
O ex-presidente da federação espanhola de futebol Luis Rubiales foi hoje condenado a pagar uma multa de 10.800 euros por agressão sexual à jogadora Jenni Hermoso, por a ter beijado sem consentimento na final do Mundial2023.
Segundo a sentença do juiz da Audiência Nacional José Manuel Fernández-Prieto, Luis Rubiales foi condenado pelo delito de agressão sexual e tem de pagar uma multa equivalente a 20 euros diários durante 18 meses.
Além disso, Rubiales fica proibido, durante um ano, de comunicar com Jenni Hermoso e de se aproximar a menos de 200 metros da futebolista.
Luis Rubiales foi julgado por agressão sexual por causa do beijo a Jenni Hermoso no Estádio de Sydney, em agosto de 2023, no momento em que as jogadoras da seleção de Espanha eram felicitadas por diversas autoridades e recebiam as medalhas de campeãs do mundo, título que acabavam conquistar.
Foi ainda julgado por coerção, juntamente com o ex-diretor da seleção masculina de Espanha Albert Luque, o então selecionador Jorge Vilda e o antigo diretor de marketing da federação Ruben Rivera, por alegadas pressões sobre a jogadora nos dias seguintes ao beijo, para que fizesse declarações públicas a desvalorizar o ocorrido em Sydney, naquilo que a acusação considera ter sido uma tentativa de desculpar Rubiales.
O juiz absolveu os quatro arguidos do crime de coerção.
O Ministério Público pedia dois anos e meio de prisão para o antigo presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF).
"Foi um beijo não consentido. Penso que, após o exame, não há dúvida nenhuma", disse a procuradora Marta Durántez Gil nas alegações finais do julgamento.
A procuradora destacou a "total coerência" de Jenni Hermoso entre o que contou e o seu comportamento "imediato e posterior" ao beijo, e condenou que, em 2025, se continue a questionar "vítimas de agressão sexual por celebrarem ou se rirem", numa referência aos vídeos da celebração da vitória de Espanha no Mundial de 2023, na Austrália.
“Ela tinha sentimentos contraditórios, queria passar despercebida, que tudo isto não se reduzisse a um beijo não consentido, mas ao triunfo da seleção espanhola. Será que ela é menos vítima por isso?", acrescentou.
Já a defesa de Luis Rubiales tinha pedido a absolvição do ex-presidente da RFEF, admitindo que pode ter tido um comportamento inadequado, mas nunca criminoso.
"Não podemos confundir o pecado e o delito, ou seja, o social e moralmente reprovável com o penalmente condenável", disse a advogada de Rubiales nas alegações finais do julgamento.
A advogada Olga Tabau Martínez considerou que ficou provado que Jenni Hermoso deu consentimento a Luis Rubiales para a beijar e que, apesar de nos mesmos vídeos a jogadora comentar com as colegas de seleção que não gostou do beijo, isso "não é incompatível com tê-lo consentido".
"Pode não ter gostado do próprio contacto físico nesse palco ou a repercussão imediata que o beijo teve em Espanha e noutras partes do mundo (...), mas isso não invalida o consentimento, nem transforma essa conduta [de Rubiales] num delito", acrescentou a advogada, que realçou ainda a atitude de celebração e a alegria que mostrava Jenni Hermoso nas imagens após o beijo.
Quanto ao advogado que representa Jenni Hermoso considerou, nas alegações finais, que Luis Rubiales nunca deveria ter beijado a jogadora, mesmo que lhe tivesse pedido consentimento, atendendo à sua superioridade hierárquica.
"Não estamos perante um consentimento, estamos perante uma subjugação", disse o advogado Ángel Chavarría, que disse não haver qualquer prova de que Jenni Hermoso tenha concordado com o beijo e que a jogadora, a quem Rubiales agarrou a cabeça, "não tinha possibilidade de escapar".
Rubiales deixou a presidência da RFEF em 10 de setembro de 2023 na sequência deste caso e, semanas mais tarde, em 30 de outubro, a FIFA suspendeu-o de todas as atividades relacionadas com futebol.
Este caso acabou por ditar e precipitar a queda de Rubiales à frente da RFEF, cargo que ocupou entre maio de 2018 e setembro de 2023 e cuja gestão está sob suspeita por alegada corrupção em vários contratos que a justiça espanhola está a investigar.
Quanto a Jenni Hermoso, o caso transformou-a, assim como às restantes jogadoras da seleção espanhola, num símbolo da luta contra o sexismo e a desigualdade de género no desporto.
As jogadoras, que se indignaram por o beijo de Rubiales ter eclipsado o triunfo de Espanha no Mundial de 2023, uniram-se no apoio a Hermoso e chegaram a fazer greve para denunciar violências machistas, discriminação e desigualdade de tratamento entre as seleções masculina e feminina.
O 'hasgtah' #SeAcabo ("acabou-se"), que as jogadoras lançaram nas redes sociais na altura, tornou-se também ele em Espanha num movimento pela igualdade de género e contra o machismo e a violência sexual.
*artigo atualizado às 16h05
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