O ciclone Freddy levou, há um ano, destruição a Quelimane, que ainda hoje continua por recuperar, nomeadamente no desporto, com a agora Cidade Africana do Desporto sem gimnodesportivos cobertos.

“Temos cerca de dez instalações desportivas que ficaram completamente afetadas, que deixaram de servir para os propósitos a que estavam destinadas”, começou por explicar à Lusa o presidente da autarquia de Quelimane, capital da província da Zambézia.

Aquele ciclone entrou em terra, em Moçambique, em 24 de fevereiro de 2023, na província de Inhambane, num rasto de destruição que se repetiu na segunda passagem, dias depois, em 12 de março, ao atingir Quelimane, mais a norte.

Com 350 mil habitantes, a cidade viu telhados e coberturas de pavilhões desportivos voar e paredes a ruir, sem apoio oficial para a recuperação desde então, já que a prioridade do município foi para os restantes edifícios públicos.

“Cem milhões de meticais [1,4 milhão de euros], no mínimo”, estima Manuel de Araújo, sobre o montante necessário para reabilitar o parque desportivo coberto da cidade.

Aquele município já é conhecido há vários anos como a capital da bicicleta em Moçambique e o autarca recebeu em 07 de dezembro, em Bruxelas, o título, para Quelimane, de Cidade Africana do Desporto 2024, pela Associação das Cidades Europeias do Desporto (ACES Europe).

Trata-se da primeira vez que a organização com sede em Bruxelas, que conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) e que gere estas candidaturas a nível global para promover e incentivar o desporto, atribui este título a uma cidade africana.

Ao longo de todo o ano, Quelimane vai colocar uma modalidade em destaque todos os meses, mas sem espaços condignos cobertos, apesar de Araújo reconhecer o esforço das entidades privadas neste processo de reconstrução nos últimos meses: “A cidade, neste momento, em termos de infraestruturas para a prática do desporto, está reduzida ao seu mínimo”.

E um ano depois do ciclone, Manuel de Araújo contou que há pavilhões em Quelimane que necessitam ser reconstruídos do zero, do piso às paredes, passando pelas coberturas.

Por isso, na Cidade Africana do Desporto em 2024, os mais jovens praticam desporto apenas ao ar livre e nos “minúsculos campos que não ficaram afetados”.

“Neste momento não temos nenhum [gimnodesportivo coberto] a funcionar”, lamentou.

Manuel de Araújo recordou ainda que o Governo chegou a anunciar que estavam reservados 400 milhões de meticais (5,7 milhões de euros) para acudir aos efeitos da passagem do ciclone, mas que desse valor pouco chegou a Quelimane, além da recente manifestação de instalação de um escritório da estrutura central estatal que trata de reabilitação das áreas atingidas.

O ciclone Freddy chegou a registar rajadas de vento de até 213 quilómetros por hora, e chuvas fortes, afetando as províncias de Zambézia, Sofala, Nampula e Manica.

Provocou, segundo o Governo moçambicano, 165 mortos e 511 feridos, afetou 886.487 pessoas e levou ao deslocamento de outras 98.975, tendo destruído por completo 103.101 casas.

Há ainda registo de 85 unidades sanitárias destruídas parcialmente, 2.549 salas de aulas destruídas, afetando 230.329 alunos e 4.337 professores, bem como 5.059 quilómetros de estradas afetadas e 347.862 hectares de área de cultivo.