As lesões musculares e nas articulações, mas também problemas de postura, de fadiga ocular e de saúde mental são as mais frequentes para jogadores profissionais de esports, onde o cuidado e precaução assumem um papel essencial.

Com a evolução da indústria e a sua crescente profissionalização, sobretudo no estrangeiro, mas também em algumas equipas dos principais videojogos (como o FIFA, League of Legends ou Counter Strike: Global Offensive), em Portugal, a preparação física e mental, bem como as lesões que podem terminar uma carreira, ganha maior importância.

Segundo a fisioterapeuta Marta Casaca, que trabalha como apresentadora, entrevistadora ou gestora de análise em várias competições nacionais, de vários videojogos, “Portugal não trabalha muito na prevenção”, não só nos esports como também nos desportos ditos tradicionais.

“Noutros países, há ginásios e rotinas, alimentares e desportivas, e têm acesso a fisioterapia para alguma eventual lesão. (...) Há muita coisa nos esports que já se tem vindo a desenvolver, mas ainda é uma área muito embrionária. A saúde, então, é ainda mais”, comenta, em declarações à Lusa.

Assim, desta profissão surgem “riscos associados” a “estar muito tempo sentado em posturas incorretas”, criando “uma envolvência a nível postural que leva a lesões musculares, também a própria fraqueza muscular”.

“Também sabemos que há muitas lesões que surgem por posições mantidas, e por movimentos repetitivos, principalmente a nível do punho, dedos, antebraço e cotovelo”, refere.

A enfermeira Sofia Andrade, que exerce funções como árbitra na Liga Portuguesa de League of Legends, entre outras funções que foi cumprindo desde os “12 ou 13 anos”, quando se envolveu com os esports, concorda que a prática de desportos virtuais trazem problemas sobretudo “a nível articular e muscular”.

Em junho, o chinês Jian Zihao, conhecido como ‘Uzi’ em League of Legends, anunciou a retirada dos esports profissionais após vários problemas de saúde, o último dos quais uma série de lesões no pulso que o impedem de jogar, um caso mais mediático entre centenas de jovens que são forçados a abdicar do ‘sonho’ de fazer carreira profissional.

Nascido em 1997, Zihao utilizou a rede social chinesa Weibo para anunciar outros problemas de saúde: “stress crónico, obesidade, dieta irregular e diabetes de tipo 2”, além de uma outra lesão numa mão, acumulados “ao longo de oito anos de treino de alta intensidade”.

Com tendinopatias como lesões mais comuns, além de síndromes do túnel cárpico, a “tensão muscular acumulada e alterações a nível postural na coluna”, aponta Marta Casaca, outros problemas vão de calos e outros problemas no pulso que podem mesmo levar a que um jogador “não participe numa competição”, completa Sofia Andrade.

A enfermeira lembra ainda um “problema bastante comum que é a fadiga ocular”, além de que a luz azul emitida pelos monitores “mantém-nos mais despertos”, podendo levar “a ansiedade”.

Também “os hábitos alimentares”, nem sempre cuidados quando muitos destes jovens passam mais de oito horas ao computador, entre treinos, as transmissões de sessões de jogo e competições, podem contribuir para problemas a médio e longo prazo.

Para Marta Casaca, “seria vantajoso para as organizações apostarem na prevenção” para proteger “as ferramentas de trabalho dos jogadores”, surgindo “uma envolvência” entre equipas e jogadores que levasse a “uma preparação, um aquecimento geral dos punhos, mãos, dedos, antes de jogar, mesmo alguns alongamentos”, que podiam “prevenir lesões a longo prazo”.

“Agora são novinhos, mas quanto mais tempo passa... Até com o ‘setup’ onde jogam, ou seja, onde está o computador, a altura da cadeira, etc, tudo isto são estratégias de prevenção mínimas, que ajudam a longo prazo a que o jogador se mantenha mais saudável, e também a que tenha uma melhor performance”, destaca a fisioterapeuta.

Também a questão da saúde mental merece atenção, com várias equipas, em Portugal, a disponibilizar um psicólogo, uma vez que, na opinião de Sofia Andrade, “para pessoas com problemas de ansiedade e depressão” os jogos podem ajudar, mas piorar “a longo prazo”.

Por outro lado, “pessoas sem esses problemas podem ficar mais ansiosas”, mais irritadas, num setor populado sobretudo por jovens adolescentes e jovens adultos, surgindo cada vez mais “jogadores que se afastam, acaba por ser demais para eles.

“Aqui competem uns com os outros como em qualquer emprego. Se és bom vão buscar-te, se não ficas para trás. Acontece muito na comunidade portuguesa [de League of Legends]”, atira a enfermeira.