do treinador, mas sim garantir que os critérios que levam à contratação dos treinadores são os critérios que verdadeiramente deveriam ser tidos em conta pelos clubes", explicou o candidato, admitindo, no entanto, que a proposta "carece de uma análise legal de base por questões constitucionais."
Outra das grandes ideias para este treinador, Licenciado em Direito e pós-graduado em Marketing e Gestão do Desporto, passa por acabar com os treinadores-adjuntos que 'vestem a pele' de treinador principal e dão instruções aos jogadores durante os jogos, porque o técnico principal não tem ainda a formação adequada para estar de pé no banco de suplentes e falar com os seus atletas.
Rúben Amorim, Silas e João Pereira passaram por isso no Sporting, Moreno também viveu a mesma situação quando treinava o Vitória Sport Clube.
André Reis explica que "se um clube entende que um treinador que tem o nível III tem conhecimentos suficientes para ser o treinador principal daquele clube, na primeira liga, e esse mesmo treinador corresponde ao projeto desportivo que o clube quer implementar", não cabe a Associação Nacional de Treinadores de Futebol decidir o contrário.
"Quem somos nós para impedir esse exercício da profissão? Não somos ninguém para limitar o exercício da profissão dos treinadores, nem a sua progressão na carreira", diz André Reis
A ideia, diz, choca com o que defende o outro candidato, Henrique Calisto.
"Temos de ser muito concretos e sinceros e olhar para os comentários que o candidato Henrique Calisto deu acerca desta proposta, que até fez uma analogia descabida com um condutor a conduzir sem carta quando interpelado pela polícia indica que não tem carta, mas o seu copiloto tem. Esta analogia, à partida, é falaciosa. Porque se olharmos para países mais desenvolvidos do que Portugal, como a Suíça ou os Estados Unidos da América, vemos que desde que o condutor se encontre em formação para obter o título de condução, pode efetivamente, sem ser titular de título de condução, conduzir, desde de acompanhado de alguém que tenha carta de condução", disse ao SAPO Desporto.
Para André Reis, é "ridículo ter um treinador-adjunto com o nível IV no banco, na linha, a dar indicações para o campo, que, a espaços, tem de olhar para o treinador principal e perguntar o que é que vai dizer a seguir".
O candidato da Lista B entende que os treinadores, mesmo que não tenham as qualificações necessárias para treinar em determinada competição, devem poder trabalhar, desde que concluam as suas formações enquanto trabalham.
Mais vagas para os curso UEFA A e Pro
André Reis quer ver mais vagas para os cursos de UEFA A e UEFA Pro e, para isso, espera que a Associação Nacional de Treinadores de Futebol seja capacitada para poder ministrar os cursos. O candidato admite que esta medida "requere negociação e diálogo com outras entidades como a FPF e IPDJ, até mesmo a UEFA".
O objetivo é acabar com a "discriminação clara de treinadores na admissão nos cursos". E deu dois exemplos.
"Para nós é incompreensível como é que um treinador que está a treinar na primeira liga, como é o caso do João Pereira do Casa Pia, ou como é que um treinador que nos últimos quatro anos foi três vezes campeão em Moçambique, como é o caso do Hélder Duarte, serem ultrapassados por treinadores que, na prática, só tiveram inscrições enquanto treinadores-adjuntos na primeira liga, mas que foram inscrições de fachada – que não estavam efetivamente integrados na equipa técnica, apenas faziam figura de corpo presente. Muitas das vezes nem sequer chegaram a estar na ficha de jogo", acusou.
Com o lema 'ANTF ao serviço de todos os Treinadores', André Reis, técnico de 37 anos, procura bater a Lista A, encabeçada por Henrique Calisto, cujo projeto acusa ser de continuidade e não de mudança.
Licenciado em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pós-graduado em Marketing e Gestão do Desporto pela Universidade Lusófona, André Reis trabalhou nos escalões de formação do Sporting, mais precisamente nos sub-14 e sub-15, além do cargo de observador técnico. Teve de emigrar para continuar a carreira de treinador.
Depois de passagens pela seleção de São Tomé e Príncipe e pelo futebol lituano, volta a Portugal com o objetivo de mudar a classe. O combate às dificuldades no acesso à formação é uma das suas bandeiras, ele que teve de se inscrever no estrangeiro para fazer o terceiro nível de treinador, depois de lhe terem sido fechadas as portas em Portugal.
Da sua lista constam nomes como Daúto Faquirá, proposto para vice-presidente da direção. Cristiana Teixeira, Roger Augusto e Roger Pinheiro são candidatos a vogais, e Rita Ribeiro concorre para vice-presidente da Mesa da Assembleia Geral. O mandatário judicial será o advogado Ricardo Henriques Tomás, antigo 'vice' do Sporting.
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