A Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas (DGLAB) abriu um processo de classificação do arquivo do jornal A Bola, que é “particularmente significativo”, disse à agência Lusa o diretor-geral da DGLAB, Silvestre Lacerda.

“A fundação do jornal [em 1945] sempre constituiu uma escola de jornalismo com qualidade que não ficava só inerente ao desporto […] e há a questão da eventual venda a uma entidade estrangeira relativamente ao próprio jornal”, explicou.

O aviso de abertura do processo de classificação foi hoje publicado em Diário da República e destina-se à classificação do arquivo do desportivo A Bola (1945-2023) como bem arquivístico e fotográfico de interesse público.

Segundo o diretor-geral, a abertura de um processo representa já “uma proteção mínima” do arquivo, “nomeadamente para questões, por exemplo, de saída para o estrangeiro […], desmantelamento do arquivo e qualquer outro tipo [de ação] que não seja manter a integridade”.

Silvestre Lacerda revelou ainda que o pedido de classificação partiu do Comité Olímpico de Portugal, uma informação corroborada à Lusa pelo subdiretor d’A Bola, Alexandre Pereira.

“Procurámos o Comité Olímpico para saber como poderíamos resolver o problema”, disse Alexandre Pereira, esclarecendo que o pedido de classificação foi uma ideia conjunta do jornal com aquela entidade.

O pedido de classificação surge meses depois de o grupo suíço Ringier Sports Media Group ter comprado, em 2023, o histórico jornal desportivo, incluindo o arquivo.

A redação do jornal foi transferida de um edifício no Bairro Alto para as Torres de Lisboa, mas o arquivo permanece depositado na antiga sede, onde não há atualmente qualquer pessoa a trabalhar na documentação, referiu Alexandre Pereira.

“No novo espaço não há espaço físico para o arquivo, que ainda continua na Travessa da Queimada [no Bairro Alto]. É a última coisa que lá está da atual Bola e vai estar até que arranjemos uma solução de espaço, de acondicionamento e preservação”, disse.

Segundo Alexandre Pereira, o pedido de classificação poderá alavancar uma solução para cuidar o arquivo.

“Pela importância que atribuímos ao arquivo, sobretudo fotográfico, entendemos que era importante ter umas parcerias no sentido de cuidar do arquivo. Isto radica num problema de espaço”, sublinhou.

Sobre o arquivo d’A Bola, que inclui milhões de negativos e fotografias, livros, jornais e inclusive o arquivo da revista desportiva Stadium, fundada nos anos 1930, Alexandre Pereira disse que “é rico e que tem estado bem guardado”.

“Não estará eventualmente conforme às normas de classificação e tínhamos interesse que fosse tratado por alguém que perceba mesmo do assunto, alguém de arquivística e documentalismo, porque queremos que seja útil para a sociedade, para a comunidade”, afirmou.

Alexandre Pereira disse que a retirada do arquivo da antiga sede “é uma urgência” e que estão à procura de alternativas, mas não tem qualquer informação de data de saída do Bairro Alto.