Face à qualidade exibida e a regularidade pontual dos dois líderes, antevi a 11 de Fevereiro que tudo indiciava que o “divórcio” entre o Benfica e o Porto se decidiria no jogo de ontem no Dragão. Contudo, até aqui muita coisa sucedeu. Os Dragões descolaram, após terem empatado com os Leões em Alvalade e afastaram-se ainda mais quando empataram na Madeira. O Benfica ficou com uma diferença de quatro pontos até três jornadas do fim, o que lhe possibilitava perder na Invicta.
Mas como em futebol tudo pode acontecer, as Águias inesperadamente empataram no seu campo com uma das equipas-sensação: o Estoril. A perda destes dois pontos condicionava o Benfica a não perder o jogo frente ao Porto. Mas quando já nada previa, perdeu-o no penúltimo minuto do tempo extra. Talvez este jogo tenha sido mesmo a partida decisiva quanto ao título. Talvez, porque o Porto tem uma deslocação a casa da outra equipa-sensação: Paços de Ferreira. O que mudou entre estes rivais foi a dependência. Antes o Benfica só dependia dele próprio e agora é o Porto que está nessa situação.
Jesus disse que iria ao Porto para ganhar e sairia de lá campeão. Esteve longe da vitória, mas o empate, o qual era mais que garante para vir a ser campeão, ficou a um minuto desse desiderato. Contudo, dar a iniciativa e o domínio aos azuis e brancos foi um risco, pois a equipa ficava e expunha-se a qualquer lance atacante. Por outro lado, esta estratégia era à medida do futebol que o Porto faz. Ter muita posse de bola.
É verdade que o Porto teve mais tempo a bola (62%), mas isso não serve de nada porque jogar lentamente para os lados e para trás não cria oportunidades de golo. Aliás, além dos golos não sucederam mais ocasiões, a não ser a de James, o qual estava fora de jogo. Os dois primeiros foram esquisitos, e surgiram em sequência de ressaltos e o da vitória foi um excelente remate, mas Artur estava muito mal colocado.
Este plano tinha uma ideia que até ia resultando. Jesus apresentou um Benfica cauteloso e temos de concluir que esteve quase perfeito a defender. Todavia, esta tendência cortou-lhe a agressividade atacante. O Benfica tem uma filosofia de futebol ofensivo, a qual assusta os adversários e transforma essa virtude em domínio e vitórias concludentes. Por isso não pode, como fez ontem, ter unicamente a intenção de não perder o jogo.
Quem esperava ver um bom futebol ficou de certa forma dececionado. Aguardava-se um Benfica mais audaz e destemido. O modelo defensivo do Benfica tirou brilho, espetacularidade e emoção ao seu habitual jogo. Foi um Benfica descaraterizado por inabitual. O Porto prometia, pois tinha estado rápido e excelente na Camacha, no qual Varela fez a sua melhor exibição da época e os colegas exibiram-se com uma leveza que já não se via há muito. Contudo, ontem não repetiram as jogadas rápidas nem a envolvência atacante que realizaram na Madeira.
O Benfica, depois de ter passado por uma fase menos conseguida, prometia, dado que perante os turcos esteve imparável e demolidor, que se apresentaria vigoroso neste final de época. Mas, perante o Estoril, e à exceção dos 15 minutos iniciais, voltou a apresentar um ritmo monocórdico e agora no Dragão faltou-lhe vigor e ideias nos lances de contra-ataque.
Das três equipas a melhor, aquela que esteve ao seu elevado nível foi a de arbitragem. Muito se especulou com a nomeação do melhor árbitro do mundo. Todos os interessados mudaram o discurso. Aliás, ou por cinismo ou por hipocrisia ninguém tinha razão de queixa de Pedro Proença. Ainda bem que se conclui que os árbitros são humanos e também se enganam. Ontem só se enganaram ao deixar passar o fora de jogo a James.
Todos nós, portugueses, esperamos que o Benfica recupere física e animicamente de forma a conquistar a Liga Europa.
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