Anunciado como reforço do PSG para a nova temporada, João Neves deixa praticamente 60 milhões de euros nos cofres do Benfica, numa transferência que roçará os 70 milhões mediante o cumprimento de objetivos. Como não foram dados a conhecer esses mesmos objetivos e, portanto, não sei se são de fácil concretização, não os posso dar como garantidos, pelo que apenas consigo avaliar o negócio com base no preço fixo do mesmo.

Dito isto, tendo em conta os valores praticados atualmente no mercado, os 60 milhões de euros que o Benfica recebe com a saída de um dos seus melhores jogadores – se não mesmo o melhor – podem ser vistos como escassos. Não só pela importância que Neves ganhou, sobretudo, na última temporada na equipa de Roger Schmidt, mas também porque estamos a falar daquele que é um dos maiores talentos do futebol mundial na atualidade.

Uma análise subjetiva, mas que consigo sustentar com o segundo lugar que ocupava na mais recente atualização da lista do ‘Tuttosport’ para a conquista do prémio ‘Golden Boy’, que distingue o melhor futebolista com menos de 21 anos a atuar na Europa. À sua frente, apenas o campeão europeu Lamine Yamal, o que diz muito do crédito que Neves já foi capaz de arrecadar internacionalmente mesmo sem ter brilhado na Liga dos Campeões ou numa das grandes competições de seleções.

Consequentemente, percebo quem exigisse à direção do Benfica uma transferência mais avultada, e concordo que o clube poderia ter esticado um pouco mais a corda na mesa das negociações, obrigando o PSG a desembolsar mais alguns milhões para contratar o internacional português.

Na conjuntura atual do mercado – e aqui refiro-me ao que se tem passado nos últimos anos e não necessariamente na presente janela de transferências, que tem vivido dias mais tranquilos do que se previa -, o Benfica poderia, pelo menos teoricamente, ter feito melhor. Digo teoricamente, porque é sempre necessário que haja alguém do outro lado disposto a chegar às pretensões do clube vendedor. Logicamente.

Ainda assim, não posso deixar de realçar que o Benfica acabou de fazer uma venda de uma dimensão enorme, a sexta maior da sua história e a nona mais volumosa alguma vez realizada por um clube português, e isto por um atleta que apenas precisou de, sensivelmente, uma temporada e meia a jogar na equipa principal para se valorizar desta forma.

O problema, numa ótica de conseguirmos avaliar racionalmente a venda de Neves, é que, nos últimos anos, o Benfica habituou-nos a fazer ainda melhor. Basta olhar para João Félix e Enzo Fernández, que foram transferidos por mais do dobro – o português por 127 milhões de euros, e o argentino por 121 milhões. Mas essa não pode ser a bitola para as vendas de todos os jogadores jovens que o clube fizer daqui para a frente.

Os casos de Félix e Enzo devem, isso sim, ser vistos como especiais, daqueles que dificilmente se voltarão a concretizar. Até porque, e uma vez que gostaria de terminar com uma reflexão, será que algum jogador com provas dadas exclusivamente no campeonato português vale efetivamente 120 milhões de euros ou mais? Eu creio que não. Mas essa já é outra discussão.